Bisneto do fundador da Sadia, Pedro Furlan cria empresa de pescados e vai concorrer com a sua própria família
NA PRÓXIMA SEMANA, alguns produtos da Sadia à venda em supermercados como Pão de Açúcar, Wal-Mart e Carrefour terão um novo concorrente. Ao lado dos tradicionais nuggets de frango da empresa, estarão expostos nas gôndolas os primeiros empanados de peixe produzidos em escala no Brasil. Eles foram criados pela Nativ, que faz sua estreia no mercado nacional com a ambição de enfrentar os maiores fabricantes de alimentos do País. O curioso é que a Nativ é comandada por Pedro Furlan Uchoa Cavalcanti, 29 anos, bisneto de Attilio Fontana, fundador da Sadia, e sobrinho de Luiz Fernando Furlan, atual presidente da companhia. "Apesar da minha origem, a Nativ não possui vínculo com a Sadia", diz Pedro. "Quero trilhar um caminho próprio."
Pedro teve a ideia de criar a Nativ quando trabalhava na Agência de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex). Sua atribuição era prospectar novos mercados, o que o levou a estudar a fundo o potencial exportador de 26 setores. Decidiu-se pela área de pescados porque é uma atividade pouco explorada no Brasil e também pela semelhança com o ramo de atuação da Sadia. "Nasci dentro do agronegócio, experiência muito útil para o planejamento da Nativ." Pedro trabalhou durante três anos na corporação fundada por seu bisavô. Passou por departamentos como controladoria, marketing e vendas. Na Sadia, também foi um dos coordenadores do programa de trainees para herdeiros da quarta geração. Mas seu negócio não era esperar anos, talvez décadas, para brilhar na gigante de alimentos. Ele tinha pressa e correu como um velocista nos últimos cinco anos.
Ao deixar a Apex, comprou um carro com tração nas quatro rodas e percorreu 20 mil quilômetros no Centro- Oeste e Norte do Brasil, atrás de uma área para estabelecer a fazenda de pescados. A passagem pela Sadia tinha ensinado algo valioso. É importante que a região escolhida favoreça o fornecimento de grãos para os animais - sejam os frangos da Sadia, sejam os peixes da Nativ. Pedro optou por Sorriso, em Mato Grosso, município que detém o título de maior produtor de soja do Brasil. Soja, digase, que passou a alimentar os peixes criados na nova fazenda da empresa.
Nos últimos dois anos, Pedro liderou um grupo de investidores (entre eles, Pierre Doux, da família que é dona do Grupo Doux, uma espécie de Sadia da França), que desembolsou R$ 32 milhões para colocar a empresa de pé (outros R$ 12 milhões vieram de linhas de financiamento). "A Nativ tem um apelo muito forte", diz o empresário. "Além de saudáveis, nossos produtos são exóticos, o que é essencial para atrair o interesse de estrangeiros." Sua linha é composta por 15 itens, in natura ou industrializados, todos originários da Região Amazônica. Entre eles, filé de surubim, hambúrguer de tambaqui e tilápia, que recentemente caiu nas graças de chefs badalados de São Paulo e do Rio de Janeiro. Pedro diz que os peixes produzidos pela Nativ são rastreados por um sistema tecnológico inédito no Brasil. Ao nascer, eles recebem uma espécie de sensor que os acompanha até o momento do abate.
A maior aposta da Nativ é o mercado internacional. Em maio, Pedro embarca para Bruxelas, na Bélgica, para participar de uma feira de alimentos. O Brasil está na rabeira do comércio mundial de peixes e frutos do mar, com uma fatia de 1% do mercado global. "O atual setor de pescados do Brasil lembra a avicultura de 40 anos atrás, quando pouca gente apostava no setor", diz o presidente da Nativ. Há quatro décadas, a Sadia era uma das empresas brasileiras que acreditavam na produção de frangos. Pedro quer seguir o mesmo caminho com sua empresa de pescados.
Veículo: Revista Isto É Dinheiro