Setor primário aposta em negócio entre Doux e JBS

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As negociações para aquisição da operação de frangos da Doux Frangosul pelo brasileiro JBS Friboi, líder mundial em processamento de proteína animal, estão avançadas e podem ser sacramentadas em até dois meses. Enquanto isso, os abates das duas plantas existentes no Estado da filial do grupo francês e o alojamento de pintos com 1,5 mil produtores integrados estão suspensos. O presidente da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), Nestor Freiberger, disse que tem informações de que já há protocolo de intenção entre os dois negociadores. O JBS está fazendo na fase de due diligence, para aprofundar o conhecimento sobre a contabilidade, clientes, mercado e condições dos ativos.

“Para o JBS seria a estreia em um ramo que a companhiaa não atua no País, de carne de frango”, valorizou Freiberger, citando que a operação não deve ter restrição do Conselho Administrativo de Direito Econômico (Cade). O player mundial tem processamento de aves nos Estados Unidos, onde é dono da Pilgrims. A assessoria do Friboi informou que “a companhia não comenta rumores de mercado”. Segundo o dirigente da Asgav, as tratativas teriam sido deflagradas no começo de março. Fontes tiveram a confirmação da direção da Doux gaúcha, com sede em Montenegro, de que as conversas “estão andando bem”. A empresa não emitiu nota sobre a situação e nem respondeu pedido de informações sobre o futuro da operação.

Para a área industrial, o desfecho com venda de ativos ou transferência do segmento a um grupo do porte do JBS é a única saída. A preocupação é com o impacto da interrupção dos abates para balança comercial do Estado. Freiberger citou que a queda de 7% do volume vendido em 2011 já teria relação com a crise da maior exportadora. O diretor-presidente da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frangos (Ubabef), Francisco Turra, considera que a única saída para os franceses é se desfazer da filial. “Tem toda a lógica. O caminho é multiproteínas, e o JBS só opera com bovinos e suínos.”

O diretor-presidente da Ubabef lembra que o setor registrou em março recorde histórico para o mês, com venda de 369 mil toneladas ao Exterior. “Quem sai, outro ocupa o espaço. A Doux Frangosul já foi a maior exportadora brasileira. Mas o Estado certamente sairá perdendo”, lamenta Turra. No começo de fevereiro, o dirigente e ex-ministro da Agricultura teve encontro com o presidente mundial da Doux, Charles Doux, que indicou insatisfação com preços oferecidos. Um integrante do setor avícola gaúcho atribuiu ao “orgulho francês” o adiamento de um acerto. A mesma fonte cita o episódio dos prejuízos da Sadia, que não perdeu tempo e nem esbarrou em vaidades de concorrentes históricos para fazer a fusão com a Perdigão, dando origem à Brasil Foods (BRF). “O orgulho custa caro”, resumiu o observador.

Entre produtores e trabalhadores das plantas, a expectativa é de acerto e transferência do negócio para o JBS. O presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do RS (Fetag-RS), Elton Weber, informa que representantes da Doux Frangosul, em reunião há 15 dias, admite que o setor está de mãos amarradas. Da direção local, Weber ouviu que estavam ocorrendo as conversações. Weber confirma que é com o líder mundial em proteína animal. “Vamos dar esta semana para ver o que acontece”. Sobre a paralisação de abates em Montenegro e em Passo Fundo, além de repasse de pintos aos aviários, o presidente da Fetag-RS encarou como inevitável. “Não adianta querer manter o que não pode bancar”, concluiu a liderança. A federação desconhece o volume de débitos com os 1,5 mil avicultores, com atrasos de quatro a cinco meses. “Esperamos que a saída siga os moldes dos suínos.”

Em um acordo informal, a Doux repassou a gestão, produtos e abastecimento, que inclui a planta frigorífica de Caxias do Sul e rede de 700 integrados (unidades de leitões e terminação) à BRF. Na planta em Ana Rech, distrito caxiense, funcionários da líder nacional em alimentos processados já monitoram a produção. Da ração à assistência técnica para granjas, tudo é grife Brasil Foods. O pagamento de lotes atrasados terminou de ser saldado em 30 de março. Apesar de publicamente ser sabido pela cadeira produtiva, as duas empresas pediram sigilo.

O temor é de uma ação do Cade, já que Sadia e Perdigão foram condenadas a se desfazer de unidades no Estado devido à concentração do mercado, leia-se de fatias de marcas.

As plantas de frangos tiveram a última produção no dia 5. Os 1,6 mil funcionários de Passo Fundo estão em casa, a mesma situação dos 1,6 mil de Montenegro. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias de Alimentação passo-fundense, Miguel Luís dos Santos, informa que um turno voltou de férias e outro sairia, mas todos foram dispensados. Parte das verbas não foi paga. “Há muita apreensão entre todos”, diz Santos. João Marcelino da Rosa, coordenador-geral do sindicato da categoria na sede, aponta que os abates estavam muito baixos, cem mil frangos ao dia em vez de 450 mil. Em encontros com executivos da Doux, João obteve garantia de que não ocorreriam demissões.



Veículo: Jornal do Comércio - RS


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