A maior procura por peixes, em função do aumento do consumo pelos católicos durante o período da Quaresma, já está refletindo nos valores do produto em Rio Preto. Segundo proprietários de peixarias da cidade, algumas variedades estão entre 10% e 15% mais caras. A média de 10% de aumento nos pescados, em especial o bacalhau, também é o valor estimado pela Associação Paulista de Supermercados (APAS) para os supermercados da região.
Álvaro Luiz Espinha Júnior, proprietário da Pescados Cruzeiro, afirma que o aumento nas vendas já é perceptível. Só com a chegada da Quaresma, já na primeira semana ele notou um crescimento de cerca de 30%, influência direta do período. Além disso, a expectativa para a Semana Santa, que este ano será entre os dias 24 e 29 de março, e a Páscoa, é ainda melhor. “Na semana santa as vendas tendem a dobrar”, disse.
Entretanto, de acordo com Júnior, os preços ainda estão na média praticada anteriormente para a maioria dos produtos. “Tentamos manter a maioria dentro do que já vinha sendo praticado. Fizemos um estoque antes de começar este período para nos prepararmos e tentarmos segurar os preços mais baixos”.
Segundo o proprietário da Pescados Cruzeiro, as alterações estão ligadas principalmente aos produtos mais procurados durante o período. Além disso, há a influência da falta de algumas variedades no mercado. “A sardinha, que ainda não está em sua época de pesca, e é um dos produtos mais procurados, teve uma pequena alteração nos preços, passando de R$ 3,90 o quilo, para R$ 5”, diz.
De acordo com a vendedora da peixaria Santa Marcelina, Vanessa de Almeida Souza, a tilápia foi um dos peixes que mais tiveram aumento nos últimos dias. Segundo o proprietário da peixaria, Augusto Chaves Cardoso Martins, a alta se deve principalmente à produção baixa diante do alto consumo. “Enfrentamos já uma dificuldade de oferta, por isso os preços já não são tão baixos. Mas agora, com o consumo ainda maior, não tem como não haver um reflexo”, afirma.
Entre os mais procurados e que também tiveram alta estão o filé de merluza e a tilápia, garante o proprietário da Wilson Pescados Wilson Alioti. “Aumento todo ano geralmente tem. De 12 a 15%, dependendo do tipo de peixe. Merluza sempre sobe, porque o consumo aumenta demais. A tilápia também subiu de um ano para cá, pois o consumo aumentou”, disse.
No entanto, mesmo com as altas, a aposentada Antônia Aparecida Martins Desidério, de 65 anos, não deixa de comer peixe durante o período. “É uma tradição de família. Aprendi com meus pais a comer peixe toda segunda, quarta e sexta-feira, durante a quaresma e mantenho a tradição até hoje”, contou.
O peixe deveria fazer parte do cardápio semanal de todos, mesmo fora do período da quaresma, afirma a nutricionista Flávia Pinto Cesar. Segundo ela, o peixe, além de ser saudável, contribui para reduzir o excesso de consumo de carnes vermelhas, que são mais ricas em colesterol e gorduras saturadas. “O consumo abusivo de carnes vermelhas colabora com as doenças que mais matam no mundo, as cardiovasculares, além de aumentar o risco de Acidente Vascular Cerebral (AVC)”.
Segundo a nutricionista, o peixe é rico em proteína, minerais - como fósforo, cálcio, magnésio, entre outros - e também é rico em ferro, acabando com o mito de que só a carne vermelha contém ferro. Além disso, é rico em vitaminas conhecidas como lipossolúveis, A, D, E e K. “Lembrando que a vitamina D é a vitamina mais deficiente no mundo”, alerta.
De acordo com Flávia, é necessário estimular o consumo do peixe e uma das formas de se fazer isso é diversificando o modo de preparo, para não enjoar. Além disso, ela alerta para a procedência do produto. “A atenção que devemos ter é em saber a origem do peixe, pois alguns rios hoje são contaminados com substâncias tóxicas, podendo os peixes ter contaminação, por exemplo, de mercúrio, o que é muito comum nas regiões de garimpo e de indústrias têxteis, principalmente”, disse.
Família segue a tradição
Na casa da família da professora Cláudia Helena Nardo Caseri, 46, o peixe já faz parte da tradição. Segundo a professora, desde que era solteira, quando chegava o período da Quaresma, ela e sua família nunca comiam carne às sextas-feiras e a tradição seguiu depois de casada.
Cláudia, o marido e as duas filhas seguem com a tradição em respeito a sua religião e também por sua consciência. “Meu marido também segue e só veio a complementar a tradição. Além de ser um costume, faz parte de uma consciência maior”, conta.
Entretanto, o bacalhau não é o peixe escolhido pela família para a Sexta-Feira Santa. “Não temos o hábito do bacalhau, primeiro por ser um alimento caro e segundo porque passamos praticamente o dia todo na igreja. Nossas opções normalmente são um macarrão com peixe, um peixe grelhado ou uma sardinha”, diz Cláudia.
A alta nos preços foi algo que a professora notou este ano. “Os preços dos peixes estão muito altos, pois fui ao supermercado e já notei a diferença. Foi uma alta considerável, mas o período também proporciona uma variedade maior. Tudo depende da escolha do consumidor. Está mais caro, mas você pode buscar uma alternativa”.
Veículo: Diário da Região - S.J.do Rio Preto/SP