Lojas de vinhos conquistam Porto Alegre

Leia em 11min

Os gaúchos apreciadores de vinhos estão com motivos para comemorar. Os consumidores têm notado um aumento no número de estabelecimentos que vendem vinhos, crescimento este ligado à maior quantidade de pessoas que buscam produtos diferenciados. "Houve uma grande melhoria do conhecimento sobre o vinho, favorecido por cursos de empresas e lojas, divulgação por sociedades e confrarias, e isso criou uma tendência de evolução, o consumidor deixou de consumir vinhos de mesa para beber vinhos", explica Paulo Roberto Mazeron, presidente da Sociedade Brasileira dos Amigos do Vinho, que reúne apreciadores da bebida.

 

O consumo maior da bebida é confirmado pelos lojistas. De acordo com Fabiano Pereira da Silva, proprietário da Sommelier Vinhos, as análises de mercado indicam que, não só as previsões de vendas para os próximos cinco anos estão boas, mas o próprio perfil do consumidor também mudou. "Há alguns anos a média etária dos apreciadores de vinhos era de 30 anos para cima, hoje ela está entre 20 e 30 anos, ou seja, os clientes mais jovens começaram a beber vinho", analisa.

 

Fundada em junho de 2007, a Sommelier já entrou na competição para conquistar mercado, oferecendo cerca de 450 rótulos, a grande maioria importados. "Nosso foco está em produtos de Portugal, Espanha, Chile, Argentina, África do Sul e Austrália", aponta Pereira da Silva. No entanto, a empresa também oferece bebidas de produtores nacionais, inclusive realizando, aos sábados, lançamentos de novos vinhos com a presença de seus fabricantes.

 

Se buscar diferenças é essencial num mercado competitivo, a Enoteca Conte Freire inovou radicalmente. Criada em 2005, a empresa concilia a venda de vinhos com o produto original da loja, que são as roupas de grife. "Criamos isso após experiências em São Paulo e no exterior, e hoje já temos um espaço muito bom, somos respeitados e indicados", afirma o administrador da enoteca, Valmir Rech.
Contando atualmente com 1.108 rótulos de 13 países, a Conte Freire vem acumulando bons negócios em seus pouco mais de três anos de existência. "Em janeiro, por exemplo, que geralmente é um mês de vendas fracas, tivemos um crescimento de 64% em relação ao mesmo mês do ano passado, explica Rech. A experiência vem dando tão certo que a empresa abriu uma segunda enoteca dentro de sua loja de roupas no BarraShoppingSul.

 

No entanto, apesar de os vinhos importados serem o chamariz de muitas lojas da Capital, também há quem se destaque por valorizar o produto local. A Casa dos Vinhos, localizada no bairro Santa Cecília, é especializada em vinhos gaúchos, de diferentes regiões produtoras. "Viajo muito para o interior e descubro muitas vinícolas pequenas mas de grande qualidade", diz Ângela Maria Vendrame, proprietária da loja.

 

Apesar do forte consumo de importados nos últimos anos, motivado pelo câmbio desfavorável, Ângela acredita que o consumidor já está mais atento para a qualidade do produto nacional. Isso se reflete nas vendas da loja. "Quando começamos, a maior parte do que vendíamos eram vinhos coloniais, mas hoje o paladar dos fregueses está mais apurado, eles buscam um vinho mais elaborado."
Entre as novidades que a Casa dos Vinhos apresenta estão bebidas produzidas em regiões alternativas, como Casca, Encantando e Guaporé. Para a proprietária da loja, é fundamental escolher os produtores. "O Rio Grande do Sul tem cerca de 650 cantinas registradas, e nós procuramos fazer uma boa seleção, adquirindo os melhores produtos, mas também com variedade", lembra.

 

Champanharias agradam ao público da Capital

 

Uma bebida que definitivamente agradou ao paladar do consumidor gaúcho na última década foi o espumante. De acordo com o Ibravin, de 2001 para 2008, as vendas de espumantes gaúchos realizadas no Rio Grande do Sul tiveram um salto de 110%, alcançando os 2,55 milhões de litros no ano passado.

 

Isso reflete uma tendência nacional. Em todo o Brasil, a comercialização de vinhos espumantes produzidos no Estado somou 9,46 milhões de litros em 2008, um aumento de 10,5% na comparação com 2007, quando foram comercializados 8,56 milhões de litros. Esse crescimento já acontece há cinco anos consecutivos. Entre 2002 e 2008, a comercialização no mercado nacional sofreu um aumento de 120%. Já para 2009, o Ibravin projeta vendas 15% maiores.

 

Esse maior interesse na bebida provocou a instalação em Porto Alegre de um tipo de estabelecimento comum na Europa, especialmente na Espanha, as champanharias. A primeira a ser fundada no Brasil, em 2003, foi a Ovelha Negra. Localizada no Centro de Porto Alegre, em uma casa construída em 1920, sua inspiração foram bares similares em Barcelona. "Nossa ideia era fazer com que o hábito de beber espumante não ficasse apenas restrito a alguns eventos, como casamentos, festas de 15 anos e Ano-Novo", explica Marcelo Paes, um dos sócios-proprietários da champanharia. Além do potencial de consumo, outro fator que influenciou na abertura da casa foi a boa logística, uma vez que a principal região produtora da bebida, a Serra gaúcha, fica a pouco mais de 100 quilômetros de Porto Alegre.

 

Hoje, a Ovelha Negra oferece cerca de 50 rótulos, a grande maioria fabricados no Rio Grande do Sul. "A Serra gaúcha é um dos melhores locais do mundo para produção de espumantes, é difícil encontrar um produto ruim vindo de lá", afirma Paes. A casa possui capacidade para 130 pessoas, investindo em um público adulto jovem. O sucesso da experiência em Porto Alegre levou seus proprietários a expandir o negócio, abrindo uma filial no Rio de Janeiro, em 2005, e outra em São Paulo, em 2008.

 

Outro empreendimento que tem lucrado com as borbulhas é a D.O.C Champanharia e Risoteria, no bairro Bela Vista. Aberta há pouco mais de quatro anos, a casa, além de servir espumantes, oferece pratos da culinária italiana, especialmente risotos. De acordo com sua proprietária, a chefe de cozinha Fernanda Kaastrup Moreira, a ideia surgiu após sua experiência de morar na Itália, onde aprendeu o hábito de beber bons espumantes e vinhos. "Queria ter um local pequeno, relacionado a estas bebidas, mas onde também pudesse cozinhar", lembra Fernanda.
A D.O.C, que possui espaço para 48 pessoas, trabalha com cerca de 40 rótulos de espumantes em sua carta, a grande maioria também nacionais. "Antes as pessoas tinham medo de tomar por que era brasileiro, mas hoje sabem que nossa bebida não perde em nada para a maioria dos estrangeiros", diz.

 

Além disso, se o consumo de espumantes teve um incremento de cerca de 40% em sua loja desde a abertura, o interesse dos fregueses em obter informações sobre o produto também aumentou. "Antes as pessoas pensavam em espumante como algo para tomar nas festas de Ano-Novo, hoje já querem saber o tipo de uva usado, onde foi feito, se duas variedades são da mesma vinícola, entre outros detalhes", analisa.

 

Importados dominam o mercado brasileiro

 

O maior interesse dos consumidores por vinho não reflete no aumento da comercialização da bebida produzida no Rio Grande do Sul. Segundo pesquisa do Ibravin, o vinho gaúcho teve uma queda de 13% nas vendas do ano passado, somando 213,3 milhões de litros, contra 245,9 milhões de litros vendidos em 2007. Essa foi a terceira redução seguida no mercado. "O setor amargou dois duros golpes no ano passado, o câmbio desfavorável, com o dólar muito baixo, favorecendo a entrada dos importados a valores competitivos, e a instituição da Lei Seca, que retraiu o consumo", afirma Carlos Paviani, diretor executivo do Ibravin.

 

Em 2008, os importados representaram 69% do mercado de vinhos brasileiro. No total, o País importou 57 milhões de litros em 2008, enquanto os vinhos finos e espumantes nacionais representaram 27 milhões de litros.

 

Grande parte desses importados chegou ao País de forma ilegal. Segundo dados da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Viticultura, Vinhos e Derivados, entre 2007 e 2008, entraram no País cerca de 15 milhões de litros contrabandeados. "Só o Paraguai importa três vezes mais vinho do que o Brasil, com uma população muito menor do que a nossa. Isso é vendido ilegalmente", analisa Diego Bertolini, gerente de Marketing do Ibravin.

 

A competição com os produtos que entram de forma ilegal afeta fortemente os negócios dos importadores legais. Para Leocir Vanazzi, diretor comercial e de marketing da Vinhos do Mundo, a concorrência do produto que entra de forma ilegal é disseminada em Porto Alegre. "Muitas festas aqui são feitas com produtos vindos do Uruguai, através de verdadeiras quadrilhas que trazem vinhos pela metade do valor", aponta.

 

Mesmo assim, a empresa obteve bons resultados, graças à grande procura por importados. Desde sua fundação, em 1996, as vendas têm crescido de 10% a 15% ao ano. Hoje, a Vinhos do Mundo oferece cerca de mil rótulos em suas duas lojas, sendo que 95% deles são provenientes de 15 vinícolas estrangeiras. Já dentre os produtores nacionais, são oferecidas bebidas de algumas poucas vinícolas selecionadas, e apenas no varejo. E nem mesmo a crise parece mudar a tendência do consumidor de buscar produtos estrangeiros. "Reajustamos os preços em torno de 12,5%, mas os meses de janeiro e fevereiro foram bons", diz Vanazzi.

 

Outra importadora que está satisfeita com o interesse do público por produtos diferenciados é a Expand Wine Store. Com duas lojas na Capital, a empresa oferece de 800 a mil rótulos, provenientes de 13 países. Segundo seu proprietário, Rogério Concli da Silva, as vendas crescem desde a abertura da empresa, em 2002, graças aos trabalhos de divulgação e educação realizados, como cursos degustações temáticas, que têm o objetivo de desmitificar a ideia de que o vinho é uma bebida elitista. "O Brasil tem um grande potencial de crescimento no consumo de vinho, e os produtores internacionais sabem disso e têm interesse em explorar nosso mercado", diz Concli da Silva. Essa possibilidade do aumento nos negócios já levou a Expand a estudar novos investimentos, como a abertura de um wine bar em sua unidade do bairro Moinhos de Vento.

 

Entidades do setor buscam selo fiscal para comercialização

 

Tendo em vista a necessidade de controle dos produtos comercializados, a Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Viticultura, Vinhos e Derivados vem discutindo a criação de um selo fiscal para vinhos nacionais e importados. Entre as vantagens apontadas para sua utilização estão a facilidade de identificação do produto nos postos de distribuição, redução de fraudes, concorrência desleal e sonegação fiscal, bem como o maior controle dos volumes comercializados pelas empresas engarrafadoras.

 

Em votação realizada em fevereiro passado, 13 entidades se manifestaram favoráveis e duas contra a adoção. De acordo com o presidente interino da Câmara, Carlos Paviani, entre as ressalvas apresentadas para aceitação está que o selo seja colocado nos vinhos importados no país de origem, e não nas fronteiras de internacionalização do produto. As entidades solicitaram também prazo de dois anos para avaliação da medida, redução do Imposto de Produtos Industrializados (IPI) para os produtos genuínos (vinhos) e aumento de tributo para os derivados da uva e do vinho. A medida, conforme os vitivinicultores, deverá contribuir para inibir o contrabando, bem como, evidenciar ao consumidor a genuinidade do produto distinguindo-os dos demais.

 

Embora tenha concordado com a adoção do selo, a Câmara Setorial apresentou três indicativos para a implantação da medida. O setor é favorável desde que a manipulação dos importados seja feita na origem. Além disso, a iniciativa deverá ser avaliada por dois anos e, caso não alcance os resultados esperados, a condição anterior será retomada. Finalmente, foi requisitada a definição de um imposto diferenciado para os vinhos com o selo.

 

Além disso, o Ibravin desenvolveu um novo posicionamento do vinho brasileiro, com o objetivo de comunicar a verdadeira identidade do produto elaborado no País. A base do projeto contou com a realização de um amplo diagnóstico da categoria no Brasil, com pesquisas qualitativas e quantitativas feitas em três capitais brasileiras (Porto Alegre, São Paulo e Recife). O mercado mundial de vinhos também mereceu um estudo atento.

 

O objetivo deste projeto é reposicionar a categoria de vinhos brasileiros no mercado local e iniciar um processo de construção da imagem e o posicionamento da marca no exterior. "Em suma, o vinho nacional, que tem na leveza e no frescor as suas características principais, deve ser qualificado como um produto alegre e autêntico, tipicamente brasileiro", diz Paviani.

 

Veículo: Jornal do Comércio - RS


Veja também

Cervejaria Petrópolis cresce 38% em 2008

A Cervejaria Petrópolis, fabricante das marcas Itaipava, Cristal, entre outras, fechou 2008 com produç&ati...

Veja mais
Investimentos de US$ 2 bi na China

A gigante americana dos refrigerantes Coca-Cola anunciou que investirá US$ 2 bilhões na China em um per&ia...

Veja mais
Coca-Cola Guararapes amplia porta a porta

A Coca-Cola Guararapes, um dos braços da Coca-Cola Company no Brasil, que detém quatro fábricas em ...

Veja mais
Mel na taça

Um pequeno mergulho no universo dos vinhos de sobremesa   Pouco explorados nas mesas brasileiras, os vinhos de so...

Veja mais
Petrópolis fatura R$ 1,5 bi no ano

A Cervejaria Petrópolis, dona das marcas Itaipava e Cristal, ampliou em 25% a produção em 2008, par...

Veja mais
AB InBev mudará sede para Nova York

A Anheuser-Busch InBev NV (AB InBev), a cervejaria belga que comprou sua maior concorrente americana em 2008, dever&aacu...

Veja mais
Unilever investe R$ 25 milhões em versão infantil do suco de soja Ades

De olho no segmento de sucos à base de soja, que cresceu no ano passado quase 20% em volume, contra 3,9% do setor...

Veja mais
Ambev: lucro de R$ 964,5 milhões é 14,8% menor

O lucro líquido do fabricante de bebidas AmBev caiu 14,8% no quarto trimestre de 2008, ficando em R$ 964,5 milh&o...

Veja mais
Vendas de cerveja da AmBev fecham o ano em queda no País

A Companhia de Bebidas das Américas (AmBev), maior cervejaria do Brasil, encerrou o quarto trimestre de 2008 com ...

Veja mais