UE pode reduzir cotas para carne bovina e frango do Mercosul

Leia em 2min 30s

A União Europeia (UE) sinalizou ao Mercosul que, se fizer antes acordos comerciais com os Estados Unidos e com o Canadá, vai dar cotas (volume limitado, com tarifa de importação menor) para os produtores de carnes bovina e de frango desses dois parceiros, diminuindo o volume para cotas aos produtores do Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. Os europeus alegam que não tem capacidade 'infinita' de abertura de seu mercado, e muito menos para produtos agrícolas, onde são conhecidos pelo protecionismo.

Os europeus constatam que o ambiente mudou no Brasil depois que a UE abriu negociações para um acordo de comércio e investimentos com os EUA. Notam que o setor industrial brasileiro está agora pedindo o acordo Mercosul-UE, também como um meio de modernizar o parque industrial e atrair mais investimentos europeus. Nesse cenário, a tática europeia é tentar mostrar que o acordo birregional é mais vantajoso para o Mercosul e que o bloco precisa fazer "mais gestos de abertura" de seu mercado em direção à UE.

Já no Mercosul, negociadores dizem que a UE está tirando boa parte do superavit de sua balança comercial nas vendas para países como Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela, e que, para consolidar essa vantagem em relação a chineses e americanos, precisará compensar o bloco sul-americano.

Assim, prospera entre negociadores do Mercosul a ideia de que, para estabelecer equilíbrio na negociação, o jeito será estabelecer cotas no Mercosul para certos produtos industriais considerados mais sensíveis.

A situação é diferente de 2004, quando o Mercosul queria estabelecer cotas para o setor automotivo como alternativa à recusa europeia de aceitar liberalização do setor ao longo de 18 anos.

Para importantes negociadores, isso mostra que o problema central na negociação não será o fato de o Mercosul admitir que terá de apresentar listas separadas de produtos e prazos diferentes de liberalização. Isso é considerado uma realidade cada vez mais plausível, por causa da persistente resistência da Argentina em abrir seu mercado e da situação especial da Venezuela como membro recente do Mercosul.

'O problema essencial é como chegar ao equilíbrio do acordo, ao ponto em que os dois lados conseguem convencer seus respectivos produtores que ganharam alguma coisa', diz um negociador. "Os europeus vão chiar [sobre cotas para produtos industriais], mas é uma maneira lógica que existe para avançar o acordo", afirma.

Nos dois lados, o espaço para fixar cotas é pequeno. O acerto entre os dois blocos prevê que o acordo birregional deverá cobrir cerca de 90% do intercâmbio comercial. Isso é necessário para respeitar o artigo 24 do Gatt, que estabelece que acordos de livre comércio somente podem ser firmados se abrangerem a maior parte dos bens transacionados entre os dois lados.

Só que as cotas ficam fora dessa exigência dos quase 90% do comércio. Ou seja, será preciso muita negociação para acomodar interesses exportadores do Mercosul em carnes e açúcar, e da Europa na área industrial - ainda mais com prazos diferenciados no Mercosul, de acordo com cada país do bloco.



Veículo: valor Econômico


Veja também

Quando o frango é forte

A divisão de aves da JBS ajuda o seu lucro a mais que dobrar no trimestre, para R$ 482,5 milhõesQuando a J...

Veja mais
Avicultor tem ganho na 'troca' com milho

A combinação entre o aumento dos preços do frango vivo e a retração das cotaç&...

Veja mais
Desembolsos do 'bolsa pescador' vão alcançar R$ 1,9 bilhão neste ano

Uma legislação "frouxa" implementada em 2003 deflagrou uma escalada de gastos que, em pouco tempo, dever&a...

Veja mais
Carnes gaúchas: Do tamanho que merece

Com cerca de 30% do rebanho de corte gaúcho nas mãos, os pecuaristas familiares carecem de aç&otild...

Veja mais
Demanda em alta assegura alta nos preços do frango

Mercado interno brasileiro voltou a apresentar cotações mais fortes.O mercado brasileiro de frango voltou ...

Veja mais
Minerva aposta em exportações do Mercosul nesse ano

O frigorífico Minerva Foods pretende aproveitar a desvalorização cambial dos países do Merco...

Veja mais
JBS alonga em três anos dívidas que assumiu da Marfrig

A JBS já concluiu praticamente todas as negociações com os bancos credores para reduzir o custo dos...

Veja mais
JBS espera reduzir em 2% a dívida da Seara

A JBS, maior exportadora global de carnes, espera renegociar com credores e obter uma redução de 2% no cus...

Veja mais
Consumo de carne sobe na China e eleva receita de exportadores

A expansão do consumo de carne bovina na China está deixando de ser promessa e já rende uma boa rec...

Veja mais