Destilados ficam mais caros e vendas caem

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A garrafa de uísque empoeirada e esquecida não faz mais parte só da decoração dos botecos "pé-sujo". Elas também estão demorando mais tempo para sair das prateleiras de supermercados e lojas especializadas em bebidas, uma vez que o brasileiro está este ano consumindo menos destilados, como uísque e vodca. A única exceção é a cachaça. A culpa da queda nas vendas - que segundo a Nielsen chegou a 9%, de dezembro a março - não é só da crise. O maior vilão foi o aumento de 30% no IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) em vigor desde 1º de janeiro para as "bebidas quentes". O aumento para a cerveja foi de 15%.
"Tivemos no início do ano uma queda semelhante a que ocorreu quando o dólar chegou a bater em R$ 4", diz Alexandre Louro, presidente da Diageo, referindo-se a outubro de 2002. "Uma garrafa de uísque de R$ 50, com a nova alíquota do IPI, passou a R$ 65. Isso assustou o consumidor".

 

Na Campari, as vendas menores no Brasil chamaram a atenção do diretor-executivo mundial da empresa italiana, Bob Kunze-Concewitz. Segundo ele, a crise financeira afetou os negócios em muitos países, mas em boa parte deles já há sinais de recuperação. No Brasil, entretanto, a subida de preços ainda segura uma retomada. "Já estamos saindo do túnel na Itália e vendo uma luz nos Estados Unidos e na Europa Ocidental. No Brasil estamos provavelmente em algum lugar no meio do túnel", disse, recentemente, o executivo.

 

Nos supermercados, segundo Martinho Paiva Moreira, vice-presidente da Associação Paulista de Supermercados, a queda chegou a 50% em algumas lojas. "Os supermercados de periferia, onde o consumo de uísque e outros destilados mais nobres era recente, foram os mais afetados", disse Moreira. Na média, segundo ele, os preços saltaram 30% e as vendas caíram 15% - e continuam em baixa. "Não vejo sinais de recuperação".

 

Para a indústria, os piores meses de venda, até agora, foram janeiro, fevereiro e março. "Para escapar da alta do IPI, os atacadistas e varejistas anteciparam pedidos em novembro e dezembro, para não ter que comprar mais caro no começo do ano", diz Louro. "O problema é que esse estoque durou muito. Só voltamos a receber pedidos em abril", afirma ele. Na subsidiária brasileira, 55% das vendas se concentram em supermercados e varejistas especializados em bebidas. No mercado em geral, segundo a Nielsen, 59% das vendas de uísque se dão nesses canais. Com relação à vodca, a divisão é semelhante: 57% das vendas vêm do varejo e 43% de bares e restaurantes.

 

Isso explica, em boa parte, porque o mercado de cachaça não foi afetado, apesar de ter sofrido o mesmo aumento de imposto. "De todo volume que as destilarias de cachaça produzem, 80% é consumido em bares", diz Cesar Rosa, presidente do Instituto Brasileiro da Cachaça (Ibrac) e da Indústria de Aguardente Tatuzinho. "Nos bares, o consumidor compra a dose. O dono do estabelecimento não repassou o aumento para o preço dessa dose porque sua margem é muito grande. Com duas garrafas vendidas para o consumidor, o dono do bar paga dez que comprou do distribuidor", afirma.

 

Com relação a outros destilados, os bares também não repassaram a carga do IPI para o preço final, segundo Paulo Solmucci Jr., presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel). "Em outubro, já houve um repasse por conta dólar e as vendas caíram em média 5%. Cautelosos, os empresários do setor resolveram absorver o IPI para não ter um resultado pior", diz.

 

As vendas em "free shops", embora não tenham sido afetadas pela maior tributação (já que são isentas), não tiveram a mesma sorte. "A alta do dólar fez cair o número de viagens ao exterior e portanto a frequência nesse canal de vendas", diz Louro, da Diageo. Na empresa dona das marcas Smirnoff e Johnnie Walker, o volume vendido nos "free shops " caiu 25% este ano.

 

Mas com o frio chegando e o dólar caindo, há esperanças de recuperação nas vendas. "O consumo de destilados cresce com as temperaturas mais baixas", diz o diretor executivo da Associação Brasileira de Bebidas (Abrabe), José Augusto Rodrigues da Silva. Além disso, o dólar voltou a custar menos de R$ 2. "Houve um efeito psicológico da alta. As pessoas sabendo da disparada do dólar, nem pediam mais bebidas importadas nos restaurante e bares ou deixaram de comprar nos auto serviços", diz Louro.
 


Veículo: Valor Econômico


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