Alan Clark, o diretor-presidente da SABMiller PLC, está sedento por novos negócios.
Dois anos depois que a segunda maior cervejaria do mundo em vendas gastou uns US$ 10 bilhões para comprar a australiana Foster Group Ltd., e em meio a uma onda de acordos bilionários que transformaram a indústria cervejeira global, Clark diz que há mais parcerias à vista.
A Ásia é um foco especial de negócios para a cervejaria do Reino Unido, que vende em todos os continentes, exceto na Antártida, e cujas marcas incluem Snow, na China, Peroni, na Itália, Castle, na África do Sul e Miller, nos Estados Unidos.
Agora que o consumo de cerveja está desacelerando, as aquisições são um caminho para aumentar as vendas. O volume de vendas da cerveja do tipo "lager" da SABMiller caiu 1% no primeiro trimestre fiscal da empresa, encerrado em junho, com o crescimento na América Latina e na África anulado pelas quedas na Europa e na América do Norte. A participação de cerca de 25% no mercado americano da MillerCoors, uma sociedade entre a SABMiller e a Molson Coors Brewing Co., também encolheu, em grande parte devido às dificuldades da marca Miller.
Clark, um sul-africano de 54 anos com doutorado em psicologia, assumiu a presidência executiva em abril. Ele conversou recentemente com o The Wall Street Journal sobre negócios e cerveja artesanal, entre outros temas. Trechos editados:
WSJ: Tivemos uma década de rápida consolidação na indústria cervejeira. Há espaço para mais?
Clark: Há muito espaço. As quatro principais cervejarias têm uma quota de 60% do volume global de cerveja. Isso significa que ainda há 40% de espaço livre. Se você olhar o mapa, o que se destaca é a Ásia, que é a menos consolidada. A Ásia é, sem dúvida, algo que devemos examinar bem de perto.
WSJ: Uma das vantagens que a SAB Miller vem tendo há muitos anos sobre as rivais é que vocês têm muito mais exposição aos países emergentes; mas houve uma desaceleração nesses mercados nos últimos anos. Esse é um grande desafio?
Clark: Não houve, na verdade, uma verdadeira desaceleração nos mercados emergentes no crescimento do volume de cerveja. Sempre há alguns altos e baixos e, mais recentemente, tivemos problemas com a desaceleração na China, por exemplo, que é um mercado muito grande para nós. Na América Latina, o problema tem sido, ultimamente, a instabilidade política e social. Mas no médio prazo, daqui para a frente, não estamos vendo nada que esteja mudando, ou que que vá mudar a trajetória de crescimento.
WSJ: Qual das suas marcas de cerveja tem o maior potencial mundialmente?
Clark: Como a cerveja é [uma bebida] local, ter um portfólio de marcas globais é muito útil, porque podemos pensar em quais marcas são apropriadas a quais mercados. A Miller Genuine Draft está indo especialmente bem na América Latina. Será que vai ter igual sucesso na África? Na Europa? Não tenho certeza. A Peroni é uma marca que vende muito bem no Reino Unido, nos EUA, na Austrália. Assim, podemos escolher.
WSJ: Nos EUA, o crescimento está nas pequenas marcas artesanais. Qual é o desafio para uma grande cervejaria entrar na área das artesanais, que depende de ser autêntico e local, o oposto de uma grande empresa?
Clark: Nós podemos acessar esse espaço. A Blue Moon [uma marca da MillerCoors] seria um bom exemplo. Algumas cervejas associadas às grandes fabricantes existem há bem mais de 100 anos. Se há histórias sobre a autenticidade ou a tradição de certas cervejas, nós com certeza as temos.
As pessoas são fascinadas pela cerveja, que de certa forma é uma arte, mas também é uma ciência. Nosso nível de capacidade e competência, eu diria, supera significativamente o das cervejarias artesanais. Se tentarmos reproduzir uma microcervejaria, seria um beco sem saída para nós, porque a economia [nessa escala] simplesmente não funcionaria.
WSJ: A cerveja light, ou de baixa caloria, teve uma alta notável nos EUA por três décadas, mas vem caindo nos últimos anos. Será que ela já passou do seu auge, ou ainda há espaço para crescimento?
Clark: Não creio que vamos recriar os níveis de crescimento que vimos nas décadas passadas. Na América Latina há, na verdade, uma forte tendência para a cerveja light, e [o mercado] está quase entrando numa fase em que os EUA estavam, talvez no início dos anos 80.
WSJ: O sr. vê alguma perspectiva de curto prazo para adquirir o controle majoritário das suas grandes parcerias nos EUA, China, Turquia e África?
Clark: Se um desses parceiros optar por sair, temos contratos que nos garantiriam o direito de fazer uma aquisição. Quanto a fusões e aquisições, estamos, na verdade, examinando [possibilidades] fora dessas estruturas, porque acreditamos que as parcerias têm nos dado posições sólidas nessas áreas geográficas.
Veículo: Valor Econômico