Inadimplência derruba setor de carne e chega aos grãos

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A crise de inadimplência que afeta pecuaristas e frigoríficos já se espalha para o setor de grãos. No Mato Grosso, produtores de soja, milho e algodão, por meio de suas principais entidades representativas, já se articulam para garantir o pagamento dos seus contratos junto às tradings e reverter o processo de recuperação judicial de empresas devedoras.

 

Assim como no setor de carnes, grandes empresas não estão conseguindo saldar suas dívidas junto aos produtores de grãos. Só a Viana Trading, que já teve o pedido de recuperação judicial aceito, informa uma dívida de R$ 50 milhões junto a 1,5 mil produtores de Mato Grosso e do Paraná. A Viana, trading com forte atuação em Primavera do Leste, responde por 65% do mercado de comercialização de grãos no município apenas nesse município, segundo levantamento da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja/MT).

 

Hoje a Aprosoja e a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), se unem às entidades ligadas ao setor de carnes para receber orientação jurídica e econômica de técnicos das Federações de Agricultura dos Estados de Goiás (Faeg), Mato Grosso (Famato) e Mato Grosso do Sul (Famasul). Os três órgãos estudarão os meios legais de auxiliar os produtores credores nas assembleias de recuperação judicial.

 

Na última quinta-feira os presidentes dessas federações, em conferência, definiram como principal medida trabalhar para a modificação da lei de recuperação judicial e falência e centralizar na Confederação Nacional de Agricultura (CNA), mediante procuração dos credores, meios legais para a cobrança das dívidas e participação nas assembleias de recuperação judicial. "Tem empresa pedindo 20 anos de prazo para pagar com dois anos de carência. Não há como um produtor se manter no mercado com um prazo desses", disse José Manoel Caixeta Haun, secretário da Comissão de Pecuária de Corte da Faeg. Para ele, especialmente no que se refere à dívida dos frigoríficos, os agricultores não podem "ficar a mercê de planos absurdos que satisfazem interesses comerciais da empresas".

 

Haun atua em Goiás, Estado onde o Frigorífico Independência fechou ontem mais uma unidade, na cidade de Senador Canedo, onde mantinha aproximadamente 1,1 mil colaboradores e uma capacidade de abate de 1.400 cabeças por dia. A estimativa é a de que a dívida da empresa com os credores de Goiás seja de R$ 23 milhões. A planta de Anastácio, no Estado do Mato Grosso do Sul, também fechou suas portas. Em nota, o Independência alega que o fechamento das unidades é parte de um programa de ajuste das operações do à realidade do mercado atual, que foram severamente impactadas pela menor demanda internacional, pelo excesso de oferta de carne, tanto no mercado doméstico como nas exportações, e pela quedo nos preços de venda da carne. A unidade de Anastácio possui cerca de 900 colaboradores e capacidade de abate de 1 mil animais por dia. Nos últimos meses, ambas as unidades vêm operando com margem bruta negativa de dois dígitos. Os fechamentos são imperativos para tentar preservar a saúde financeira da Companhia e garantir a continuidade de suas operações" comenta Roberto Graziano Russo, CEO do Independência.

 

A ausência de Russo na audiência pública da Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural (CAPADR) da Câmara dos Deputados, realizada ontem para debater os impactos da crise financeira internacional na cadeia produtiva da carne no Brasil, foi uma das mais criticadas por lideranças do setor presentes no evento.

 

Além do CEO do Independência, a ausência de um representante da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) também foi bastante criticada. "A audiência ficou prejudicada porque não esteve presente ninguém da Abiec, nem os presidentes da Abrafrigo e do Independência", disse Fernando Adauto, vice-presidente da Federação Rural do Rio Grande do Sul (Farsul). "Mesmo sem a presença dessas entidades o ministro Reinhold Stephanes esteve presente e algumas ações irão acontecer. Ele prometeu crédito para as exportações, assumiu o compromisso de viabilizar o crédito que hoje está retido pelo PIS/Cofins e prometeu buscar um pleito em tentar reduzir valor do diesel", afirmou Adauto. Um estudo apresentado pela CNA mostra que os produtores rurais tiveram gastos adicionais de R$ 2,2 bilhões com combustíveis na safra 2008/2009. Só com esse item, os gastos totais cresceram 17%, para R$ 15,1 bilhões no período seguinte. O diesel responde por até 11% do custo operacional dos agricultores.

 

Veículo: DCI


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