Do uísque de mel até a vodca à base de torta de abóbora, novos sabores ousados são o sucesso do momento da indústria mundial de bebidas.
O laboratório da Diageo PLC nessa cidade inglesa, que fabrica bebidas para a Europa e a África, fica meio escondido num edifício de escritórios comum. Lá dentro, porém, cientistas especializados em bebidas fazem experiências com pipetas, especiarias e líquidos coloridos. Os drinques criados nos últimos cinco anos representam a metade do crescimento das vendas da grande fabricante de bebidas nesse período. Cerca de 80% dos investimentos da empresa em inovação são direcionados para produtos lançados dentro do prazo de três anos.
"O tipo de opções que existiam nos refrigerantes e bebidas não alcoólicas há 20 anos é o que os consumidores esperam agora das bebidas alcoólicas", diz Denny Brooks, diretor de pesquisa tecnológica da Diageo.
Os "desenvolvedores de líquidos" da Diageo no Reino Unido levaram três anos, 839 formulações diferentes e a análise de 300 tipos de chocolate para criar o Baileys Chocolat Luxe, uma nova versão do creme de licor irlandês. O desenvolvedor Anthony Wilson diz que o chocolate exala seu verdadeiro aroma quando é triturado. "Precisamos levar esse aroma ao produto", diz ele.
A gigante de bebidas também criou recentemente o Snapp, uma cidra inspirada no champanhe direcionado especificamente às mulheres do Quênia e da Nigéria, e a marca de rum Shark Tooth, para o mercado russo.
As destiladoras veem nesse "comportamento de busca de novidade" do consumidor, seja por status ou pela emoção de provar algo novo, uma oportunidade de aumentar preços e dar impulso às vendas, diz Phil Barden, autor do livro "Decoded: The Science Behind Why We Buy" ("Decodificada: A ciência que há por trás das compras", em tradução livre).
"A psicologia do consumidor tem se mantido igual, mas hoje as expectativas podem ser diferentes. Nós provavelmente esperamos mais variedade", diz ele.
Ao mesmo tempo, nos Estados Unidos e em outros mercados há um boom de vodca saborizada. As variedades aromatizadas representam mais de um quinto do consumo de vodca, que responde por um terço dos destilados vendidos no país, segundo a Liberum Capital. As versões caramelo e bolo gelado da vodca Smirnoff ajudaram o lucro operacional da Diageo na América do Norte crescer 9% no ano encerrado em junho. Os sabores chantili e algodão doce contribuíram para um salto de 13% nas vendas do segundo trimestre da vodca Pinnacle, da Beam Inc.
No fim de 2012, a Beam, conhecida pelo bourbon Jim Bean, transferiu seus cientistas para um novo centro de inovações em Clermont, no Estado americano de Kentucky.
O diretor de marketing Kevin George diz que a Beam mais que triplicou a fabricação de novos produtos nos últimos anos. O objetivo é obter cerca de 25% do crescimento de vendas de médio prazo a partir da inovação. Um dos planos é aumentar as vendas para as mulheres de coquetéis prontos para beber. "Você já pode ir ao estádio e comprar uma garrafa de margarita [de baixo teor de calorias]. Isso não existia há dois anos", diz George.
Para revigorar as vendas, a Pernod Ricard SA lançou em todo o mundo, em 12 meses, cinco variedades do rum Malibu, feito de coco do Caribe, como o Malibu Red com tequila. "[Gerar] valor é, claramente, o grande objetivo", diz o diretor de marketing, Martin Riley.
Mesmo numa economia frágil, o consumidor americano está optando por produtos mais caros, com os destilados das linhas mais sofisticadas crescendo em volumes bem acima dos índices gerais, segundo analistas.
Nessas linhas sofisticadas, "é onde nós inovamos", diz Larry Schwartz, presidente da Diageo para a América do Norte. Experiências com vodca e uísque, como a Ciroc com sabor de amaretto e o bourbon Bulleit, envelhecido 10 anos, estão impulsionando o crescimento, acrescentou.
Só no ano passado, as inovações feitas pela Diageo na América do Norte nos últimos três anos geraram quase US$ 800 milhões em vendas. "Nós praticamente construímos um negócio de um bilhão de dólares nos últimos quatro anos e meio a partir das inovações nos EUA", diz Schwartz.
No laboratório, quanto mais original a ideia, melhor. Os inovadores da Pernod Ricard nos EUA lançaram novas variantes da vodca polonesa Oddka, incluindo "grama recém-cortada" e "eletricidade", que produz um formigamento na língua.
O ritmo da inovação "está se acelerando. Há muito mais projetos [agora] do que alguns anos atrás", diz Riley.
Riley diz que os consumidores continuam sendo os juízes do sucesso de uma marca. "Se temos uma boa ideia, nós a colocamos no mercado em uma forma limitada. Uma resposta imediata e positiva do consumidor então nos permite desenvolvê-la mais".
Veículo: Valor Econômico