Nunca antes a ovinocultura remunerou tão bem a carne de cordeiro. Os produtores, enfim, começaram a interpretar nossas leituras do mercado doméstico, cada vez mais exigente quanto à procedência e qualidade dos alimentos. Não quero dizer que a produção nacional chegou no auge em excelência, na verdade é uma atividade que ainda engatinha, mas temos presenciado o fornecendo de ovinos mais jovens para o abate.
Em muitas regiões, a qualidade já é superior àquela carne vinda de fora, essa, inclusive, é uma concorrência desleal. Cortes diferenciados têm seu público garantido, mas custa caro para fazer. Em contrapartida, os canais de distribuição se conscientizaram de que não dá para tapar sol com peneira se tratando de cordeiro. O cliente reconhece pelo cheiro a diferença entre cordeiro jovem e carneiro velho.
Sou otimista em relação ao desenvolvimento da ovinocultura de corte no Brasil. Temos inúmeras regiões ideais à criação. Nossa capacidade natural de produzir alimentos me faz acreditar nisso. Vejam, por exemplo, a bovinocultura de corte. Os produtores atendem o consumo interno e mantêm a liderança nas exportações. Faço essa comparação meramente porque gado e ovino podem caminhar juntos, ocupando a mesma categoria de proteína animal.
Entretanto, existem diferenças entre ambos os segmentos: a arroba do cordeiro de quatro meses é mais valorizada do que a de um boi gordo de 36 meses. O produtor alcança o sucesso quando usa fórmulas bem definidas, como frear os índices de mortalidade, descartar animais inférteis, manter a base de matrizes, agregar valor à carne e garantir escalas frequentes para a indústria.
Refletindo sobre projeções quanto ao baixo crescimento nos próximos anos, cheguei a conclusões que valem a pena serem compartilhadas. O mercado deu um grande salto na última década. Cada vez mais pessoas se surpreendem com o sabor da carne. Ao mesmo tempo, percebemos uma disposição maior do produtor em desempenhar seu papel como nunca.
Nossos recursos são abundantes e acumulamos conhecimento suficiente para evitar erros do passado, sem contar o respaldo tecnológico e científico agora abundante. Devagar, mas sempre avançando, nossa ovinocultura entra nos eixos e vai perdendo a estigma da atividade de subsistência.
Tentando entender essas projeções, conclui que um gargalo que impacta nossa cadeia está em nosso próprio sistema de produção. Vemos técnicos tentando criar modelos, mas sabemos que aquilo que dá certo numa região pode não funcionar em outra. Comparem o Nordeste e o Sul, por exemplo. No primeiro, existe uma concepção de que a ovelha deve parir o ano todo. Entre os sulistas, bom negócio mesmo é produzir um cordeiro de qualidade por ventre/ano. O que realmente interessa economicamente é o desfrute.
Apenas para ressaltar, o negócio está no desfrute. Fazendo uma analogia, há três décadas, uma ave demorava até 140 dias para ser abatida. Atualmente não passa de 40 dias. Detalhe: um filé de frango produzido aqui tem a mesma proporção, textura e sabor de um processado na China, Japão ou em qualquer outro lugar.
De nada vai adiantar aumentar o volume do rebanho se a qualidade da carne não apresentar a excelência esperada pelo consumidor, que deseja um produto saboroso, macio, suculento e sem cheiro. Esses quesitos são conquistados apenas quando os cordeiros são abatidos aos 120 dias, em média, meta alcançada facialmente quando se utiliza o dorper e white dorper nos cruzamentos. Nesses casos, os produtores continuarão desfrutando de boa remuneração sempre. É preciso sempre estar atento aos sinais enviados pela indústria. Esse é o elo principal entre o produtor e o consumidor.
*Presidente da VPJ Alimentos, sediada em Pirassununga (SP)
Veículo: Jornal Diário do Comércio - MG