O Pêra-Manca, um dos vinhos portugueses de maior prestígio, feito apenas em anos especiais, apresentou recentemente sua nova safra. Em uma degustação vertical que percorreu quatro capitais brasileiras (Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Brasília), o Pêra-Manca 2005 foi testado por especialistas. Este colunista estava lá e conta porque este vinho alcançou fama, especialmente no Brasil, que absorve 40% de sua produção.
A afinidade entre a marca e as terras tupiniquins é antiga. Segundo documentos da época, o vinho normalmente levado nas caravelas no período das grandes navegações e do descobrimento do Brasil, era um tinto feito próximo à cidade de Évora, chamado Pêra-Manca. Este, citado em crônicas quinhentistas, teria sido então o vinho que Cabral ofereceu aos aborígenes ao aportar em solo brasileiro.
Segundo as mesmas fontes, o vinho amplamente citado na obra-prima de Luís de Camões, "Os Lusíadas", poderia também ser o Pêra-Manca. Seu nome se deve ao terreno onde era feito: um barranco com muitas pedras soltas. Diziam então que estas pedras balançavam, mancavam. Das "pedras mancas" surgiu o "Pêra-Manca".
Um vinho com este nome existiu até o início do século XX. Produzido pela Casa Agrícola José Soares, o Pêra-Manca chegou a colecionar importantes prêmios internacionais, como medalhas de ouro, em Bordeaux, em 1897 e 1898. Em 1920, após a morte de seu proprietário, a vinícola fechou as portas e o Pêra-Manca desapareceu.
Em 1963 foi criada a Fundação Eugênio de Almeida (FEA), entidade cujo objetivo é apoiar o desenvolvimento da região de Évora, por meio de ações sociais e culturais. Nos anos 1980, a FEA ganhou um setor vitivinícola, sob o comando de dois grandes nomes da enologia portuguesa: Francisco Colasso do Rosário e Francisco Pimenta. Em 1988, o herdeiro da Casa Agrícola José Soares, o Dr. José António de Oliveira Soares, doou a marca "Pêra-Manca" a FEA. A partir de daí, o produto top da FEA, até então chamado de Cartuxa Garrafeira, ganhou o nome do ancestral vinho cabralino. A primeira safra do novo Pêra-Manca viria a ser a de 1990, encerrando um hiato de 70 anos na história deste vinho.
O Pêra-Manca só é produzido em anos excepcionais, nos demais anos, as garrafas são rotuladas como "Cartuxa Reserva". Até hoje a FEA só elegeu as vindimas de 1990, 1991, 1994, 1995, 1997, 1998, 2001, 2003 e agora o 2005. O volume de produção deste super vinho varia muito, ficando entre 15 e 30 mil garrafas a cada ano.
Sua fórmula não é fixa, mas a base é sempre das castas Aragonez (também chamada de Tinta Roriz no norte de Portugal e de Tempranillo na Espanha) e Trincadeira. Outro diferencial é o emprego de madeira usada: tonéis de três mil litros de mais de 50 anos (onde o vinho fica cerca de 18 meses) substituem barricas novas de carvalho, tão em moda hoje em dia.
Desde 2004 o comando técnico da FEA está a cargo do enólogo português Pedro Baptista com a consultoria do onipresente Michel Roland. Veja abaixo uma entrevista exclusiva com Baptista e a análise dos vinhos apresentados, importados com exclusividade pela Adega Alentejana (tel.: 11 5044-5760).
Veículo: Gazeta Mercantil