A escassez de boi e a incerteza sobre o cenário externo motivou dois frigoríficos de grande porte a decretarem férias coletivas. O primeiro a tomar a medida foi o grupo JBSFriboi em suas unidades de Presidente Epitácio (SP), Cáceres e Teófilo Otoni (MG) que desde ontem não estavam operando com abates. O outro grande frigorífico que tomou a decisão foi o grupo Minerva. A partir do dia 27 deste mês a unidade de Goianésia (GO) entrará em férias com duração de 30 dias. A capacidade desta planta é de abate de 500 cabeças por dia.
Por meio de comunicado, o Minerva informou que a medida foi tomada com objetivo de aproveitar este período sazonalmente mais fraco de oferta de gado para terminar reforma e ajustes na planta. A assessoria do JBSFriboi informou que as ferias coletivas é procedimento "rotineiro" e que as suas outras unidades estão funcionando normalmente para atender a demanda de seus clientes no mercado interno e internacional.
Fabiano Tito Rosa, da Scot Consultoria, diz que, de fato, a pecuária bovina de pasto está em entressafra, mas que a oferta reduzida está além do normal. "O número de unidades paradas está acima do que normalmente ocorre na entressafra. Os frigoríficos estão em uma situação complicada porque, de um lado, há incerteza em relação ao mercado internacional, de outro, um custo de produção elevado, com a arroba em alta. Quem não parou de funcionar, está devagar", analista Rosa. Na média, segundo ele, as indústrias estão com ociosidade entre 30% a 40% de sua capacidade, o dobro da média do ano, que varia entre 10% e 20%.
De acordo com levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP), na média, os frigoríficos no País estão com escala apertada de abate, ou seja, têm pouco boi já comprado. As regiões mais críticas estão em São Paulo, como em São José do Rio Preto e Barretos, onde as indústrias têm boi para abater em 4,5 dias, o que é considerado um estoque curto. Em outras praças, como Cuiabá, essa escala é de cinco dias. A região onde há mais oferta garantida aos frigoríficos é em Rio Verde (GO), onde as indústrias têm gado comprado para 7,1 dias, o que é considerado uma oferta confortável.
O estado de Goiás tem 54 plantas frigoríficas, que reúnem capacidade de abate de 5 milhões de cabeças por ano, dos quais 70% são habilitados para exportar.
José Magno Pato, presidente do Sindicato das Indústrias Frigoríficas de Goiás (Sindicarne-GO), diz que a região de Goianésia, onde o Minerva possui uma unidade, não é caracterizada por uma concentração de frigoríficos, mas também não tem muita oferta de boi. "As indústrias têm de buscar boi a 300 quilômetros. Chega um momento em que o custo sobe muito e não é possível repassar nem para o mercado interno nem para o externo", avalia Pato.
Ele explica que a situação de oferta de boi se agravou no estado porque os pastos ficaram muito secos, 100 dias sem chuva. "Agora começou a chover e os pastos vão levar dois meses para se recuperarem. Acredito que a oferta de boi em Goiás só vá se regularizar em janeiro, quando o normal seria dezembro", diz Pato.
Decretar férias coletivas, segundo ele, significa reduzir receita e manter os custos fixos. "O custo é alto. Só há redução do consumo de energia. É um transtorno muito grande", acrescenta o dirigente do Sindicarnes.
Segundo ele, os frigoríficos do estado que estão abatendo o fazem para cumprir contratos. As unidades industriais menores, de acordo com Pato, também vêm reduzindo o abate, sendo que neste momento, operam com metade da capacidade por causa da menor oferta de boi. "Estavam trabalhando em dois turnos e agora estão em apenas um", afirma.
Luciano Vacari, superintendente da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), estado com o maior rebanho bovino do País, diz que para ele há uma incoerência nesse mercado. "Não falta boi aqui", garante. Ele cita que o rebanho no estado recuou 1,5% de 2007 para este ano, enquanto os abates caíram 22%. "Na avaliação do criador, as indústrias adotaram a estratégia de abater menos. Não tem a ver com pouco boi no mercado", afirma Vacari.
A redução do abate no Brasil pressionou ontem os preços do boi para baixo em algumas regiões. Levantamento diário da Scot Consultoria mostra que ontem a arroba do boi foi negociada em São Paulo a R$ 92, ante os R$ 93 do dia anterior. Também em Dourados (MS), região muito influenciada pelo mercado de São Paulo, a preço da arroba recuou em um dia do patamar entre R$ 89 e R$ 90 para R$ 88.
JBS e Smithfield
A americana Smithfield Foods Inc. informou ontem que foi concluída a venda de sua unidade de processamento de bovinos o grupo JBS/Friboi pelo valor de US$ 565 milhões, segundo noticiou a agência Bloomberg News.
Veículo: Gazeta Mercantil