O mercado brasileiro de frangos sofre redução das margens de lucro por causa do aumento de custos produtivos - que não impediram o crescimento da produção a níveis recordes. Os abatedouros não conseguem repassar o aumento de preços aos compradores estrangeiros e a demanda interna já está suficientemente abastecida, complicando o repasse a nível nacional. A perda de rentabilidade com exportações é de 0,5% no quadrimestre.
"O negócio não está bom. Como a margem do setor é pequena, o número é bastante expressivo", disse o presidente da União Brasileira da Avicultura (Ubabef), Francisco Turra. Embora os volumes embarcados tenham crescido 3,4%, com 1,3 milhão de toneladas exportadas nos últimos quatro meses, o faturamento caiu para US$ 2,5 bilhões.
Cautela foi a palavra de ordem utilizada pela Ubabef no início do ano - e, segundo a mesma, continua apropriada. Turra avalia que as empresas devem reduzir o ritmo de produção daqui em diante. O representante espera melhora de preço, caso a oferta se ajuste a demanda, no mercado interno, e o dólar se mantenha no nível atual (acima de R$ 1,90).
Entretanto, "mesmo com a subida do dólar, a gente percebe que há uma tendência de caírem os preços lá fora", observou o representante. "O Brasil perdeu, realmente, a competitividade", disse, explicando que o principal motivo é a alta do preço dos insumos [milho e soja]. Turra espera uma retomada dos preços a partir da segunda quinzena de maio, mas condiciona a previsão à redução da produção à manutenção do valor presente da moeda global. Produzir frango no Paraná, estado considerado o maior produtor do segmento no País, ficou 4,2% mais caro em março, na comparação anual, de acordo com os últimos os últimos dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
2º semestre é sempre melhor
"Entendo que a atividade tem que ser rentável e que o aumento do preço dos insumos encareceu a produção. Mas o dólar chegou a um nível que equilibrará os preços. E o mercado interno se ajustará naturalmente", diz Domingos Martins, presidente do Sindicato das Indústrias de Produtos Avícolas do Estado do Paraná (Sindiavipar). Ele pontuou que "o segundo semestre é sempre melhor do que o primeiro".
O sindicato trabalha com a previsão de fechar o ano com 5% de crescimento na receita de exportações do Paraná, contrariando o cenário negativo apresentado pela Ubabef. O volume deste mês deve chegar a 125 milhões de abates no estado (alta de 4,5%).
A produção paranaense cresceu 3,6% no quadrimestre, em relação ao mesmo período anterior, para 473,7 milhões de cabeças abatidas, de acordo com o Sindiavipar. O número só não foi maior porque "no início deste ano, tivemos problemas pontuais: a crise europeia, mundial aliás, e um inverno rigoroso no hemisfério norte, o que reduz o consumo e as exportações", analisou Martins.
Para ele, "independentemente do preço, o frango sempre será a proteína animal mais consumida no mundo". Uma pesquisa encomendada pela Ubabef indica que 100% das famílias brasileiras consomem a carne da ave e 85% delas a consideram "saudável". O Brasil exporta cerca de 30% de sua produção interna, liderada pelo Estado do Paraná.
Fim do benefício
A extinção, anunciada para dezembro, do Regime Especial de Reintegração de Valores Tributários para as Empresas Exportadoras (Reintegra), após um ano de sua criação, foi criticada pela Ubabef. Embora o segmento avícola nunca tenha sido contemplado pelo benefício, a entidade lamentou o anúncio do governo federal e defendeu a manutenção da isenção de impostos indiretos, como Cide, IOF, PIS e Cofins, sobre as empresas exportadoras.
Veículo: DCI