Pressionado por pecuaristas, bancos, fornecedores e todo o tipo de credores, o frigorífico Independência corre contra o tempo. O prazo para que o plano de recuperação seja aprovado ou não pelos credores vence no final de novembro. A empresa tem até 180 dias para apresentar, negociar, votar e aprovar ou não seu plano, prazo que está chegando ao fim, já que, oficialmente, o processo de recuperação teve início no dia 28 de maio deste ano. Caso esse limite seja ultrapassado, os credores poderão voltar a processar os títulos que possuem da empresa, o que não podem fazer hoje por causa do período de recuperação judicial.
Foi pensando exatamente no prazo que o advogado do Independência Luis Fernando Paiva propôs um cronograma de planejamento, discussão e redação de um novo plano de recuperação. Por esse motivo, a assembleia realizada ontem em São Paulo foi suspensa pela segunda vez, para que reuniões com todas as categorias de credores pudessem ser realizadas até o final da próxima semana. A ideia é ter um novo plano redigido até a quinta-feira da próxima semana, para que seja votado no próximo dia 5 de novembro. "O que ainda não sabemos é por que não fizeram isso desde a primeira assembleia", afirma Armando Biancardini Candida, advogado da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat).
Na tarde de ontem, representantes do Independência e dos pecuaristas começaram a discutir a elaboração do novo plano. Os pecuaristas insistem no pagamento de 100% dos débitos e correção integral dos valores. O advogado da empresa, no entanto, insiste em dizer que a capacidade de pagamento da empresa é de até R$ 100 mil, que seriam quitados até 31 de janeiro de 2010 e o saldo restante dividido em 36 meses, corrigido pelo IPCA. "A maioria dos pleitos dos pecuaristas foi aceita e a empresa aceita pagar o valor que exceder os R$ 100 mil corrigidos", afirma Paiva.
Com os fornecedores gerais, a empresa tem uma reunião marcada para hoje e que promete gerar discussão. Isso porque, para aumentar de R$ 80 mil para R$ 100 mil o teto de pagamento para os pecuaristas, o Independência reduziu a proposta de pagamento à vista dos fornecedores de R$ 80 mil para R$ 40 mil. Com os bancos, a empresa se reúne amanhã. "Gostaria que constasse em ata que os credores não farão mudanças no plano após ele ser divulgado, no dia 30", fez questão de ressaltar Paiva.
Enquanto o Independência se mostra disposto a flexibilizar alguns pontos de seu plano original na medida em que seu prazo se aproxima do fim, nos bastidores do processo de recuperação judicial algumas especulações começam a ficar mais fortes. Uma delas é que JBS e Marfrig estariam comprando de alguns bancos parte dos títulos emitidos pelo Independência no mercado internacional. Ao comprar a dívida, os dois maiores frigoríficos do Brasil comprariam também o direito a voto no processo de recuperação e poderiam ter um peso importante no futuro da empresa.
Independentemente do resultado das reuniões desta semana, o processo de recuperação tem data certa para terminar. No próximo dia 5 de novembro o mercado saberá se o plano para recuperação foi aprovado ou se a falência daquele que figurou entre os cinco maiores frigoríficos do Brasil durante bastante tempo será decretada.
Veículo: Jornal do Commercio - RJ