Os cortes de frango "diferenciados" estão ganhando espaço no carrinho de compras do supermercado. A ave está mais barata do que no ano passado e isso permite ao consumidor escolher pedaços mais nobres, sem osso ou sem pele. Os "cortes light" custam um pouco mais do que o tradicional e garantem certa rentabilidade ao varejo.
Enquanto o preço do frango inteiro no varejo caiu 0,53% no primeiro semestre, o do frango em pedaços subiu 2,11%, segundo o IPCA, medido pelo IBGE. Com mais valor agregado, os cortes especiais aumentam a margem do varejo entre dois e três pontos percentuais, diz um executivo de uma grande rede varejista. Segundo ele, a demanda por cortes especiais de frango cresce 20% ao ano.
Na rede Savegnago, com 26 lojas no interior de São Paulo, o "corte light" de filé de peito de frango ficou 18,5% mais barato nos primeiros cinco meses deste ano, e as vendas subiram 95% em volume e 59% em valor. Já o preço do peito tradicional, com osso e pele, ficou estável, mas as vendas caíram 17%.
"Na hora que você trabalha os cortes, agrega valor ao produto. Com o corte padronizado, deixa de vender frango a R$ 3,26 o quilo e vai vender a R$ 8,21", diz José Sarrassini, diretor comercial da Savegnago. Segundo ele, R$ 8,21 "é preço de carne de segunda", e essa paridade estimula o cliente a comprar frango com maior valor agregado.
"Como o produto está barato, [o cliente] faz um 'up grade' e opta por um produto com marca [do frigorífico], pré-preparado, nobre", diz Sarrassini. Para ele, o aumento da renda da população provoca a migração em várias categorias de consumo. "Quem comprava miúdo passou a dorso, de dorso para peito [de frango]. As camadas se movimentam." Apesar de crescer de maneira significativa - 49% em volume e 31% em valor, entre janeiro e maio de 2012 sobre 2011-, os cortes especiais ainda representam apenas 5% das vendas de frango do Savegnago, que faturou R$ 1,1 bilhão em 2011.
No Zona Sul - uma das principais redes do Rio de Janeiro, com 33 lojas e faturamento de R$ 1 bilhão em 2011 -, o crescimento da categoria de frangos se deve, principalmente, aos cortes sem pele e fracionados, diz o diretor comercial Pietrangelo Leta.
O movimento é semelhante na rede paulista Coop - Cooperativa de Consumo, que ao fim de 2011 tinha 29 lojas e faturava R$ 1,6 bilhão. O volume de vendas de peito de frango, coxa e sobrecoxa caiu. Já o peito de frango sem pele e sem osso teve ligeiro aumento, de 1,1%.
Para Sarrassini, do Savegnago, a tendência é que o produtor venda produtos já limpos e cortados. "Pode ser em três ou cinco anos". "Qualidade e rastreabilidade são cada dia mais importantes, cresce a exigência do consumidor e do varejista. Não vai mais ter isso de manipular [frios] em loja, é impossível fazer inspeção federal em todos os pontos [de abate e de manipulação]."
A carne de frango concorre com a carne de porco e com a carne bovina, a preferida do consumidor com mais dinheiro no bolso. O supermercado, nesse caso, poderia continuar faturando, mas vem perdendo clientela para os açougues de bairro. No segundo semestre de 2011 entrou em vigor o reajuste no PIS/Cofins para esse tipo de loja, mas aos pequenos estabelecimentos a tributação não mudou. "O efeito começou em julho do ano passado. No primeiro semestre [de 2011] as vendas de frango cresceram 12%; no segundo, apenas 3%", diz a fonte de uma grande rede varejista.
Veículo: Valor Econômico