Conheça o laboratório onde são criadas as bebidas que a líder dos refrigerantes vende somente no Brasil
A discreta fachada de um edifício no bairro Del Castillo, no subúrbio do Rio de Janeiro, esconde um ambiente interno marcado pelas cores e pela efervescência. Sem placas do lado de fora ou cientistas malucos do lado de dentro, o Laboratório de Pesquisa e Desenvolvimento da Coca-Cola avalia em torno de 900 novas fórmulas por ano.
Deste total, cerca de 300 costumam ser aprovadas e 200 chegam efetivamente ao consumidor da América Latina em forma de refrigerantes, sucos, chás e bebidas energéticas. Dos frascos e líquidos coloridos que dominam o local saem parte da explicação para os 21 trimestres de crescimento consecutivo da empresa aqui no Brasil, seu terceiro maior mercado no mundo, atrás de Estados Unidos e México. As vendas nacionais aumentaram em 5% no segundo trimestre deste ano, acima da média global de 4%. E o faturamento de R$ 15 bilhões, em 2008, superou em 25% o resultado obtido em 2007.
Essa expansão reflete a aposta agressiva em nichos cada vez mais diversificados no setor de bebidas - e o laboratório de pesquisa tem um papel fundamental nesse cenário. "Além da melhor distribuição de renda e do crescimento do País, o resultado positivo se deve a uma estratégia baseada na inovação", diz Marco Simões, vice-presidente de comunicação e sustentabilidade da Coca- Cola Brasil. "Estamos crescendo de forma mais acelerada que o mercado de bebidas." O território latino-americano é líder de vendas do grupo no mundo, com 27% de participação no volume global, seguido pelo da América do Norte, com 24%.
Nada mais distante do laboratório que a ideia de se ter uma bebida com o mesmo sabor em qualquer lugar do planeta - a característica tradicional da Coca- Cola hoje só se aplica a esse refrigerante. No centro de inovações, a equipe de 18 especialistas se debruça principalmente sobre os variantes - energéticos, bebidas à base de leite, chás, etc -, que representam 60% das fórmulas em elaboração, enquanto os refrigerantes, que já chegaram a somar 90% da demanda na década de 90, ficam hoje com apenas 40%. "Para uma pessoa se hidratar bem, ela tem que tomar uma variedade de produtos por dia", aponta Simões.
"Nossa ideia é oferecer um produto para cada necessidade." A mais recente cria do laboratório chegou às prateleiras do País este mês: o refresco Del Valle Frut, com três sabores mais leves e menos concentrados que os sucos. Outro produto destinado exclusivamente ao mercado nacional é o isotônico i9, lançado em agosto de 2008, que já detém 15,9% do segmento, segundo a Nielsen - um caso de sucesso, tendo em vista a tradição do concorrente Gatorade, da arquirival Pepsico. O Kuat Eco, guaraná misturado ao chá verde, é outro exemplo de bebida feita especificamente para os brasileiros.
Segundo a química Márcia Sichman, diretora do Laboratório de Pesquisa e Desenvolvimento da Coca-Cola para a América Latina, "o consumidor da região gosta de bebidas mais doces do que o europeu. Já o mexicano quer sabores intensos e marcantes", explica. Além do laboratório no Rio, a Coca-Cola tem outros cinco centros de inovação: na Europa, no Japão, na China e dois nos Estados Unidos. "Aqui, somos valorizados pela capacidade de criar produtos bem aceitos e com um custo de desenvolvimento menor", afirma Márcia.
O portfólio de produtos também tem se diversificado com aquisições: nos últimos anos, três outras grandes marcas, Del Valle, Mais e Leão, foram compradas. Regionalmente, a Coca- Cola adquiriu o guaraná Jesus, bebida popularíssima no Maranhão. A empresa está investindo R$ 1,75 bilhão no País neste ano - um crescimento de 16,6% em relação a 2008. Parte do dinheiro irá para duas novas fábricas, em Maceió e na Grande Curitiba, além de expansões de unidades já existentes. A estratégia de expansão também inclui formas diferenciadas de distribuição, exposição dos produtos nas gôndolas e sua apresentação em diversos tipos de embalagem.
Todos os detalhes são pensados. Só o refrigerante Coca-Cola, para se ter uma ideia, é oferecido em 28 formatos diferentes. Alguns ficam no mercado por períodos determinados, como a garrafa de alumínio decorada, vendida em 2008 em clubes noturnos. Outros são específicos para eventos como os da Copa do Mundo. Seja como e onde for, dificilmente você terá dificuldade em encontrar um produto da Coca-Cola adequado para a sua sede.
Falta só mais um
Ao crescer 5% entre abril e junho de 2009, a Coca-Cola comemorou seu 21o trimestre consecutivo de crescimento no Brasil. Se a empresa conseguir repetir a dose nos próximos três meses, empatará com o número obtido pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, em sua gestão. Meirelles comemorava um ciclo de 22 trimestres consecutivos até a eclosão da crise internacional
Veículo: Revista Isto É Dinheiro