Depois de sete anos de expansão acelerada, alcançando a posição de maior produtora mundial de proteína animal, a JBS S.A. vai agora concentrar-se em ampliar negócios já existentes, acrescentando novos produtos e reduzindo sua dívida, disse o diretor-presidente Wesley Batista.
Batista disse que a empresa já está satisfeita com sua presença global e não precisa fazer mais aquisições importantes. Em vez disso, o foco é melhorar o império construído por sua família. Quaisquer novas aquisições provavelmente seriam pequenas e oportunistas, disse.
A JBS já investiu bilhões de dólares para comprar abatedouros e processadoras de aves, bovinos e suínos em toda a América do Sul, América do Norte e Austrália, incluindo nomes bem conhecidos nos Estados Unidos como a Swift Foods Co., Smithfield Foods Inc. e Pilgrim's Pride. Nessa trajetória, a empresa abriu o capital em 2007 e captou R$ 3,2 bilhões em ofertas de ações.
"Se voltasse atrás no tempo, não perderia nenhuma das oportunidades que aproveitamos", disse Batista, em uma entrevista na sede da empresa, em São Paulo.
A receita de 2011 foi de R$ 62 bilhões, ante R$ 3,6 bilhões em 2005. Segundo o HSBC, a receita de 2012 deve aumentar 19%, e mais 16% em 2013. Depois de divulgar prejuízo líquido de R$ 76 milhões no ano passado, a JBS deve registrar lucro de R$ 950 milhões este ano, e dobrar essa quantia em 2013, segundo o HSBC. Os resultados da empresa para o quarto trimestre serão publicados em 13 de março.
"As operações da JBS USA estão se recuperando muito bem, enquanto o segmento brasileiro continua em crescimento acelerado", disse Pedro Herrera, analista do HSBC, num relatório.
Os riscos da expansão global ficaram visíveis no recente escândalo da carne na Europa, em que vestígios de carne de cavalo foram encontrados em diversos produtos de carne bovina, incluindo hambúrgueres e lasanha congelada. As ações da JBS caíram depois que sua divisão europeia, a JBS Toledo, foi alertada, no início da semana, de que uma remessa de carne enviada a um cliente europeu continha vestígios de material genético equino.
Batista disse que os vestígios foram encontrados em carne fornecida por uma empresa alemã, a H.J. Schypke, e não pela própria JBS. Disse ainda que não haveria qualquer impacto negativo sobre as vendas para a Europa e que, na verdade, os clientes vêm pedindo mais carne brasileira. A H.J. Schypke informou que comprou sua carne de fornecedores certificados e que todas as aquisições satisfizeram as normas e foram devidamente verificadas.
A empresa também encontrou algumas dificuldades no Brasil, depois que as autoridades antitruste pediram um exame mais detalhado da compra de um curtume no Mato Grosso e um matadouro no Mato Grosso do Sul.
A empresa acredita que a América do Norte, América do Sul e a Austrália são os melhores lugares do mundo para criar animais, e o Brasil, em particular, devido aos seus abundantes recursos naturais, e não deseja produzir em outros lugares. Mas no que se refere às vendas, a JBS quer se expandir para a Ásia, Europa Oriental e outras partes do mundo.
O frango será o grande propulsor do crescimento global das vendas nos próximos anos, segundo a JBS. Grande parte do mundo em desenvolvimento está ficando mais rica e consumindo mais carne, mas muita gente não come suínos ou bovinos por motivos religiosos ou outros. Assim, a carne de frango deve crescer de forma significativa, disse Batista. A JBS informa que é hoje a maior produtora mundial de aves.
A divisão americana vem tendo algumas dificuldades no último ano, principalmente porque o preço do gado está alto e o preço da carne, baixo, corroendo os lucros dos frigoríficos.
Batista disse que essa etapa está superada e que o panorama é mais positivo do que era há apenas dois meses. Isso se deve, em grande parte, a dois fatores: o Japão reduziu suas restrições às importações de carne bovina dos EUA, o que significa mais demanda por essa carne; ao mesmo tempo, a Cargill Inc. fechou uma planta no Texas, que responde por cerca de 4% ou 5% do total da capacidade de processamento nos EUA, reduzindo a oferta.
Batista crê que a empresa conseguiu integrar seus negócios em todo o mundo e que os investidores voltaram a se interessar. Entre 2007 e 2009 havia muitas dúvidas sobre a capacidade da empresa de se expandir tão rápido e em tantos países. Mas isso mudou e, após a recente aquisição, por US$ 100 milhões, de uma firma canadense, as preocupações diminuíram ou deixaram de existir, disse ele.
Batista rejeita a visão de que a JBS tenha recebido qualquer ajuda especial do governo, embora acredite firmemente que grandes países precisam de grandes empresas. O Banco de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) já investiu bilhões de dólares na JBS ao longo dos anos. Em 2011, o banco converteu a dívida em capital e agora é dono de quase 20% da JBS.
Veículo: Valor Econômico