Cristina nega barreira a alimento processado

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Após uma semana de fortes pressões por parte de empresários e governos da União Europeia e do Brasil - e ameaças de retaliação dos principais sócios comerciais da Argentina - a presidente Cristina Kirchner exibiu ontem um insólito recuo em sua política protecionista e negou a existência de restrições à entrada de alimentos não frescos que rivalizem com similares argentinos. "Não houve restrições, de forma alguma", afirmou, impassível, a presidente, em Madri, antes de participar de um jantar de gala oferecido pelo rei Juan Carlos e seu filho, o príncipe Felipe, a lideranças do Mercosul e da União Europeia.

 

Embora negada pela presidente Cristina, a polêmica medida de proibição da importação de alimentos não frescos havia sido emitida há duas semanas pelo secretário de Comércio Interior, Guillermo Moreno, definido por analistas e líderes da oposição como o homem que "faz o trabalho sujo dos Kirchners".

 

A proibição para a entrada de alimentos não frescos, que entraria em vigência no dia 1 de junho, era puramente verbal, como grande parte das ordens de Moreno, que costuma telefonar a empresários para impor medidas sem resolução ou decreto por escrito que as oficialize. A medida implicaria em obstáculos para a entrada de produtos como o presunto cru espanhol e italiano, além do milho em lata e o chocolate brasileiro.

 

Cargas brasileiras chegaram a ficar bloqueadas na fronteira por uma semana, mas, no domingo, o governo argentino liberou seis caminhões carregados com milho em lata, frango e produtos elaborados com carne suína que estavam retidos na alfândega de Paso de los Libres, cidade vizinha a Uruguaiana.

 

Cristina Kirchner desembarcou na capital espanhola para participar da reunião de cúpula de países da América Latina e União Europeia. As declarações da presidente Cristina sobre a inexistência da controvertida medida foram realizadas durante a reinauguração dos escritórios da companhia aérea estatal Aerolíneas Argentinas.

 

"Não devemos nos impressionar pelo fato de que existam interesses comerciais de um lado e de outro. Temos que ser sensatos, realistas, inteligentes, ver toda essa história e ‘não ver a palha no olho alheio' (expressão bíblica usada costumeiramente no idioma espanhol para indicar que alguém enxerga pequenos defeitos nas outras pessoas e não percebe grandes defeitos em si próprio)", explicou Cristina Kirchner.

 

Na sequência, a presidente arrematou com tom conciliador: "precisamos ter uma visão mais completa para encontrar soluções em escala global dos problemas que temos atualmente".

 

Na semana passada, Moreno havia declarado em uma reunião com a Câmara de Importadores da Argentina, que a medida - negada agora por Cristina Kirchner - pretendia reduzir em pelo menos US$ 300 milhões o volume de produtos alimentícios não frescos importados que rivalizassem com os similares argentinos.

 

As medidas protecionistas argentinas em grande escala contra o Brasil datam de 1999. Houve picos em 2004, quando o então presidente Néstor Kirchner (2003-2007), marido e antecessor da presidente Cristina Kirchner, desatou a "Guerra das Geladeiras" (barreiras contra a linha branca e televisores).

 

A onda protecionista argentina retornou com força em meados de 2008, embalada pela crise financeira mundial. Posteriormente, aumentou com a designação da economista Debora Giorgi - apelidada de Senhora Protecionismo - para o cargo de ministra da Produção.

 


Veículo: Jornal do Comércio - RS


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