A JBS está em compasso de espera para decidir o futuro de suas operações na Argentina. A companhia, que fechou quatro plantas de abate no país em dois anos, enxugou custos e mudou o foco principal de seu negócio na tentativa de viabilizar a continuidade das suas atividades.
"Continuamos buscando soluções. A gente quer ficar na Argentina, mas o governo está muito nacionalista e perdendo a mão", disse ao Valor o presidente da JBS no Mercosul, José Augusto de Carvalho Jr. Segundo o executivo, não há intenção de vender essas unidades. "Até porque não tem ninguém para comprar", disse.
Com faturamento mensal de US$ 40 milhões na Argentina, a JBS afirma estar conseguindo absorver até o momento as perdas com o fechamento das unidades. No total, as quatro plantas de abate de animais demandam US$ 160 mil por mês em manutenção. "Não é nosso objetivo sair da Argentina nem perder dinheiro. Estamos enxugando para manter o suficiente para cobrir os custos", afirmou Carvalho Jr.
Para tanto, a JBS também desativou parcialmente um quinto frigorífico em Pontevedra, próximo a Buenos Aires, destinando parte da planta ao segmento de graxaria - produção de sebo e ração a partir de carcaças e restos de animais. Também alugou 75% do espaço do centro de distribuição que mantém no país.
De acordo com o executivo, o destino da empresa dependerá das ações futuras do governo. Carvalho Jr. disse que a expectativa é que "a Argentina vire a página", acrescentando que a popularidade da presidente Cristina Kirchner está em queda, o que pode reverter as medidas protecionistas adotadas por seu governo.
Os problemas da JBS no país vizinho começaram com a elevação dos impostos de exportação. A iniciativa, que abrangeu outras commodities e irritou produtores e a indústria, foi uma tentativa da presidente manter as matérias-primas no país o e segurar os preços no mercado doméstico.
Segundo Artemio Listoni, presidente da JBS Argentina, desde então o abate de animais recuou de 5 mil cabeças por dia para 1,2 mil cabeças diárias, na única fábrica em operação, em Rosário.
Conforme o executivo, que foi enviado ao país em 2010 para dar início ao processo de fechamento das plantas e desligamento de funcionários, o que está em jogo é a política tributária e não a diminuição do rebanho bovino. "Quando acertarem isso, resolvem o nosso problema", disse.
A estratégia de sobrevivência acabou mudando o rumo da JBS na Argentina. " Os abates ficaram em segundo plano. São os industrializados que garantem nosso faturamento", comentou Listoni. Hoje, a empresa detém 70% do mercado de patês no país, 13% de hambúrguer e 7% de salsichas.
Veículo: Valor Econômico