Exportadores brasileiros reclamam que, mesmo depois do anúncio de reabertura do mercado, entrada do produto é liberada a 'conta-gotas'
Dois dias depois do anúncio oficial da reabertura do mercado argentino para a carne suína brasileira, os negócios entre os dois países não estão evoluindo como se esperava.
Segundo o presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), Pedro de Camargo Neto, a maioria dos importadores não consegue licenças para efetuar a compra. "Continuam as travas. As autorizações que são liberadas são a 'conta-gotas', e não se sabe dentro de qual critério. Poucas carretas vão poder atravessar a fronteira", disse Camargo Neto à Agência Estado. "Não deveriam ter anunciado o que não existe, criando falsa expectativa. Vamos aguardar com cautela."
Além da manutenção do entrave nas negociações, o presidente da Abipecs ainda comentou que não está claro quais foram os termos da liberação do comércio da proteína brasileira entre os países. "Não sabemos exatamente o que o governo do Brasil combinou com o da Argentina, mas o que existe até agora não pode ser chamado de liberação de comércio", disse Camargo Neto.
Conforme apurou a Agência Estado, o secretário de Comércio Interior da Argentina, Guillermo Moreno, fez dois acordos para regular o mercado de carne suína: um interno, outro com o governo do Brasil. No primeiro, o setor privado argentino se comprometeu a reduzir suas compras do Brasil em 20%, o que abriria espaço para a importação média mensal de 2,8 mil toneladas de carne e toucinho. Por esse acordo, fica proibida a importação de qualquer produto terminado (frios e embutidos). O segundo acordo foi do próprio Moreno com o governo brasileiro, durante visita recente, em que afirmou que reabriria o mercado de suínos como "gesto de boa vontade", sem limites de cotas em relação aos volumes comercializados ou tipos de produtos derivados de suínos.
Insatisfação. Um dos principais exportadores de carne suína à Argentina, a Coopercentral Aurora Alimentos, mostrou sua insatisfação com os trâmites bilaterais. De acordo com o presidente da companhia e vice-presidente de assuntos estratégicos do agronegócio da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc), Mário Lanznaster, apesar da notícia da reabertura ser bem-vinda, na prática será necessário mais de um mês para a retomada dos negócios e o efetivo embarque das mercadorias.
A suspensão da importação da carne suína brasileira pela Argentina começou em fevereiro e somente a Aurora deixou de exportar quase 2 mil toneladas. "Isso representa cerca de US$ 45 milhões que deixaram de entrar no Brasil e não serão mais recuperados", disse o executivo. Segundo ele, a Argentina não quer produtos industrializados, mas apenas matéria-prima para processar nos frigoríficos. Essa medida - somente agora revogada - puniu as exportações brasileiras de carne suína em momento de oferta elevada no mercado brasileiro.
"O governo brasileiro tolera o comportamento desleal do parceiro (Argentina) e não adota medidas recíprocas legitimamente aceitas no comércio bilateral. E também age assim porque não valoriza o agronegócio", diz Lanznaster. Segundo ele, quando há qualquer problema de mercado em outros setores, como automóveis ou eletrodomésticos, o governo adota imediatamente medidas de apoio.
Veículo: O Estado de S. Paulo