Bebidas: Companhia contestou argumento de distribuidoras contra a fusão Brahma-Antarctica por dez anos
O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) livrou, ontem, a AmBev de um verdadeiro "esqueleto" ao arquivar uma série de denúncias de antigas distribuidoras da companhia, que tiveram início há mais de dez anos, logo após o anúncio da fusão entre a Brahma e a Antarctica, em julho de 1999. Sob a justificativa de discutir os impactos da criação da AmBev no mercado, as distribuidoras foram à Câmara dos Deputados, ao Senado e aos órgãos de defesa da concorrência do governo (o Cade e as secretarias de Direito e de Acompanhamento Econômico dos ministérios da Justiça e da Fazenda) para pedir a investigação de uma série de práticas comerciais da companhia.
Essas distribuidoras reuniram-se em entidades, como a Associação Regional das Distribuidoras da Antarctica (Abradisa), para questionar supostas práticas da AmBev, como a imposição de tabelas de preços ao varejo, a venda casada (obrigação de o distribuidor só obter determinadas marcas de cerveja se aceitar alguns refrigerantes) e preços predatórios (redução de preços para levar as revendas à falência). Elas também questionaram a redução no número de distribuidoras, um fenômeno que foi crescente no início da década.
A Ambev refutou cada uma das acusações duraram anos. A companhia alegou, por exemplo, que não impõe preços de revenda aos distribuidores, apenas faz sugestões. A empresa disse ainda que não pede aos revendedores adoção de cotas mínimas de venda de cervejas de suas marcas, como Brahma e Skol. E negou as práticas de venda casada e de preços predatórios.
As distribuidoras alegaram ainda que a AmBev teria criado dificuldades para a Molson no mercado. Essa cervejaria foi responsável pela aquisição da Bavária e, depois, foi comprada pela Femsa, que também detém a Kaiser. A venda da Bavária foi uma das imposições tomadas pelo Cade durante o julgamento da fusão Brahma-Antarctica, em março de 2000.
Em julho do ano passado, a SDE pediu à Femsa que se manifestasse a respeito dessa denúncia de que a Ambev teria trabalhando contra a Bavária no sistema de distribuição de cervejas. No mês seguinte, a Kaiser respondeu às autoridades que não conseguiu obter esclarecimentos junto à Molson a respeito dessas acusações. A Kaiser foi a maior opositora à fusão Brahma-Antarctica e certamente teria apresentado provas às autoridades se as tivesse obtido. Mas, no ofício, a empresa informou apenas que não poderia confirmar nem negar a denúncia de que a AmBev teria trabalhado contra a Bavária, após a venda dessa marca à Molson.
Após anos de trocas de ofícios com distribuidoras e cervejarias e, sem provas de qualquer irregularidade no setor de distribuição de bebidas, o Cade decidiu arquivar as denúncias contra a AmBev, em votação unânime, ontem. O julgamento foi bastante simples. O relator, conselheiro Carlos Ragazzo, apresentou o seu voto pelo arquivamento e os demais conselheiros o acompanharam. Em poucos minutos de julgamento, um processo de dez anos foi para o limbo.
Veículo: Valor Econômico