Crise dos frigoríficos avança e já afeta o segmento de rações

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O faturamento das indústrias que compõem todo o complexo carnes do Brasil segue em queda no mês de fevereiro e a desaceleração do setor já atinge outros elos da cadeia. A capacidade ociosa elevada, em torno de 40%, está forçando os produtores a pedirem o alongamento dos prazos contratuais que mantêm junto à indústria de nutrição animal e já se fala em inadimplência.

 

De acordo com Ariovaldo Zanni, diretor executivo do Sindirações, a indústria animal, antes da crise financeira se acentuar, estava capitalizada e tinha perspectiva de novos investimentos, impulsionada pela onda de fusões e aquisições. "Hoje nossos clientes, os produtores, estão pedindo o alongamento dos prazos de pagamento que, em alguns casos, já são classificados como inadimplência", disse.

 

Em 2008, o setor de nutrição animal esteve embalado até o mês de setembro, registrando expansão de até 17%. No último trimestre o setor desacelerou para cerca de 3%. "Os meses de janeiro e fevereiro devem repetir o desempenho de dezembro e a partir de março poderemos ver alguma recuperação como consequência natural da reposição de estoques", avaliou Zanni. Mesmo com um primeiro trimestre difícil o Sindirações mantém a projeção de crescer 5% este ano. O executivo alerta ainda para o fato de que a oferta de insumos poderá não acompanhar o repique da demanda da indústria animal e que poderá faltar material para reposição de estoques.

 

Enquanto isso, os frigoríficos continuam acelerando o descarte de matrizes e o número de funcionários dispensados ou em férias coletivas, cerca de 25 mil, já totaliza 10% dos empregos diretos no setor. A Sadia lidera o ranking das paralisações. Desde a passagem do ano cerca de 12 mil funcionários, o equivalente a 20% do total de colaboradores da empresa, já cumpriram férias coletivas. A gigante Perdigão segue a lista com quase 9 mil funcionários em férias. O Minuano concedeu férias coletivas para 2,7 mil funcionários. A Doux Frangosul optou por férias escalonadas, com paradas de 30 dias para cada um dos três turnos nos quais a empresa trabalha. A paulista Coperfrango também enfrenta situação delicada. Os funcionários da maior cooperativa avícola de São Paulo estão com o décimo terceiro e o salário de janeiro atrasados. Na última quarta-feira, a empresa informou aos cerca de 2 mil funcionários que não teria condições de pagar rescisões contratuais caso haja demissões.

 

No Mato Grosso do Sul quase mil postos de trabalho também estão ameaçados. Na última semana o Serviço de Inspeção de Produtos Agropecuários do Estado (Sipag/MS) informou que sete estabelecimentos suspenderam os abates por tempo indeterminado. Juntos eles representam uma diminuição no abate de 2.350 bovinos por dia. De acordo com Fabiano Tito Rosa, analista da Scot Consultoria, é possível que o número seja maior. "Considere uma capacidade de abate média modesta, de cerca de 600 cabeças por dia, e veja para onde vai o total das sete plantas. Mas tomando como premissa de que sejam 'apenas' 2,35 mil cabeças mesmo, o total anual é superior a 680 mil cabeças, levando em conta apenas os dias úteis", explicou. Segundo ele, além das unidades suspensas, deve ser considerada também a ociosidade "forçada" daquelas empresas que estão operando, o que na média brasileira estaria em torno de 40% atualmente. "Explica-se, dessa forma, como o mercado do boi gordo passou a trabalhar em baixa. Não há oferta abundante; o problema é que a demanda, por parte da indústria, encolheu".

 

Em fevereiro, o cenário de preços continuam desanimadores. Segundo levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), apesar de ser baixa a oferta de animais prontos para abate, parte dos pecuaristas tem cedido à pressão de frigoríficos e, entre os dias 4 e 11 deste mês, o Indicador Esalq/BM&F Bovespa (a vista) caiu 3,14%. O principal argumento de frigoríficos para não sustentar os preços continua sendo o mercado atacadista da Grande São Paulo. Em sete dias, a carcaça casada desvalorizou 3,9%.

 

As cotações do suíno vivo e da carne também seguem em queda, pressionadas por demanda interna desaquecida e lentidão nas exportações. A carcaça comum suína já acumula baixa de 24,1% no atacado da Grande São Paulo - principal termômetro do consumo -, e para o animal vivo, a desvalorização chega a 17,6% na região SP-5 (Bragança Paulista, Campinas, Piracicaba, São Paulo e Sorocaba).

 

A Associação Catarinense de Criadores de Suínos (ACCS) já estuda a possibilita de implementar uma Bolsa de Suínos do estado e no próximo dia 19 se reúne com lideranças do setor. Apenas a cotação do frango registrou alta. Entre 30 de janeiro e 12 de fevereiro, o produto congelado teve aumento de 5,09% no atacado da capital paulista.

 

O faturamento das indústrias que compõem o complexo carnes do Brasil segue em queda em fevereiro, e a desaceleração do setor já atinge outros elos da cadeia, como o de rações.

 

Veículo: DCI


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