Em um momento de arrumação da casa para a economia brasileira, a cervejaria teve o maior lucro de sua história em 2012. Conheça sua fórmula do sucesso
Para a maioria dos brasileiros, a Ambev é uma fábrica de cerveja que produz as marcas mais consumidas do País, como a Skol, a Brahma e a Antarctica. Para os analistas financeiros, a maior cervejaria da América Latina é uma fantástica máquina de fazer dinheiro. Os números dos últimos dez anos comprovam isso. Sua receita líquida saltou de R$ 8,7 bilhões, em 2003, para R$ 32,2 bilhões, no ano passado, um crescimento de 270%. O lucro líquido aumentou 7,5 vezes, para R$ 10,5 bilhões, o maior de sua história. Quem tivesse investido R$ 1 milhão em ações da empresa, controlada pelo grupo belga-brasileiro AB InBev, o maior fabricante de cerveja do mundo, teria, em agosto de 2003, R$ 12,5 milhões.
Não bastasse isso, a Ambev é a cervejaria mais rentável do mundo. Sua margem de lucro bateu em 48,6%, o dobro da média do setor e 16 pontos percentuais acima da AB InBev. De cada real que fatura, a Ambev consegue quase 50 centavos de lucro. A companhia, resultado da fusão da Brahma com a Antarctica em 1999, é também a empresa mais valiosa do Brasil desde 2012, quando superou a Petrobras e a Vale – posto que mantém até hoje. No fim de agosto deste ano, seu valor girava em torno de R$ 250 bilhões. Por esse desempenho notável, a Ambev foi escolhida A Empresa do Ano pelo anuário AS MELHORES DA DINHEIRO, que circula junto com esta edição.
A fórmula de sucesso da companhia, comandada pelo executivo João Castro Neves, é baseada em regras simples, fáceis até de serem replicadas por seus concorrentes. Nenhum deles, no entanto, tem o rigor da Ambev, que as executa com uma disciplina quase militar todos os anos. Quatro pontos podem resumir o método de gestão da cervejaria: contrate os melhores, dê a eles metas ousadas, remunere generosamente os talentos e mantenha os custos sob controle. A insatisfação constante é outro traço da cultura cultivada pela Ambev: é preciso sempre fazer melhor e buscar metas e atingir resultados cada vez mais ambiciosos.
“Aqui a gente gosta de competir e de vencer”, afirma Castro Neves. “Não quero ser uma companhia de bonzinhos com meta mole, pois acredito que meta mole não leva a lugar algum.” Esse jeito Ambev de ser está sendo testado neste ano. De 2002 a 2012, o volume de produção no setor de cerveja cresceu, em média, 6% anualmente no Brasil. No entanto, pela primeira vez na década, o brasileiro está bebendo menos cerveja. No primeiro semestre, o consumo caiu 1,8%, de acordo com dados do Sistema de Controle de Produção de Bebidas, do governo federal. A Ambev enfrentou também uma queda inédita em seu volume de produção nos primeiros três meses deste ano, em torno de 8%.
Por isso mesmo, no segundo trimestre, a redução de apenas 0,4% nas vendas foi motivo de alívio para o mercado, que esperava um desempenho pior. A Ambev sabe que, desta vez, não há solução fácil. “Antigamente, bastava cortar custos”, afirma Castro Neves. “Neste ano, temos de vender mais.” A dona da Skol, a cerveja mais vendida no País, é claro, está fazendo a lição de casa e reduzindo as despesas. Mas desde março, quando ficaram visíveis as dificuldades de 2013, a companhia reviu seu plano de ação. A primeira medida foi apostar em novas embalagens para os mesmos produtos. Com isso, a garrafa retornável voltou com tudo. Dessa forma, o consumidor paga menos por litro.
As vendas do guaraná Antarctica, por exemplo, estão crescendo a dois dígitos com essa tática. A Skol, em sua versão litrão, segue essa mesma tendência de oferecer mais por menos. Outra aposta é a carta de cervejas premium, que conta com as marcas Budweiser, Bohemia, Original e Stella Artois. Há dois anos, elas representavam 4% da receita. Hoje, respondem por uma fatia de 6%. E elas custam mais caro que as cervejas convencionais. O investimento, estimado em R$ 3 bilhões neste ano, não será cortado. Razão: apesar das dificuldades deste ano, a Ambev está otimista em relação a 2014.
A Copa do Mundo de Futebol e as eleições presidenciais são eventos que devem contribuir para o aumento do consumo de cerveja. Há motivos para acreditar na recuperação do mercado. A Copa das Confederações, disputada em junho, significou uma venda adicional de 300 mil hectolitros para a Ambev, o equivalente a um aumento de 1,6% das suas vendas cervejas no segundo trimestre deste ano. Um estudo feito pela analista Catarina Pedrosa, do banco de investimento BES Securities, estima que a Ambev pode ter um aumento de 3,5% no volume de vendas de cervejas no próximo ano, por conta da Copa do Mundo.
Um ano para arrumar a casa
Há duas maneiras de analisar 2012. Uma delas observa apenas o PIB de 0,9%, um crescimento abaixo das expectativas e considerado mais do que sofrível pelos diversos agentes econômicos. A outra é que, a despeito disso, problemas estruturais e históricos da economia brasileira começaram a ser corrigidos, como a queda das taxas de juros e a redução do preço da energia para consumidores e indústria. Para as 1000 maiores empresas brasileiras, a receita cresceu 13,8% em 2012, quase 15 vezes acima da expansão da economia brasileira. Juntas, elas faturaram R$ 3,3 trilhões, o equivalente a 75,7% do PIB do ano passado. “As empresas brasileiras estão mais competitivas”, afirma o Ministro da Fazenda, Guido Mantega, em entrevista cuja íntegra pode ser lida no anuário AS MELHORES DA DINHEIRO, que está nas bancas. No ano passado, 420 empresas faturaram mais de R$ 1 bilhão.
Desse universo, 59 têm receitas superiores a R$ 10 bilhões. Duas delas estão acima de R$ 100 bilhões. Sozinha, a Petrobras, a maior empresa brasileira, fatura mais de R$ 200 bilhões – exatos R$ 281,3 bilhões. Além da Ambev, escolhida a Empresa do Ano, o anuário AS MELHORES DA DINHEIRO elegeu cinco corporações que se destacaram nas dimensões avaliadas. O frigorífico JBS ganhou na área de sustentabilidade financeira. A empresa de telefonia Oi foi a melhor em governança corporativa. O grupo de energia elétrica AES Brasil destacou-se em inovação e qualidade. A fabricante de calçados Alpargatas levou o troféu em recursos humanos. E, por fim, a Embraer sagrou-se campeã em responsabilidade social e meio ambiente.
Veículo: Isto É Dinheiro