O crescimento barato do Friboi

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A maior empresa de carne do mundo cresceu 676% em três anos - e se endividou para isso. Agora precisa emagrecer, mesmo que venda menos

 

Cinquenta frigoríficos deixaram de operar no Brasil nos últimos meses. Falta de crédito, queda na demanda e má gestão quase os levaram à lona. Quando o mercado começou a sentir o cheiro de problema no ar, toda a atenção recaiu sobre a brasileira JBS-Friboi, a maior empresa de carne bovina do planeta, com R$ 30 bilhões em vendas e dona de 45% do mercado mundial de carne. Se os negócios menores tropeçaram feio, qual seria o tamanho do tombo de um gigante como o Friboi? É possível ver agora que não deu para passar ileso. Rentabilidade e volume exportado ficaram aquém das expectativas. Esperava-se lucro líquido no último trimestre de 2008 e veio prejuízo, de R$ 53,5 milhões. Mas existe um plano de ação que já saiu do papel e atinge toda a operação do negócio hoje. As medidas variam de intensidade, mas o foco é único. O grupo precisa enxugar o balanço e parar de se expandir de maneira tão cara. Nenhuma empresa do mundo nessa área cresceu de maneira tão veloz. Em três anos, a receita do frigorífico disparou 676%. Mas, a própria companhia admite a nova urgência. "Mudamos a nossa forma de atuar dentro da empresa. Estamos nos preparando internamente para crescer de forma muito mais barata", disse para analistas, semanas atrás, Joesley Mendonça Batista, CEO do grupo e filho mais novo de José Batista Sobrinho, criador do grupo JBS.

 

A empresa decidiu, por exemplo, rever a sua política de crédito para clientes neste ano. Ela parou de vender para potenciais inadimplentes e preferiu manter o produto parado em estoque ou reduzir a a produção. Nessa mesma linha, ela foi mais longe. Entre vender caro com prazos longos e fazê-lo à vista, por valor menor, ficou com a segunda opção. Isso garantiu caixa imediato.Também deixou de se preocupar tanto com a margem de lucro. Visto assim, parece quase um perjúrio, mas há um contexto na ação. É que seu foco se voltou, de forma quase obsessiva, para o conjunto do balancete financeiro. É o que a empresa chama de "cuidar" do balanço - olhar linha por linha e eliminar riscos. Também numa atitude incomum, o grupo decidiu não estudar mais qualquer nova aquisição a curto prazo - ao contrário do que pregam alguns que, com caixa recheado, saíram à caça de ativos. Na contramão desse movimento, ela partiu neste ano para a integração de operações com a norte-americana Smithfield, adquirida em 2008. "Em tempos de crise severa, a luta é pela sobrevivência. Mas não basta sobreviver. Temos que sobreviver com saúde", afirmou Batista.

 

O eixo principal das medidas tem relação direta com uma postura muito particular do próprio CEO da empresa. Quando comprou a Swift, em 2007, ele dizia que iria fazer os americanos voarem de classe econômica e se hospedar em hotéis baratos. O tamanho do passivo da norte-americana assustava - o endividamento era quatro vezes o caixa e a média do mercado não passava de três. Mas crédito farto e exportações aceleradas ajudavam a sustentar o modelo do grupo. A crise global acirrou protecionismos e fez a demanda mundial travar. E o Friboi decidiu, então, trancar o cofre - e esconder a chave. Começou um processo de desalavancagem da companhia. A empresa quer derrubar a relação entre dívida e Ebitda. O indicador, que foi a 3,7 vezes ao final de 2007, diminuiu para 1,95 em 2008. Mas o ideal, na análise da própria empresa, é de uma relação de até um para um. "Acreditamos que o JBS ressurgirá com uma estrutura de capital mais confortável e fortalecida", informa relatório do analista Pedro Herrera, do HSBC. Internamente, o Friboi prevê que os gastos em melhoramentos, reformas e compras de bens devem ficar em torno de 1,5% da receita líquida em 2009. Mas a taxa foi a 4% nos últimos meses do ano. A queda é brutal - e o susto no mercado com a decisão nem foi tão grande. "É dessa sensatez que o mercado precisa. Não faz sentido gastar um dinheiro que pode fazer falta para a companhia lá na frente", diz Fabiano Tito Rosa, da Scot Consultoria.
 


Veículo: Revista Isto É Dinheiro

 


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