Camarão nacional não é mais produto de exportação

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Enchentes e doença derrubam produção e venda ao exterior fica zerada em 2012



Banco do Nordeste suspende crédito e atribui medida à alta inadimplência; criadores discordam


A criação brasileira de camarão, com picos e vales nos últimos dez anos, começou este ano com restrições ao crédito e inadimplência recorde, após um 2012 difícil, com exportação inexistente.

A turbulência ocorre num momento em que a atividade, que já liderou as exportações de pescados do Brasil, sobrevive integralmente das vendas realizadas no país e tenta recuperar o fôlego.

O caminho para voltar aos anos dourados -uma década atrás- é longo. A produção caiu entre 15% e 20% -de 90 mil toneladas, em 2003, para algo em torno de 75 mil, em 2012. As exportações, nesse intervalo, se extinguiram.

No lado da produção, houve perdas devido a enchentes no Nordeste, em 2008 e 2009, que alagaram os tanques de criação. A região responde por 90% da produção.

A síndrome da mancha branca, causada por um vírus detectado em 2005 no Nordeste, também causou um baque nos viveiros.

"Hoje, essa síndrome [que não é transmitida ao ser humano] é a enfermidade de maior impacto. Principalmente porque pode atingir mortalidade de 90% da produção em dias", diz a pesquisadora Lissandra Souto Cavalli, do Instituto de Pesquisas Veterinárias Desidério Finamor, do Rio Grande do Sul.

Na Camanor (empresa do Rio Grande do Norte que foi a maior exportadora de camarão do país), a doença derrubou a produção em 80% desde 2011.

"A queda foi de 70 toneladas por mês para entre 10 e 15 toneladas", diz Werner Jost, dono da empresa.

Segundo Jost, a doença foi detectada há dez anos em Santa Catarina e há cinco no sul da Bahia. A partir de 2011 teriam surgido casos na Paraíba, no Rio Grande do Norte, em Pernambuco, em Sergipe e no norte baiano.

Em áreas não afetadas, a produção vem crescendo, e a perspectiva é de mais fôlego para este ano.

"O crescimento no Ceará será bem representativo, pois os produtores estão investindo na intensificação do cultivo. O mesmo vem acontecendo na Paraíba e no Piauí", diz Itamar Rocha, presidente da Associação Brasileira de Criadores de Camarão (ABCC).

CRÉDITO

O crédito, porém, está mais difícil. O Banco do Nordeste (BNB) suspendeu novos financiamentos ao setor. Uma taxa de inadimplência superior a 70% nas operações teria motivado a decisão. A taxa é 15 vezes a média geral da instituição, de 4,8%.

O BNB diz ter emprestado R$ 710 milhões ao setor nos últimos três anos. Desse valor, mais de 70% tem atraso de até dois anos no pagamento. Segundo o banco, 60% dos produtores estão inadimplentes.

O banco diz não ter explicação para o quadro nem previsão para retomar o crédito. Um diagnóstico da inadimplência do setor foi iniciado em janeiro e deve ser concluído no mês que vem.

A ABCC contesta as informações. "Os números são mentirosos, e a decisão do banco é política. Não existe a menor condição de haver essa taxa de inadimplência no setor", diz Rocha, da ABCC.


Produção do setor teve seu auge em 2003


A carcinicultura (criação de camarões em viveiros) atingiu o ápice da produção e das exportações no Brasil em 2003, mesmo ano em que o então presidente Lula criou a Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca.

A secretaria virou ministério em 2009. Com 505 servidores atualmente, o orçamento proposto é de R$ 661,2 milhões.

Apesar de avaliar a pasta como importante para o setor, a Associação Brasileira de Criadores de Camarão diz que tem faltado apoio do governo à atividade.

Segundo Rocha, o setor carece de licenças ambientais, financiamentos, assistência técnica e de desoneração de tributos e custos trabalhistas. Para ele, a pasta não consegue fazer com que os projetos decolem.

O ministério rebate. "O governo tem feito todo esforço para apoiar o desenvolvimento do setor", afirmou, em nota. Entre os projetos de incentivo à atividade, a pasta cita o Plano Safra da Pesca e Aquicultura, lançado em 2012.

O ministério diz que apenas no ano passado assinou dois acordos com a ABCC para apoiar a carcinicultura no Nordeste, no valor de R$ 1,3 milhão.

Desde 2006, diz ter investido mais de R$ 6,5 milhões de forma direta em pesquisa e fomento da atividade.



Veículo: Folha de S.Paulo


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