Frigoríficos devem negociar prioridade para pecuaristas

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Diante da posição inflexível de pecuaristas, sobretudo os do Centro-Oeste, de não fornecer mais bois aos frigoríficos enquanto não forem pagos débitos atrasados, não está restando outra alternativa a essas indústrias a não ser a de criar alguma forma de priorizar o pagamento desses fornecedores dentro do plano de recuperação judicial. Além de se negarem a fornecer animais para abate, os pecuaristas estão também partindo para práticas mais radicais como bloqueio de acesso de entrada de bois em alguns abatedouros, evitando assim que haja abate de animais fornecidos pelos que "furam" o movimento.

 

Depois de 15 dias com atividades suspensas por bloqueios na unidade de Nova Monte Verde (MT), o frigorífico do Grupo Arantes, que entrou com pedido de recuperação judicial em 9 de janeiro, confirmou que está tentando negociar o pagamento dos pecuaristas no município. Nas últimas rodadas, foi ofertada a quitação do débito de R$ 6 milhões em 12 parcelas, proposta que foi rejeitada pelos produtores. "Eles têm dinheiro para pagar à vista. Não tem motivo para parcelar", protestou Jeremias Prado dos Santos, produtor e um dos líderes do movimento em Nova Monte Verde. Segundo ele, algumas renegociações semelhantes já foram fechadas pelo frigorífico Quatro Marcos, em Vila Rica (MT) e pelo próprio Arantes, em Pontes e Lacerda (MT) e com pecuaristas de Imperatriz (MA), onde a previsão é retomar abates neste mês.

 

Os produtores do Centro-Oeste aguardam sinalização concreta de pagamento do frigorífico Independência para voltar a fornecer boi nas cinco plantas que a empresa mantém no estado. "Há um forte movimento de resistência aqui em Mato Grosso do Sul", diz Pérsio de Souza e Silva, presidente do Sindicato Rural de Aparecida do Taboado (MS). O Independência tenta retomar atividades, inicialmente, em Nova Andradina (MS), Juína, Colíder e Pontes e Lacerda (MT).

 

O Independência conseguiu há um mês retomar parte do abate na unidade de Janaúba (MG). Para os pecuaristas do município, a empresa deve R$ 17 milhões. José Aparecido Mendes Santos, vice-presidente do Sindicato Rural local, explica que os produtores só voltaram a vender bois à empresa, porque, realmente, não tinham outra opção, pois a indústria mais próxima fica a 900 quilômetros da cidade. "Eles estão pagando à vista, e em 70% dos casos, quitando antecipado, ou seja, antes de o produtor embarcar o boi", relata. Ainda assim, a aversão ao risco e a revolta com a inadimplência restringiu bastante a oferta ao Independência. "Dos 250 pecuaristas que eram fornecedores da empresa, apenas 60 voltaram a fazer entregas", acrescenta Santos. Em Janaúba, a indústria suspendeu a atividade de desossa e, apenas está abatendo 450 animais por dia, ante os 1,2 mil de antes do fechamento.

 

Na última sexta-feira, o Independência reuniu-se na Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) com representantes dos pecuaristas para explicar sua situação financeira e as medidas que vêm tomando para reduzir custos. "Não houve nenhuma proposta. O presidente, Miguel Russo Neto, apenas disse que está tentando convencer outros credores, como os bancos, que detêm a maior parte dos crédito com a empresa, a aceitarem priorizar os pecuaristas no plano de pagamento", relatou Eduardo Alves Ferreira Neto, diretor-tesoureiro da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato).

 

O Independência acumula dívida de R$ 3,45 bilhões, dos quais R$ 172 milhões (4,9%) com pecuaristas. Os bancos respondem pela maior parte dos débitos da companhia (52%) que, antes de entrar em dificuldades, era o quarto maior do País em capacidade de abate. O frigorífico não quis comentar se há ou não negociação com credores em curso. Se resumiu a confirmar que houve uma reunião na CNA com o objetivo de apresentar um resumo do relatório diagnóstico da KPMG nas mesmas linhas das conferências feitas nos últimos dias.

 

Justiça

 

A realização de acordos de pagamento de pecuaristas fora do processo de recuperação pode ser questionada por outros credores. "Em tese, todos os credores estão sujeitos às regras da recuperação. Esses acordos de pagamento terão que ser levados às reuniões e aprovados como medidas urgentes", explica Julio Mandel, da Mandel Advocacia.

 

Ainda há informações desencontradas sobre a real situação de recuperação judicial do frigorífico Arantes. Levantamento feito pela Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat) apontou que o Juízo da 2ª vara de Falências de São Paulo sequer apreciou o pedido da empresa. Além disso, segundo o levantamento, o magistrado responsável pelo processo, nem mesmo decidiu quanto à competência do foro, "o que faz entender que, formalmente, não há Recuperação Judicial no grupo Arantes".

 

Os advogados do Arantes, informaram, que o Juízo da Vara Única da Comarca de Nova Monte Verde (MT) deferiu o pedido de recuperação em 12 de janeiro.

 

Veículo: Gazeta Mercantil


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