A Schincariol publicou ontem, sem muito alarde, o seu balanço anual no Diário Oficial do estado de São Paulo. O provável motivo para tanta discrição estava na última linha da tabela de demonstrações financeiras: um prejuízo líquido de R$ 132 milhões em 2008. Mas ao contrário do que possa parecer, a empresa não perdeu vendas no ano passado. Em concordância com o que ocorreu com o setor de bebidas em geral, houve até crescimento.
"A participação de mercado em volume no final do período, medida pela Nielsen, cresceu nas categorias de cervejas (13,2%), refrigerantes (3,6%), sucos (8,2%) e foi reduzida em águas (9,3%)", diz o texto de abertura do balanço financeiro. Também houve crescimento de 7,4% da receita bruta e de 4,5% na receita líquida.
"Na prática, essa disparidade entre vendas líquidas e brutas mostra que a empresa teve que encolher sua margem de lucro na venda de seus produtos", explicou um analista de mercado. Esse encolhimento da margem, segundo o especialista, teria acontecido com o principal produto da Schincariol: as cervejas, que respondem por mais da metade do faturamento da empresa.
A estratégia da companhia no ano passado foi a de trabalhar as marcas premium de seu portfólio - Devassa e Baden Baden, por exemplo. No entanto, um fator geográfico afetou os planos da empresa. "É fato que a maior parte das vendas da Schin se concentra no Nordeste. O problema é que não há como trabalhar marcas premium só pelo Nordeste. Uma vez que a distribuição da Schin nos bares do Sul e Sudeste é fraca, a estratégia não 'colou' com o público dessa região, que são os formadores de opinião", afirmou um especialista.
Além disso, conforme relata o próprio balanço, houve queda de rentabilidade devido ao "crescimento das vendas em novos canais de distribuição." A aparente contradição se explica: para conquistar espaço em bares que tradicionalmente vendem marcas concorrentes, é preciso pagar. "A empresa precisa oferecer alguma vantagem para o dono do ponto de venda para que ele troque de fornecedor. Isso gerou perdas para a empresa", explicou outro analista. Isso explica por que, mesmo focando em produtos mais caros, como as cervejas premium, a empresa precisou enxugar sua margem de lucro.
A empresa também divulgou que acumulou perda financeira total de R$ 79 milhões. Desse montante, R$ 17 milhões foram causados especificamente por problemas cambiais, ou seja, "a desvalorização do real sobre insumos importados", segundo um comunicado enviado pela empresa ao Valor.
A Schincariol se limitou a explicar as perdas de R$ 29,3 milhões referentes ao resultado líquido do exercício antes da participação dos minoritários. Nesse caso, de acordo com a nota, "a integração de operações e de empresas adquiridas, a reestruturação da malha de distribuição e de revendas" foram as causas apontadas para o resultado negativo.
Veículo: Valor Econômico