Em uma avaliação prévia, a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp) já identificou um aumento médio de 15% nos preços de pescados importados para a Semana Santa deste ano. Com a pressão do dólar sobre os tradicionais salmão e bacalhau, o feriado cristão deve direcionar a demanda para o produto nacional, que teve queda de 1,5% no período.
Mensalmente, o principal fornecedor do atacado e varejo paulista comercializa entre 4 e 4,5 mil toneladas de pescados. Nesta época, até a Páscoa, a procura chega a subir cerca de 40%. Para 2016, o economista da companhia, Flávio Godas, projeta a manutenção deste percentual.
"Apesar de um possível crescimento no consumo, os nacionais estão caminhando para a estabilidade de preços. Até o momento, verificamos uma queda por volta de 1,5% em relação ao mesmo período do ano passado", afirma o especialista. A redução nos valores culmina com questões relacionadas à cadeia produtiva. Em geral, a extração de algumas espécies é proibida em determinados períodos, chamados defeso. Godas lembra que a sardinha, por exemplo, está fora desta temporada de proibição, ou seja, com ampla oferta. As chuvas também foram satisfatória para o setor.
Além disso, a Ceagesp tende a receber um volume menor do produto importado pois, para o economista, a crise instalada no País, a redução no poder de compra das famílias, pode dificultar o escoamento. O salmão é proveniente do Chile, enquanto o bacalhau vem de Portugal e Noruega. Os nacionais vêm, principalmente, do Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina.
Pelo 11º ano, a companhia promove a Santa Feira do Peixe, que vai até amanhã. No período, iniciado na última segunda-feira (21), a expectativa é comercializar 400 toneladas de peixes e frutos do mar, com foco nos produtos de valores mais acessíveis.
A economia pode chegar a 50%, como é o caso do cação, que está R$ 12,99 o quilo e em feiras livres é vendido a R$ 25 o quilo em média.
Entrave
Por outro lado, nos primeiros elos da cadeia, o cenário não é tão favorável. Do município de São João da Boa Vista (SP), a Central do Peixe atua na reposição de pescados que vão para a distribuição comercial. "Antigamente o produtor usava uma linha de crédito para comprar a alimentação, colocava os peixes para a engorda, retirava na Semana Santa e pagava suas pendências. Agora, não estão fazendo os empréstimos e o preço da ração subiu entre 25% e 40%", conta ao DCI o proprietário da empresa, Adriano Tella.
Segundo ele, o custo com alimentação representa cerca de 80% dos gastos dos piscicultores. A dificuldade na concessão de crédito, comumente, vem sendo relatada por diversos segmentos agropecuários.
Se antes a Central do Peixe vendia 80 milhões de alevinos - peixes recém-saídos do ovo - hoje a estimativa é vender apenas 3 milhões. "Na maioria dos casos, temos feito a reposição de, no máximo, 30% dos peixes", acrescenta Tella.
Veículo: Jornal DCI