Passados três dias de tumultos e nenhuma consequência concreta da gripe suína aos produtores brasileiros, o setor começa a crer que, de fato, o Brasil será beneficiado com os embargos, sobretudo os da China e da Rússia, à carne suína dos Estados Unidos e do México. Os dois países juntos exportam em torno de 500 mil toneladas anuais aos russos, volume que tende a ser reduzido, segundo analistas.
De acordo com informações de uma trading europeia, que negocia principalmente carne suína, o embargo aos Estados Unidos está se mostrando muito rígido neste momento. O trader, que preferiu não se identificar, disse que a empresa está com um navio atracado nos Estados Unidos com carne suína para a Rússia e que está impedido de seguir destino ao país do leste europeu. O navio estava sendo carregado, e já continha 1 mil toneladas de carne, volume produzido antes da ocorrência da gripe e já pago aos fornecedores. "O problema se agrava por que muitos outros países proibiram a carne suína americana, tais como Filipinas e China. Por isso, diminuem nossas possibilidades de recolocar essa carne comprada em outro mercado", diz o trader Ele acrescenta que aguarda um documento do governo russo que permita a importação dessa carne produzida antes do surto de gripe.
O JBS informou que no Texas, um dos estados americanos embargados pela Rússia, há uma unidade de suínos do grupo. Mas, que apenas 2% das exportações do grupo a partir dos EUA seguem para o mercado russo.
De acordo com o trader europeu, há na Rússia "fortes rumores" de que será proibido em breve importar carne suína do Brasil. "Por isso há grande número de empresas no país pedindo que as cargas sejam embarcadas rapidamente".
Mas rumores contrários estão sendo mais ouvidos aqui pelo Brasil, segundo Pedro de Camargo Neto, presidente da Associação Brasileira das Indústrias Produtoras e Exportadoras de Carne Suína (Abipecs). "Há rumores de que a procura pela carne brasileira vai aumentar. Mas não quero especular, pois há muita incerteza", afirma o presidente da Abipecs.
Ivanir Rocha, diretor-presidente da trading brasileira Meat Center, reiterou que não havia até ontem nenhuma mudança no ritmo de negócios de exportação de carne suína do Brasil. "Nossa avaliação é de que a tendência é de o mercado subir, uma vez que embargando alguns países, aumentará a demanda pela carne brasileira em mercados importantes, como os do leste europeu e da China", diz Rocha.
Ele acrescenta que, por enquanto, os preços de exportação estão estáveis, com a carcaça suína a US$ 2, 350 mil a tonelada. No mercado interno, o preço pago ao produtor também não se alterou desde a última sexta-feira, quando foram anunciados os surtos da gripe no México e nos Estados Unidos. Segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP) o quilo do suíno vivo em São Paulo foi cotado ontem a R$ 2,39, mesmo patamar da última sexta-feira, dia 24.
Em meio a tantas informações desencontradas, o mercado de capitais iniciou correção das perdas da última segunda-feira. As ações dos frigoríficos na BM&F Bovespa tiveram ontem o segundo dia de recuperação. Os papéis do JBS fecharam ontem em R$ 6,41, alta de 2,88%. Na terça-feira, a alta foi de 2,13%, mas ainda assim, as ações da companhia não atingiram o patamar de R$ 6,95 da sexta-feira, antes do "efeito gripe". Somente Minerva e Marfrig recuperaram as perdas de segunda-feira. Os papéis do Minerva fecharam ontem em R$ 2,75 e os do Marfrig fecharam em R$ 11,16.
Veículo: Gazeta Mercantil