A crise econômica não mudou os hábitos do consumidor brasileiro de cerveja. A constatação é da líder do mercado, a AmBev. Segundo seu diretor geral, João Castro Neves, a companhia não está verificando queda no consumo de cervejas no Brasil, apesar da crise financeira mundial. Em outros mercados nos quais a AmBev atua, como Canadá e Argentina, a cervejaria já vem verificando retração nas vendas. Segundo Neves, a economia brasileira não foi tão afetada pela crise de crédito como em outros países, mas ressaltou que alguns efeitos da recessão global como o aumento do desemprego no País podem afetar a demanda por seus produtos.
No primeiro trimestre de 2009, as vendas de cerveja da AmBev, que respondem por aproximadamente 67% do mercado brasileiro, avançaram 7,6%. Neves admitiu, no entanto, que condições climáticas favoráveis e a ocorrência do Carnaval mais tarde este ano contribuíram para esse comportamento, além do crescimento da renda. Mesmo assim, demonstrou otimismo em relação às operações no País.
O executivo lembrou que as condições de mercado permitiram que a companhia promovesse reajustes de preço no início do verão, para compensar os efeitos do aumento na tributação no setor. Segundo ele, alguns concorrentes seguiram o aumento de preço integralmente, o que possibilitou a recuperação da participação de mercado da líder.
Entre outubro de 2008 e janeiro de 2009, a participação de mercado da AmBev passou de 67,8% para 67%, segundo dados da Nielsen. Em fevereiro, a companhia iniciou uma recuperação, atingindo fatia de 67,2% no mercado de cervejas, que foi mantida em março. Segundo Neves, essa foi uma das melhores evoluções de participação de mercado da companhia após a promoção de reajuste de preço.
Castro Neves mostrou preocupação quanto à possibilidade de novo aumento de tributação para o setor de bebidas. Ele disse que a direção da companhia vem mantendo conversas com membros do governo federal. "Explicamos que um aumento de impostos adicional reduziria os volumes da indústria, o que afetaria negativamente a arrecadação e seria ruim para todos", disse. Para ele, o governo pode aumentar a arrecadação ao combater a sonegação no setor, e não por meio de aumento da carga tributária.
O volume de vendas de cerveja da AmBev no Brasil somou 17,8 milhões de hectolitros. Segundo comunicado da empresa divulgado na quinta-feira, o clima mais favorável no período, a ocorrência do Carnaval mais tarde este ano, além do aumento da renda disponível do consumidor pela primeira vez em seis trimestres, com a desaceleração dos preços de alimentos e o aumento do salário mínimo, favoreceram o consumo de cerveja no país no período. No segmento de bebidas não alcoólicas e não carbonatadas, a fabricante teve um aumento ainda mais significativo no volume vendido, de 12,6%, para 6,5 milhões de hectolitros.
Veículo: Jornal do Commercio - RJ