Em janeiro, pela 1ª vez o suco natural ficou à frente das exportações do concentrado em Araraquara
Levada pela mudança de comportamento do mercado europeu, principalmente, mas incentivada também pelos efeitos da crise econômica mundial, a indústria do suco de laranja em Araraquara, Matão e Bebedouro mudou seu perfil de comércio com o exterior.
Aos poucos, a venda do produto natural, com adição de água e com menos componentes artificiais, começa a substituir o suco concentrado, que é misturado a outros produtos nos países de origem. Segundo especialistas, a troca é gradual, mas pode ter sido acelerada nos últimos meses pela crise.
"É a tendência dos últimos tempos para tentar controlar uma queda de demanda pelo produto brasileiro, acentuada pela crise, mas que já vinha acontecendo", disse o diretor regional do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) em Araraquara, Airton Luís Bertochi.
A evolução da exportação do suco natural é registrada desde 2005, segundo os dados de exportação do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Porém, começou a tomar espaço do suco concentrado em 2008.
De 2007 para 2008, no acumulado do ano, a exportação do suco não concentrado cresceu de US$ 220 milhões para US$ 286 milhões -em 2005 o faturamento foi US$ 111 milhões-, somadas as três principais cidades exportadoras.
Apesar de ainda dominar em números absolutos, a movimentação pela comercialização com o exterior do produto mais artificial caiu de US$ 1 bilhão para US$ 888 milhões.
Em janeiro deste ano, pela primeira vez o produto natural ficou à frente das exportações em Araraquara, sede da Cutrale, maior produtora do mundo. Foram negociados US$ 21,4 milhões contra US$ 20,5 milhões no mesmo mês em 2008.
Já o concentrado, que rendeu venda de US$ 23,7 milhões em janeiro de 2008, caiu para apenas US$ 7,5 milhões no mês passado, uma baixa de 68%.
"Dois fatores levam à substituição, que ganha força agora. Primeiro, o consumidor passou a preferir o produto natural. Segundo, as margens de lucro são maiores. A única desvantagem é que o custo logístico é mais alto", disse Marcos Fava Neves, professor de estratégia da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto, da USP.
De acordo com Flávio Viegas, presidente da Associtrus (Associação dos Citricultores do Estado de São Paulo), o suco natural é vendido mais caro na Europa e nos EUA, principais importadores do suco brasileiro. Ele disse acreditar que, se a crise persistir, pode começar a interromper a tendência de alta do suco natural.
"É um produto mais caro e podemos começar a ver a volta da procura pelos mais baratos." Segundo ele, a tendência pode ser boa para produtores da região, que nos últimos anos perdeu espaço para as regiões sul e central do Estado.
A Folha procurou as empresas Cutrale, Citrosuco, Citrovita e Coinbra para comentar a tendência, mas todas informaram que não comentariam suas estratégias de mercado.
Veículo: Folha de S.Paulo