A cervejaria japonesa Kirin confirmou ontem estar em negociações iniciais de fusão com a concorrente Suntory, acordo que poderia desencadear mais combinações de empresas no setor de alimentos e bebidas do país.
Caso se concretize, a fusão criará uma companhia com receita de 3,820 trilhões de ienes (US$ 41 bilhões) que poderia tornar-se um grupo internacional significativo, especialmente na Ásia. Embora menor que gigantes mundiais como Nestlé ou Unilever, seria o primeiro grupo japonês no setor de alimentos e bebidas com escala para concorrer na esfera global com nomes de peso internacional como PepsiCo e Anheuser-Busch InBev.
A empresa combinada teria vendas anuais de cerveja, em volume, em torno a 56 milhões de hectolitros, de acordo com dados da Bloomberg, o que a tornaria a sexta maior cervejaria do mundo, atrás da americana Molson Coors e à frente da chinesa Tsingtao.
As negociações mostram como as empresas japonesas reconhecem que sua sobrevivência dependerá de fortalecerem sua posição doméstica e ao mesmo tempo expandir-se no exterior.
Tanto a Kirin quanto a Suntory são consideradas bem-sucedidas. Mas o setor japonês de cervejas e das outras bebidas que as duas produzem "não é um mercado que crescerá 10% ou 20% no futuro", segundo a Suntory. "Estamos dizendo há algum tempo que não podemos esperar um crescimento de primeira linha no mercado doméstico", corroborou a Kirin.
O problema enfrentado por fabricantes de bebidas e alimentos no Japão não é limitado apenas ao envelhecimento da população no país. As grandes redes varejistas, pressionadas pelo baixo consumo, usam seu poder de compra para derrubar os preços que pagam aos fornecedores.
Nesse cenário, as possíveis sinergias decorrentes de uma fusão entre Kirin e Suntory são bem atraentes, de acordo com analistas. A Suntory tem forte posicionamento em refrigerantes, segmento em que a Kirin enfrenta dificuldades. A Kirin, por sua vez, possui uma extensa rede de distribuição na região da Ásia-Pacífico, adquirida após seus investimentos na San Miguel Beer, das Filipinas, e na Lion Nathan, da Austrália. A rede poderia ser usada para distribuir também a marca de alimentos saudáveis Brand´s, da Suntory.
Uma fusão enfrentaria obstáculos consideráveis e tanto a Kirin quanto a Suntory disseram não saber ainda aonde as negociações poderão levá-las. O acordo levantaria questões sobre concorrência, já que elas teriam quase 50% do mercado de cervejas e produtos relacionados no Japão. Para analistas, a negociação já deve pressionar as rivais Asahi e Sapporo a reavaliarem suas estratégias.
Veículo: Valor Econômico