Carne bovina: Argentina deixará de cumprir cota Hilton de novo

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Pelo segundo ano seguido, a Argentina não conseguirá fornecer à União Europeia as 28 mil toneladas de carne bovina a que tem direito na Cota Hilton. Até março, o país vizinho conseguiu exportar 19,8 mil toneladas dentro do sistema que permite acesso ao mercado europeu com alíquotas de importação reduzidas para cortes nobres. Segundo a Confederação de Associações Rurais da Terceira Zona (Cartez), que abrange as principais regiões produtoras, o volume alcançará no máximo 26 mil toneladas até 30 de junho, quando se encerra o período de um ano para as exportações sob o regime diferenciado de tarifas da UE.

 

As mudanças adotadas pelo governo argentino no sistema de distribuição da Cota Hilton entre os frigoríficos, a diminuição do estoque bovino e os altos preços no mercado interno são apontados como responsáveis pelo fracasso em atingir o volume previsto. Desde a temporada 2009/2010, a Argentina terá deixado de exportar à UE mais de 13 mil toneladas em condições especiais, abrindo mão de US$ 175 milhões. Cada tonelada dos cortes da Cota Hilton é negociada, em média, a US$ 13.218.

 

A esse preço, segundo a Cartez, pode tornar-se mais atrativo vender novilhos no mercado doméstico. O problema é que a política de fechamento parcial das exportações, implementada desde o governo do ex-presidente Néstor Kirchner para baratear o preço interno da carne, derrubou o lucro da pecuária.

 

Muitos produtores migraram para o cultivo de soja e o país perdeu 9,9 milhões de cabeças de gado nos últimos três anos, afirma a Ciccra, câmara que representa as indústrias frigoríficas. Enquanto houve liquidação de estoque bovino, os preços caíram. Mas em 2010, já sem reposição do gado perdido, a produção caiu 26% e o consumo médio por habitante - ainda assim impressionantes 58,8 quilos ao ano - atingiu o nível mais baixo em nove anos.

 

Outro problema foi a mudança, introduzida em 2009, no método de distribuição da Cota Hilton. A alteração visava desconcentrar a cota entre os frigoríficos e prejudicou os grandes, como Quickfood e Swift, controlados por Marfrig e JBS, respectivamente. No último ciclo, foram autorizados 45 frigoríficos e 31 cooperativas. Com isso, o volume permitido à Quickfood, por exemplo, passou de 4 mil toneladas para 3,1 mil toneladas.

 

No último balanço enviado à Bolsa de Buenos Aires, em 12 de maio, a subsidiária da Marfrig informou que já havia completado esse volume no primeiro trimestre e reservava os meses seguintes para exportar "quantidades adicionais". Em teoria, os frigoríficos que chegam a 1º de janeiro sem preencher 50% da cota que lhes foi designada ou a 1º de março sem preencher 70%, devem ceder sua participação a outras empresas. Na prática, o governo argentino não conseguiu promover a redistribuição, explicou ao Valor um alto executivo da indústria frigorífica.

 

Na avaliação desse executivo, o fracasso em exportar toda a carne demandada pela UE fragiliza tanto a Argentina quanto o Mercosul. Os europeus podem dar preferência a fornecedores dos Estados Unidos, que já pediram aumento de sua cota de 11,5 mil para 30 mil toneladas, segundo a fonte. Por outro lado, o Mercosul fica em posição fragilizada nas negociações de tarifas preferenciais dentro de um acordo de livre comércio com a UE. Devido a problemas de rastreabilidade, o Brasil preencheu apenas 10% da cota de 10 mil toneladas que lhe eram permitidas na temporada 2009/2010.

 

A cota Hilton é constituída de cortes especiais do quarto traseiro bovino e de novilhos precoces. Esses cortes entram na UE com tarifa "ad valorem" de 20%, driblando as altíssimas alíquotas de importação. Seus preços no mercado internacional alcançam de três a quatro vezes o preço da carne fora "comum".

 


Veículo: Valor Econômico


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