Com o preço do milho elevado e aumento nos custos de produção, o frango para o atacado brasileiro subiu 13% em um ano, segundo dados do Cepea. A tendência é de alívio na avicultura para o segundo semestre, já que a oferta de grãos deve aumentar no País.
O preço do frango atingiu R$ 3,98 por quilo na primeira quinzena de março deste ano, na comparação com os R$ 3,52 registrados no mesmo mês de 2015. Se descontado a inflação do período, o aumento real foi de 3,7%.
Para os analistas, o alto gasto com insumos, ração animal e mão-de-obra têm puxado para cima os preços da carne de frango.
"Houve um aumento principalmente a partir de setembro. O dólar vem favorecendo as exportações. A indústria vem recebendo mais, e, com isso, os preços sobem", avalia a pesquisadora do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da USP, Camila Brito Ortelan.
O vice-presidente de Aves da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, vai na mesma linha. "O reposicionamento de preços decorre do aumento dos insumos e dos custos de produção. O farelo de soja e preço do milho subiram muito, sem contar o preço da energia. Há certa margem, mas não se pode ficar absorvendo esses custos", disse.
Na opinião do analista da Consultoria Safras & Mercados, Fernando Henrique, outro fator é a mudança no hábito do consumidor brasileiro em momento de crise econômica, que tende a migrar da carne bovina e suína para o frango.
"O consumidor final acaba optando por uma proteína animal mais acessível, que é justamente a carne de frango. Em momentos de recessão econômica, o frango tende a se tornar a principal opção de consumo do brasileiro", afirmou.
Esse movimento também pressionou a carcaça da carne bovina, que subiu 11,3% entre a primeira quinzena de março deste ano e o mesmo mês de 2015, segundo o Cepea. Descontada a inflação, o ganho é de 2,1%. Por outro lado, a carcaça especial suína teve baixa de 7,3% em termos nominais e de 14,9% em termos reais.
Na avaliação de Fernando Henrique, o câmbio valorizado, entre R$ 3,60 e R$ 4, pressiona as exportações, o que também leva ao aumento de preço no mercado interno.
Milho
O baixo estoque e o preço do milho, que dobrou no período de um ano, tem sido uma das grandes preocupações dos produtores de carne nos últimos meses. "Não tem milho disponível no mercado, mesmo com uma safra expressiva. Junto a isso, as exportações foram recorde com o dólar em alta", disse André Sanches, pesquisador de Milho do Cepea.
Segundo ele, outro aspecto é a competitividade do grão brasileiro. Com o preço em alta por conta do dólar, alguns produtores já trazem milho de países vizinhos. Segundo o pesquisador do Cepea, o preço do milho no Porto de Paranaguá, no Paraná, está 16% superior a mesma commodity na Argentina. Em março do ano passado, o valor estava 15% abaixo do país vizinho.
Ricardo Santin, da ABPA, destaca que, há um ano, a saca do milho brasileiro estava em cerca de R$ 25. Atualmente, esse custo dobrou, a R$ 50.
Fernando Henrique, da Safras & Mercados, diz que a ração animal é a principal aflição da agricultura de corte em 2016. "A safra de verão é pequena, e os produtores acabam enfrentando um problema de desabastecimento. Isso também eleva o preço, repassado ao longo da cadeira", diz.
"No Nordeste, a gente tem mais informações contundentes de importação do milho. Com a desvalorização do real, ficou mais fácil trazer da Argentina. Até entrada do milho safrinha, deve permanecer essa situação de estoques baixos", continuou.
A expectativa de produção para 2015/2016 é de 83,5 milhões, sendo 55,2 milhões para a segunda safra. Segundo o Cepea, no Mato Grosso, um dos principais produtores de grãos do País, 90% do que será colhido na segunda safra, em setembro, já está plantado.
Veículo: Jornal DCI