A feira da paixão nacional

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Brasileiro gosta de cerveja, e os números do Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja (Sindicerv) estão aí para provar. O Brasil ocupa a quarta posição no ranking mundial dos produtores de cerveja, tendo produzido 10,34 bilhões de litros de cerveja em 2007, e tem consumo per capita de 56 litros, também um dos maiores do mundo. Nos últimos cinco anos, o setor faturou R$ 25,8 bilhões e investiu R$ 3 bilhões. O consumo nos pontos-de-venda se divide aproximadamente em 50% para cold market (mercado frio - bares e restaurante), 35% para self service (autosserviço, lojas de conveniência e supermercados. Com a menor fatia, está o traditional market (mercado tradicional - padarias, minimercados e mercearias), com 15%.

 

Em volume de produção, o País só perde para a China (35 bilhões de litros/ano), Estados Unidos (23,6 bilhões de litros/ano) e Alemanha (10,7 bilhões de litros/ano). No ano passado, houve crescimento de 5%, três vezes maior que o mercado total de cervejas. Recentemente, em pesquisa divulgada pelo IBGE, o grupamento de alimentos e bebidas elaborados para consumo doméstico foi um dos poucos que registrou alta (5,8%), impulsionado pelas cervejas, chopes e refrigerantes. As cervejas especiais tiveram crescimento de 12%, resultado expressivo se comparado à taxa de crescimento do mercado de cervejas em geral, que registrou 6,7%, segundo a Sindicerv.

 

Evento. A força do mercado cervejeiro será mostrada no encontro nacional de negócios do setor, a Brasil Brau 2009 - X Feira Internacional de Tecnologia em Cerveja, que será realizada entre os dias 23 e 25 de junho no Centro de Convenções Frei Caneca, em São Paulo e reunirá mais de 100 expositores, que ocuparão cerca de 3,5 mil metros quadrados. O evento é promovido pela Associação Brasileira dos Profissionais em Cerveja e Malte (Cobracem) com o apoio do Sindicerv e do Senai-RJ. Paralelamente ao evento, ocorrem ainda o XI Congresso Brasileiro de Ciência e Tecnologia Cervejeira e o IV Simpósio Latino Americano de Tecnologia Cervejeira, realizado pelo Senai-RJ.

 

Segundo o presidente da Sindicerv, Enio Rodrigues, o mais esperado na feira é ver cervejarias trazendo novas técnicas e soluções. "Esse mercado, no Brasil, tem potencial de crescimento bem importante. Em 2009 já tivemos algumas alterações interessantes como o aumento do salário-mínimo", conta. Rodrigues afirma que o mercado de cerveja está diretamente ligado à renda disponível imediata dos consumidores e às condições climáticas. "As previsões para esse ano ainda, são complicadas. Pelo menos, a crise está começando a se estabilizar", acredita.

 

Segundo o consultor Renato Fraga, da Fraga França Consultores, o investimento no mercado, que ainda está crescendo, apresenta retornos positivos. "Logicamente, é preciso analisar empresa bastante, para ver se vale a pena. Cada vez mais, reforça-se a tendência das franquias de cervejarias. O local é um ponto forte para dar certo. Para ter lucro, deve-se agregar várias opções de pratos e petiscos. Caso contrário, o negócio não se diferirá em nada de um boteco qualquer. Quanto ao ponto, é interessante estar em locais da moda, normalmente freqüentados por muitos jovens", aconselha Fraga.

 

Vitrine. A Brasil Brau 2009 servirá também de vitrine para as empresas apresentarem suas novidades. A cervejaria Falk Bier investiu na história do Brasil e lançou a cerveja Estrada Real India Pale Ale, licenciada pelo Instituto Estrada Real. O diretor da marca, Marco Falcone, explica que a proposta da nova cerveja é recriar o sabor da cerveja nos tempos do Brasil Colônia.

 

"A formulação é inspirada no padrão criado pelos ingleses do século 18, com alto teor alcoólico e maior quantidade de lúpulo, para aumentar a durabilidade. Seria ideal para acompanhar os viajantes da Estrada Real na época da colonização brasileira", brinca Falcone.

 

Ele conta que aumentaram a quantidade de lúpulo, que tem ação bactericida, e o teor alcoólico, que diminui a atividade microbiológica, para que a cerveja tivesse uma durabilidade maior. "A cerveja naquela época não agüentava a viagem e estragava, antes mesmo de chegar à Índia. A tropa inglesa estava insatisfeita. Foi aí que desenvolveram a nova fórmula, com duração de seis meses", explica.

 

De acordo com Falcone, tudo nasceu da produção artesanal (homebrewer), em 1988. No entanto, após estudos na Alemanha, entre 2000 e 2003, a família Falcone resolveu empreender a cervejaria no Brasil.

 

"A Falke Bier estreou há cinco anos, com a proposta de fabricar cervejas de alta qualidade 100% malte nas cervejas de escola alemã, para abastecer o mercado local, até 100 km de Belo Horizonte, sob a forma de chopp. Após dois anos, a empresa iniciou um trabalho bem meticuloso na fabricação de cervejas em garrafa, iniciando com a Falke Tripel Monasterium, primeira cerveja Tripel fabricada no Brasil, inclusive lançada na Brasil Brau de 2007. Hoje a cervejaria é uma das referências no Brasil, no segmento de cervejas artesanais de qualidade", ressalta.

 

Divisão. O mercado de cerveja se divide em dois segmentos: cervejas industriais e cervejas especiais. Segundo o diretor nas especiais, pode-se subdividir entre importadas e artesanais de alta qualidade, que compreende as microcervejarias brasileiras. Este mercado está em constante alta, considerando que é exponencial o crescimento de consumidores que estão descobrindo este diferencial.

 

"Estima-se um crescimento de 15% ao ano nesse mercado, ao menos foi o que observamos nos últimos dois anos. Isto tudo se deve ao crescimento do público consumidor consciente que aumenta a cada dia. A perspectiva de fixação das marcas envolvidas é muito promissora, já que a visibilidade é extremamente bem focada no público que realmente consome os produtos que estamos apresentando", avalia Marco Falcone.

 

Para ele, participar da feira é expor no maior evento do segmento cervejeiro da América Latina. Falcone destaca que a Brasil Brau engloba toda a cadeia produtiva da cerveja, desde os produtores da matéria prima, acessórios, fornecedores de equipamentos de produção e de serviço, até os próprios produtores de cerveja. E tudo é feito em três dias, o que transforma em uma "oportunidade única", de dois em dois anos, de gerar negócios que valem pelos dois anos de intervalo.

 

A Cervejaria Fraga também participará do evento, como estreante. O analista de sistemas Sérgio Fraga começou preparando cerveja em casa para as reuniões dos amigos e familiares e agora, em parceria com um amigo, lança a marca própria. Para começar, eles desenvolveram uma cerveja de trigo (weissbier). O projeto inicial da cervejaria surgiu em 2004, quando Fraga, apreciador de cervejas de qualidade, começou a estudar por conta própria os diversos estilos existentes, suas nuances e características.

 

Primeiro, ele acalentou a idéia de fabricar em casa sua própria cerveja. Para isto, recorreu a livros e sites especializados, juntando o conhecimento técnico para fabricar artesanalmente os equipamentos necessários. Com a adesão de mais três amigos em 2007, surgiu o projeto da fábrica que agora em 2009 começará suas atividades comerciais, com o lançamento da Fraga Weiss.

 

De acordo com Fraga, depois de décadas de oferta de pouca variedade, está acontecendo no Brasil nos últimos anos um movimento de redescoberta da verdadeira cerveja, à semelhança do que ocorreu antes na Europa e nos Estados Unidos. "O número de microcervejarias tem crescido constantemente aqui no País. São empresas que procuram resgatar a qualidade da bebida, sem se importar em fabricá-la em quantidades esmagadoras e com um paladar único que visa atender às massas. Podemos dizer que hoje o brasileiro está descobrindo a boa cerveja da mesma forma que começou a apreciar e a compreender um bom vinho na década de 1990", diz.

 

Para ele, em termos de volume de produção, o mercado de cervejas artesanais ainda é muito pequeno, respondendo por cerca de 5% do total. "Em faturamento, representa um pouco mais, pois as cervejas artesanais são produtos de alto valor agregado e custos de produção mais altos, por usarem somente insumos de qualidade. Esperamos nos consolidar primeiramente no mercado do Rio de Janeiro, por meio da oferta do nosso produto em barris e garrafas para restaurantes gourmet, bares e mercados que oferecem cervejas artesanais", explica.

 

O que ele espera primeiramente é obter visibilidade para a nossa marca e fomentar parcerias comerciais tanto com fornecedores de insumos e equipamentos como com clientes distribuidores. "Esperamos obter esse resultado na Feira. E apostamos no fato de que o movimento de cervejaria artesanal no País está aqui para ficar, de forma irreversível", conclui.

 

Veículo: Jornal do Commercio - RJ


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