Segundo Lohbauer, a queda no preço da laranja tem a ver com a baixa demanda internacional pelo suco brasileiro
Doutor em ciência política, Christian Lohbauer mescla experiência acadêmica e empresarial. Ele trocou o setor de frangos pela recém-criada Associação Nacional de Exportadores de Sucos Cítricos, a Citrus BR, que representa Cutrale, Citrovita, Dreyfus e Citrosuco, donas de 80% das exportações brasileiras de suco de laranja. Um dos objetivos é dar mais transparência ao setor.
Por que a associação surgiu?
Os exportadores de suco já tiveram outras entidades nos últimos 30 anos, mas perderam a interlocução setorial por desagregação. Desde 2005, o setor não se manifestava mais de forma compacta. Isso voltou a acontecer agora porque existe uma conjuntura internacional e nacional que fez com que as empresas vissem a necessidade de se pronunciar de forma coletiva. As empresas decidiram deixar as divergências para trás. Temos o papel de promover a interlocução com o governo estadual, federal e no ambiente internacional. É importante explicar como o setor funciona, com dados transparentes. O setor pecou por não ser tão acessível. Vamos começar a trabalhar os temas comuns entre os quatro grupos.
Qual é o ponto de partida, a questão do preço pago ao produtor?
Esse negócio é uma commodity e o Brasil depende do mercado internacional. Fala-se muito sobre a concentração no setor, mas ela não foi inventada pelas empresas, é o capitalismo moderno que faz isso com as empresas de uma forma geral e com o agronegócio de forma particular. Talvez a laranja tenha se adiantado ao processo. Eram 15 empresas há 15 anos, e hoje são quatro. A indústria da laranja não fez uma conspiração para ser a dona do mercado. No frango, eram 30 e daqui a pouco serão 12.
A Citrus está disposta a tocar em temas como a suspeita de cartel?
O objetivo é desfazer a imagem de que o setor não trata assuntos como condições de trabalho com seriedade. O tema cartel está na Justiça e até hoje não foi comprovado. O ambiente da indústria é altamente competitivo. Quando os executivos se reúnem, eles se calam diante de alguns temas porque é uma questão de concorrência absoluta. Essa ideia que se propagou de que eles se reúnem para formatar posições me surpreende. Acho muito difícil que, encerrados esses processos, o assunto volte à pauta. Vamos mostrar por meio da entidade que essa acusação não tem sentido.
Apesar de a Citrus ser voltada para a exportação, pode se dedicar ao mercado interno?
Um dos objetivos é promover o consumo de suco no Brasil para, em parte, evitar as variações internacionais. É preciso um programa de incentivo, com produtores, empresas e governo. Como pode o Brasil, maior produtor de laranja e de suco, deixar a fruta cair no pé e a criançada tomar refrigerante? O consumo vem caindo no mundo. De 2001 a 2008, caiu 25% nos EUA. Poderia haver o apoio do governo para processar a fruta excedente e distribuir a bebida às crianças e idosos carentes, numa espécie de "Suco para todos".
Qual é a razão do preço baixo?
Cerca de 30% dos pomares são da indústria, por volta de 50% são de contratos plurianuais com o preço predefinido. Ninguém fala que a indústria muitas vezes morre com um prejuízo em função dos preços que ela fechou em contrato. O restante é de produtores sem contrato (spot). Quando se fala desses preços medidos pelo Cepea, de R$ 3,77 a caixa, é um valor que ninguém vende. É praticamente a paralisação das vendas do mercado spot. A indústria só vende suco se o mercado lá fora estiver demandando, o que não está acontecendo agora. Enquanto não tivermos a chance de explicar à sociedade e a alguns citricultores que foram doutrinados a acreditar que a indústria manipula preço, a gente nunca vai conseguir caminhar para uma solução. Enquanto a indústria se calou, um grupo de produtores criou essa imagem de que há manipulação de preço, que por sua vez merece uma intervenção do Estado para um preço mínimo de caixa. Nem os produtores sabem o que seria um preço mínimo. Se ventila em torno de R$ 15, mas ninguém sabe qual é a origem.
Veículo: O Estado de S.Paulo