Há um ano, Rick Jelovsek pagava regularmente US$ 20 por garrafa de vinho nos varejistas próximos a sua casa, em Johnson City, Tennessee. Depois que o declínio do mercado acionário apagou 20% do valor de suas contas de aposentadoria, começou a escolher garrafas na faixa dos US$ 12.
"Comprovo que estou diminuindo o preço e checo duas vezes se é um bom vinho ou se recebi alguma recomendação", diz o médico aposentado de 64 anos, que recentemente apreciou uma garrafa de vinho espanhol Borsao Tres Picos Garnacha, por menos de US$ 12.
Em Denver, os clientes "estão bebendo um pouco menos, com qualidade um pouco menor e preço um pouco menor", diz Clif Louis, dono da Vineyard Wine Shop, que vende principalmente vinhos de produção limitada. Nos últimos sete meses, suas vendas caíram 9%.
À medida que a recessão aperta, os adeptos de vinhos estão descobrindo boas opções a preços menores. O setor é menos vulnerável à desaceleração do que outros, embora as vendas totais da bebida nos Estados Unidos tenham sido as piores da década no ano passado, com crescimento de menos de 1%, em volume, segundo o consultor Jon Fredrikson, da Gomberg, Fredrikson & Associates. A desaceleração é mais grave nos restaurantes, onde as vendas de vinhos caíram de 10% a 12% em 2008, uma vez que os americanos passaram a jantar fora menos vezes.
Vinhos com preços moderados estão obtendo boas vendas. De acordo com a empresa de pesquisas de mercado Information Resources, que acompanha as compras de vinho em hipermercados, as vendas de garrafas na faixa de US$ 11 a US$ 20 subiram 8%, em dólar, no período de 52 semanas até 25 de janeiro. Em contraste, a venda de vinhos de mais de US$ 20, cresceu apenas 1,6%, em comparação aos dois períodos anteriores, quando foram registradas altas de 11% e 26%, respectivamente.
A ampla oferta de vinhos de qualidade entre US$ 10 e US$ 20 deixou alguns de alto padrão, como o caro Cabernet Sauvignon da Califórnia, acumulando poeira nas prateleiras. Ainda assim, os consumidores econômicos precisam ser seletivos. "Há grandes negócios na faixa entre US$ 10 e US$ 15", diz Lisette Sehlhorst, coproprietária da Wine Merchant, uma varejista de Cincinnati. "Também acho que há muitas porcarias nessa faixa."
Howard Silverman, dono da Howard´s Wine Cellar, em Chicago, diz que seu vinho tinto mais vendido é o 2007 Monte Oton, da Espanha, de US$ 7,29. O branco mais vendido é o espanhol 2007 Las Brisas Blanc, por US$ 9,99.
São evidências da mudança em direção a variedades mais baratos, como os Malbec da Argentina e os tintos da região da Rioja, na Espanha, à custa de produtos mais caros de outras regiões, como os vinhos franceses mais refinados, segundo negociantes de vinho e analistas do setor.
Também há boas ofertas de vinhos finos. Richard Rey, 45 anos, funcionário do setor de seguros, em Massachusetts, comprou recentemente por US$ 80 um Cabernet Sauvignon californiano em uma loja de vinhos local que normalmente sairia por US$ 100. O dono disse que não estava vendendo muito, então, "estava oferecendo estas ótimas compras".
Algumas pessoas cortaram totalmente o consumo. Jane Vawter, 45, da New Jersey, parou com os gastos com vinho após o fim de um lucrativo contrato de sua empresa de tecnologia. Nos bons tempos, disse, ela encomendava até vinhos "futuros" - aqueles vendidos anos antes de seu lançamento - de Bordeaux. "Neste momento, não estou comprando muito de nada", diz Vawter, que agora atende um contrato menos rentável.
Analistas e executivos do setor dizem que a mudança na demanda traz preocupação entre os produtores de vinhos de alto padrão e leva alguns a rever suas estratégias. Cameron Hughes, executivo-chefe da Cameron Hughes Wine, de San Francisco, que compra vinho excedente de produtores de alto padrão e o vende a preços mais barato sob seus próprios selos, diz conhecer vários vinicultores que buscam reestruturar seu modelo de negócios para oferecer vinhos de US$ 9 a US$ 12. "Uma mudança de maré" está a caminho, observa.
Na Jackson Family Wines, uma grande produtora de vinhos em Sonoma Valley, na Califórnia, as vendas da linha Kendall-Jackson, incluindo o Reserve Chardonnay de US$ 14, continuam bem, segundo Lenny Stein, presidente da Jackson Family Enterprises. Alguns vinhos mais finos, no entanto, apresentam vendas menores. Como resultado, a empresa reduziu recentemente seu pessoal. "Precisamos gerenciar agressivamente nossos custos, porque o futuro é menos previsível", diz Stein.
O tumulto econômico vem sendo uma dádiva para os grandes vinicultores que oferecem várias garrafas entre US$ 8 e US$ 15. Por exemplo, 15 dos 25 vinhos americanos cujas vendas mais aumentaram, em volume, nas lojas varejistas de alimentos no ano passado foram da E. & J. Gallo Winery, segundo Fredrikson. A Gallo, uma empresa de controle acionário concentrado com sede na Califórnia, não quis comentar o assunto.
No fim das contas, os varejistas admitem que podem conseguir alguns bons negócios para os clientes. Na Woodland Hills Wine, uma loja de vinhos da Califórnia, os funcionários responsáveis pelas compras estão recorrendo ao estoque do ano passado e comprando vinhos apenas seletivamente. "As pessoas estão respondendo (às ofertas) desde que saibam que estão conseguindo um bom preço."
Veículo: Valor Econômico