"A Rússia ainda não levantou o embargo a frigoríficos brasileiros. Ainda não temos nenhuma das unidades autorizadas a retormar as vendas de carne para aquele país". A afirmação é do presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), Pedro Camargo Neto. Na sua opinião, o governo brasileiro se precipitou ao divulgar que a proibição de exportação de carnes por frigoríficos do Rio Grande do Sul, Paraná e Mato Grosso ao mercado russo estava resolvido.
A afirmação foi feita ontem, durante a apresentação do balanço do ano no setor, com a presença de representantes dos criadores nacionais de suínos e da Indústria do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Para Camargo Neto, o fim o embargo só acontecerá quando os frigoríficos receberem a autorização para voltarem a embarcar ao mercado russo. "Se não voltarem a vender para aquele mercado é porque a proibição não acabou. Não dá para resolver o problema com uma coletiva em Brasília", disse.
O embargo russo teve início em junho de 2011. Das 21 fábricas que estavam autorizadas a exportar carne suína à Rússia, apenas uma, em Santa Catarina, não foi afetada pela suspensão. No início de 2012, três unidades foram liberadas para exportar.
A autoridade sanitária russa, Rosselkhoznadzor, continua a reclamar de atrasos na entrega de documentos por parte do Ministério da Agricultura (Mapa), embora este informe que toda documentação solicitada foi entregue, certamente com atraso.
Na opinião do presidente da Abipecs, "existe uma falta de competência" dos integrantes do governo que negociam, desde meados de 2011, o fim o embargo. "Estão [os russos] fazendo de tudo para criar empecilhos E o governo dá munição para eles ao enviar os documentos que foram pedidos apenas 10 dias antes de uma missão ir a Moscou. Nós precisamos ser mais eficientes."
Na opinião de Camargo Neto, o Brasil precisa firmar protocolo de equivalência entre os procedimentos exigidos pelo sistema sanitário russo e o brasileiro. "Nós temos procedimentos que se equivalem aos deles, com alguns detalhes diferentes, que não afetam sua eficiência. Mas precisamos de alguém que possa negociar isso e garantir o acordo."
Apesar dos problemas enfrentados com o embargo russo, Camargo Neto analisa que 2012 termina com resultados favoráveis ao setor. "A crise de custos do primeiro semestre foi superada na segunda metade do ano e devemos fechar 2012 com exportações de 580 mil toneladas", disse. "O setor reagiu com competência à crise provocada pela falta de suprimento de milho e farelo de soja e à seca que atingiu o Rio Grande do Sul e Santa Catarina."
A falha na política de abastecimento do governo, que fez com que os produtores de suínos tivessem elevação nos custos devido a falta de insumos para alimentação dos rebanhos também foi criticada pelo presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos, Marleo Lopes.
Na sua opinião, mesmo com os resultados positivos, 2012 foi um ano difícil. "Iniciamos com preços baixos e custos elevados. A falta de uma política de abastecimento que garantisse os insumos para a alimentação dos animais fizeram os preços do milho e o farelo de soja [principais produtos para ração de suínos] subirem."
Lopes disse que houve irresponsabilidade com relação a distribuição do milho, que teve produção recorde no Mato Grosso, mas faltou no sul e no nordeste.
E prevê que o primeiro semestre de 2013 não será diferente. "Ao que tudo indica, o primeiro semestre já foi embora. Talvez tenhamos uma situação regular na oferta de milho entre junho e julho, quando será colhida a safrinha", analisou.
Já as exportações de carne suína do Brasil terão pequeno crescimento em volume em 2013, mas a receita deverá aumentar mais, com vendas a mercados que pagam melhores preços, segundo Camargo Neto.
Veículo: DCI