Mesmo em meio à crise econômica na Europa, o Brasil está vendendo mais carne bovina de melhor qualidade e maior valor para aquele mercado, o que ilustra que os europeus com boa renda continuam a privilegiar o que há de melhor para consumir. Pela primeira vez nos últimos tempos, o Brasil aumentou as vendas dentro da Cota Hilton, que é de 10 mil toneladas e destinada a produtos de maior qualidade. Em 2011, o país só tinha ocupado 4% da cota, pela qual vende com tarifa menor e, portanto, ganha mais. No ano comercial que termina no próximo dia 30 de junho, deverá preencher 31%.
Levando-se em conta as exportações de carne in natura em geral (incluindo Cota Hilton), o aumento em valor para a UE foi de 12,5% e, em volume, de 21,5% entre janeiro e abril. O faturamento passou para US$ 118,5 milhões no período, ante S$ 105,5 milhões em 2011. Já a exportação de carne industrializada, de menor qualidade e preço mais baixo, caiu 18,5%, para US$ 92 milhões, comparado aos US$ 113,6 milhões obtidos no mesmo período de 2011.
O Brasil não tem conseguido preencher tudo o que poderia por causa de exigências de rastreabilidade e definição de carne de alta qualidade, o que dificulta enquadrar o produto na categoria de Cota Hilton. Negociações bilaterais prosseguem para tentar flexibilizar as normas.
Sem ocupar 6,9 mil toneladas pela Cota Hilton, os brasileiros deixam de ganhar ao menos US$ 82 milhões. Enquanto o preço de carne in natura é estimado em cerca de US$ 8,9 mil a tonelada, a de "carne Hilton" pode variar de US$ 12 mil a US$ 14 mil, dizem analistas.
"O Brasil continua exportando menos em geral, mas, no caso de carnes de mais qualidade, está ocupando um espaço deixado pela Argentina e Uruguai", diz Jean-Luc Meriaux, secretário-geral da União Europeia do Comercio de Gado e de Carnes (UECBV, em francês).
Ele observa que em janeiro e fevereiro as exportações brasileiras em geral para a UE caíram 5%, as da Argentina 6% e as do Uruguai, 19%. A Argentina tem Cota Hilton de 29.375 toneladas e a UE avalia que o país vai preencher 65% do total, a exemplo de 2011. Já o Paraguai não preencherá sua cota de mil toneladas por sofrer restrições por aftosa. O Uruguai passou a vender mais para o Chile e diminui os embarques para o mercado europeu.
O consumo de carne bovina e ovina continuam caindo na Europa. Primeiro, por causa da crise econômica. Depois porque os preços externos estão bons e os produtores preferem exportar mais do que vender internamente. Turquia, Marrocos, Argélia e Rússia são os principais compradores. A expectativa é de que este ano o consumo de carne de frango aumente um pouco no bloco. De toda maneira, os europeus compram carne mais barata, como a moída.
Mas aqueles com melhor renda não abrem mão do bom filé. Dos 8 milhões de toneladas de carne bovina consumidas na Europa, 800 mil toneladas são consideradas de melhor qualidade e maior preço.
Veículo: Valor Econômico