Quando seu pai ingressou no tradicional mercado de bacalhau em Portugal, Rui Manoel Dias já tinha uma certeza: seu país seria pequeno demais para comportar os planos da família. Em 1992, o patriarca Rui Dias fundou a Imporvenda, sediada no Cais dos Bacalhoeiros, distrito de Aveiro, com foco inicial no mercado doméstico. Em poucos anos, porém, a certeza de Manoel Dias se confirmaria e as exportações se tornariam a principal atividade da companhia, com destaque para Brasil, responsável por 50% do faturamento de R$ 100 milhões da empresa e onde o grupo decidiu inaugurar sua primeira fábrica fora de Portugal.
"Vamos investir R$ 25 milhões no Brasil até 2013", afirmou Dias, diretor-geral da companhia para o país. Prevista para iniciar os trabalhos já no segundo semestre deste ano, com a produção de bolinho de bacalhau, a unidade ainda não tem sede definida - a empresa discute os benefícios fiscais oferecidos pelos municípios de Extrema (MG), São Paulo e Rio de Janeiro. "Por logística, São Paulo seria o local ideal", diz o empresário.
A história da Imporvenda no mercado internacional teve início em 1996, quando a empresa enviou as primeiras cargas de bacalhau ao exterior. "Aproveitamos a tradição de consumo do povo português ", contou o empresário. Segundo ele, as primeiras exportações tiveram como foco os próprios portugueses radicados em países como Suíça, França e Brasil. "Com o tempo, o brasileiro começou a comer cada vez mais bacalhau", afirma Dias.
Mas as exportações iniciais da então Imporvenda não contavam com o primeiro diferencial dos produtos da companhia, lembra o empresário. "Em 2001, criamos a Bacalhau Dias, a primeira marca de bacalhau tanto no Brasil e quanto em Portugal". Naquele momento, a fábrica da Bacalhau Dias concentrava-se em apenas um produto: o bacalhau seco e salgado, forma como é tradicionalmente comercializado.
O grande salto da Bacalhau Dias, no entanto, viria em 2004, com a estreia do lombo de bacalhau dessalgado congelado, também inédito no Brasil. Ao contrário do bacalhau seco, que precisa ser dessalgado antes do preparo para o consumo, o novo produto vem praticamente pronto para ser assado. "Viemos revolucionar a forma de consumir bacalhau no Brasil", diz o sorridente Dias.
E a estratégia deu resultado. Nos últimos três anos, diz o empresário, as vendas de bacalhau congelado ao Brasil cresceram a uma taxa anual de 35%, alcançando 4 mil toneladas do peixe em 2011, distribuídos em 11 diferentes produtos congelados, como lombo (peça mais nobre do bacalhau), postas (parte lateral do peixe), bolinho de bacalhau e carpaccio. No Brasil, a marca Bacalhau Dias está nas gôndolas de redes como Carrefour e Casa Santa Luzia. "Depois de conhecer o congelado, o consumidor não volta para o seco", ressalta.
Na esteira do crescimento do mercado brasileiro, a Bacalhau Dias firmou, no ano passado, uma joint-venture com a Icicle - do fundo americano Paine & Partners -, responsável por abastecer a empresa portuguesa com o bacalhau pescado no Alasca (Gadus macrocephalus). "Não existe bacalhau no mar português", explica Dias.
Com a parceria, que deu origem a uma nova empresa, a Alascod - dividida em 50% para a Imporvenda e 50% para a Icicle, a capacidade de produção do Bacalhau Dias dobrou, passando de 5 mil toneladas para 10 mil toneladas. "Agora, controlamos todo o processo de produção, desde a pesca", conta o diretor, afastando a possibilidade de a crise que afeta a União Europeia, e em especial Portugal, ter impulsionado o negócio. "A Icicle já era nossa parceira no fornecimento do bacalhau", reforça.
E foi justamente a parceria que deu fôlego para o investimento do grupo no Brasil. Além da produção de bolinho de bacalhau, a companhia aproveitará a expertise da Icicle para, num segundo momento, produzir salmão e peixes nobres como o blackcode na fábrica brasileira. Na última etapa, programada para 2013, a unidade também produzirá pratos prontos.
Veículo: Valor Econômico