Aproveitamento de reservas hídricas ociosas ou exauridas éumadas alternativas de desenvolvimento da piscicultura no país, cuja produção é inferior ao potencial de consumo Apontado no mundo todo como um dos alimentos essenciais à saúde humana, o peixe, tanto de água doce como salgada, não tem sido produzido em volume suficiente para atender ao consumo. O déficit mundial de pescado atingiu em 2010, segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), 10 milhões de toneladas e, em 2030, as projeções indicam mais de 30 milhões.
Para tentar amenizar esse problema, a alternativa sugerida por especialistas é o investimento em piscicultura, com preferência para criatórios de espécies de água doce em áreas hídricas ociosas ou exauridas, contribuindo diretamente para o repovoamento de rios. Essa é a opinião em comum de Tamar Rocha e Hélio Feitosa, presidentes, respectivamente, da Associação Brasileira de Criadores de Camarões (ABCC), e da Piraru Investimentos e Participações.
Os dois especialistas são unânimes em apontar que o Brasil é visto por todas as nações como o país que mais possui capacidade para esse fim, já que detém 12% da reserva mundial de água doce do planeta. “Mas apesar de todo o potencial, a falta de incentivos e investimentos do governo federal tem atravancado o crescimento do setor e o impedido o país de se tornar um grande exportador nesse segmento”, argumenta Rocha.
Enquanto a China produz 20 milhões de toneladas anuais de filé em piscicultura, o Brasil chega a apenas 300 mil toneladas. Além disso, apesar de toda a capacidade que possui na produção de peixes, a China ainda importa 2,3 milhões de toneladas. “E o Brasil certamente tem o potencial para atender esse mercado, mas que por enquanto permanece parado”, destaca Rocha.
Hélio Feitosa, também argumenta que o Brasil pode ser um grande colaborador para que as pessoas tenham um consumo ideal desse tipo de alimento fundamental à boa saúde — segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), o consumo per capita deve estar em torno de 12 kg ao ano. “Essa quantidade vem subindo no decorrer dos anos, principal populacional, o aumento de renda, principalmente das classes médias emergentes de países em desenvolvimento e os cuidados com a saúde, no primeiro mundo”, diz Feitosa.
Ele lembra que o governo brasileiro terá que implantar o pescado no cardápio da merenda escolar, se quiser atender as recomendações da OMS. Isto significa que só o governo necessitará de cerca de 360 mil toneladas de pescados por ano, para atender a 35 milhões de crianças das escolas públicas, do pré-escolar e da primeira a oitava série do ensino fundamental. “Com isso, serão necessários à implantação de pelo menos 30 unidades de cultivo e processamento de pescados”, argumenta.
Pirarucu na mesa
Dentro desse contexto, o pintado e a tilápia são os peixes que mais entram no cardápio dos consumidores. No entanto, há uma grande oportunidade para que o Pirarucu também tenha seu espaço. “Um dos grandes potenciais desse peixe é a grande capacidade de carne que possui e seu delicado sabor”, argumenta Feitosa, lembrando que o Pirarucu tem em média três metros e pode atingir até 250 quilos.
Com potencial deste tamanho, esse tipo de peixe já faz parte da mesa do consumidor brasileiro, mas ainda é muito pescado para fins de competição por conta de seu tamanho. “Ou seja, é preciso que essa cultura de pesca por lazer seja banida, já que após esse momento toda essa quantidade de peixe é descartada, trazendo enorme prejuízo ao meio ambiente e à alimentação das pessoas”, enfatiza.
O diretor técnico do Instituto da Pesca da secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo, Edson Kuko, aponta que a falta de metodologia de criação para é o principal problema para expandir o consumo desse peixe. Mas o potencial do pirarucu não se limita apenas ao cardápio. Sua pele pode ser utilizada para a fabricação de capas de bancos para o setor automotivo, além de servir como peça decorativa. Segundo o especialista, essa utilização é possível por conta de sua pele ser mais macia e com mais qualidade que a do boi.