Para diversificar sua receita, o grupo Petrópolis vende de refrigerantes até o excedente de energia de suas fábricas
O setor cervejeiro tomou um verdadeiro porre no primeiro semestre de 2013. As vendas do líquido dourado caíram 1,8% no período, a primeira queda em dez anos. As razões para a ressaca são diversas. Algumas delas têm caráter episódico, como o fato de o Carnaval ter sido muito próximo do Ano Novo, sem dar tempo para os consumidores recomporem as suas economias e gastarem mais com viagens e diversão à base de bebidas alcoólicas. O que também prejudicou o setor foram as temperaturas no verão deste ano, mais baixas do que o normal. Outros motivos são mais duradouros, como a aprovação de punições mais rigorosas para quem dirige depois de beber. O grupo Petrópolis resolveu não chorar a bebida derramada.
A companhia, a segunda maior em vendas de cerveja do Brasil, com uma fatia de 11,3% do mercado, vem apostando na diversificação para reduzir a redução das vendas do seu negócio principal. Neste ano, 30% do faturamento do grupo, que deve chegar a R$ 10 bilhões neste ano, virá de outras áreas que não a da venda de cerveja. Algumas fontes de receita são pouco usuais, como a venda de energia elétrica excedente que produz para abastecer as suas fábricas. Explica-se: em 2011, a Petrópolis comprou, por um valor não revelado, 50% do grupo paranaense Electra, dono das empresas Electra Energy e Electra Power, que operam pequenas centrais hidrelétricas (PCHs).
Com isso, ganhou clientes do porte de Danone, Rhodia, Marcopolo e Walita. Em outra frente, a companhia passou a fazer negócios com a também paranaense Imcopa, produtora de derivados de soja não transgênica. A cervejaria compra soja do parceiro para produzir e exportar lectina, proteína usada na fabricação de maionese, chocolate em pó, margarina, sorvete, biscoito e até tintas e suplementos alimentares. A diversificação do grupo acontece, também, no setor de bebidas. Atualmente, a maior parte da sua receita vem das cervejas Itaipava, Crystal, Lokal, Petra e Black Princess. Mas isso é algo que deve mudar.
No fim de 2012, a Petrópolis lançou o isotônico Ironage, para competir com o Gatorade, da Pepsico. Já o energético TNT Energy Drink, que concorre com o austríaco Red Bull, se aproxima dos 30% de participação no mercado brasileiro, com uma receita de R$ 150 milhões. Os planos são de internacionalizar a marca. O TNT já está sendo vendido na Alemanha desde maio. Há também contratos fechados para o Oriente Médio. A Petrópolis negocia ainda com distribuidores de Portugal, Espanha, Japão e Austrália. “Depois que o TNT passou a patrocinar a equipe Ferrari, de Fórmula 1, muitos distribuidores estrangeiros se interessaram pelo produto”, afirma Douglas Costa, diretor de mercado da cervejaria.
A negociação mais importante, porém, acontece para colocar o TNT na gigante rede americana de varejo Target, que fatura mais de US$ 70 bilhões e possui 1,8 mil pontos nos Estados Unidos e no Canadá. O mercado de refrigerantes é outro que está no alvo da Petrópolis. Ela acaba de fechar a compra da marca de refrigerantes It!, de Atibaia, no interior de São Paulo. Trata-se de um negócio pequeno, que faturava R$ 5 milhões. Sua distribuição limitava-se a consumidores localizados num raio de 300 quilômetros. “Vamos ampliar a distribuição e trabalhar de forma agressiva com a marca no próximo ano”, diz Costa.
“O Brasil já teve 800 fabricantes de refrigerantes, mas hoje Coca-Cola, Pepsi e a Antarctica lideram com força e não existe um segundo escalão estabelecido.” A Petrópolis deve posicionar a It! em uma faixa de preços abaixo da Pepsi, mas acima da Dolly. A marca começará sendo vendida em bares e restaurantes. Só depois chegará às cadeias de varejo, um mercado que exige um sacrifício maior da rentabilidade. Competir nesse setor, porém, não será fácil. “Devido ao aumento da preocupação das pessoas com a saúde, os refrigerantes têm sofrido com a concorrência das bebidas à base de soja, dos sucos em caixa e de outras bebidas light”, afirma Laís Cristina Soares, analista da consultoria Lafis.
E quanto à cerveja? Mesmo em um ano em que a expectativa é de estagnação, há bons prognósticos. “O mercado brasileiro de cervejas é o terceiro maior do mundo em produção, mas apenas o 26o em consumo per capita”, diz Laís. “Haverá crescimento nos próximos anos.” Em 2014, a Petrópolis vai inaugurar uma fábrica da bebida em Alagoinhas, na Bahia. A unidade recebeu investimentos de R$ 500 milhões. O objetivo é ganhar mercado no Nordeste, região dominada pela Ambev e pela japonesa Brasil Kirin, dona da Schin. Afinal, mesmo que o bolo de negócios da Petrópolis esteja cada vez maior, a cerveja ainda é o seu principal fermento.
Veículo: Isto É Dinheiro