Salton sonhava em exportar espumantes

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Nos últimos anos, enquanto valorização do real fazia com que os vinhos importados dominassem as gôndolas do País a preços acessíveis, Ângelo Salton Neto - ex-presidente da vinícola que leva o nome da família, falecido ontem, aos 56 anos, de um infarto fulminante - costumava reagir com bom humor à invasão estrangeira. "Nós vamos para a briga", dizia. Novos rótulos, com preços mais acessíveis, assim como total controle das despesas e dos custos de produção, eram estratégias do empresário, que sonhava com a popularização dos espumantes no Brasil e levar a marca da empresa para o mundo.

 

"Queremos que as pessoas bebam espumantes nas praias, por exemplo", costumava dizer. No final de 2007, Salton traçou um plano: exportaria o excesso da produção de espumantes para países como Alemanha, República Tcheca, Inglaterra e os Estados Unidos - onde já estava presente com os vinhos da empresa. Um ano depois, o empresário "comemorava o fracasso" do plano. "Não sobrou. O mercado interno consumiu tudo", contou, em meio a sonoras gargalhadas.

 

Na sala de seu escritório, na zona Norte de São Paulo, Salton costumava receber sem cerimônias. Seus documentos setoriais, muitos deles confidenciais, viravam públicos, e as estratégias da empresa eram passadas a limpo em entrevistas que se transformavam em animados bate-papos.

 

Em tempos de executivos treinados por assessorias de imprensa, uma entrevista com Salton se transformava em mais do que uma simples matéria. O executivo contava muito mais do que o que estava em pauta, sempre deixando claro sua dedicação total ao negócio da família. Muitas vezes sem papas na língua, já declarou que fora sondado por fundos de investimentos e grandes multinacionais para se desfazer do negócio, o que não passava por sua cabeça. "Isso aqui foi do meu pai. Não tem como vender", dizia.

 

Orgulhoso, comemorava o fato de ter rótulos vendidos em restaurantes famosos de São Paulo. No final do ano passado, quando a crise internacional já dava sinais de que não seria fraca, o empresário enviou um e-mail aos funcionários com o plano para enfrentar os dias piores que estavam por vir. "Só pedi o óbvio", afirmou, diante de uma lista de reponsabilidades.

 

Mesmo com o cenário cercado de incertezas, os planos do empresário eram ousados. As vendas de espumantes alcançariam 5 milhões de garrafas em 2008, ante 3,6 milhões de garrafas em 2007. A vinícola utiliza uvas de uma área de aproximadamente 800 hectares de parreiras na região de Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul.

 

Veículo: Gazeta Mercantil


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