Juros altos não devem impedir o consumo

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A elevação da taxa básica de juros do país, fixada em 10,25% ao ano, deverá em um primeiro momento arrefecer o consumo interno, mas não terá no médio e longo prazos capacidade para diminuir o dinamismo da economia. Mesmo no caso do setor automotivo e da linha branca, que não contam mais com as medidas anticíclicas do governo, as vendas permanecerão favoráveis.

 

Apesar do crédito mais caro, o aumento dos custos poderá ser diluído em parcelamentos mais numerosos. Conforme estudo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), os impactos da elevação da Selic na ponta do consumo serão pequenos.

 

Na compra de uma geladeira no valor de R$ 1,5 mil financiada em 12 vezes cada prestação será R$ 0,59 mais cara e o valor final superior em R$ 7,08. A taxa de juro que antes, com a Selic em 9,5% ficava em 5,83% ao mês, agora com o novo patamar estabelecido pelo Banco Central é de 5,89% mensais. O preço final saiu de R$ 2,127 mil para R$ 2,134,08 mil.

 

"O primeiro impacto é de redução nas vendas pelo efeito psicológico da alta nos juros, mas o impacto real não é significativo o que em uma economia aquecida não tem força para frear o consumo", disse o vice-presidente da Anefac, Miguel José Ribeiro de Oliveira.

 

O mesmo levantamento apontou que no caso da compra de um automóvel com preço de R$ 25 mil parcelado em 60 vezes, cada parcela ficará R$ 11 mais cara. O estudo considera que o ajuste na taxa Selic será repassada integralmente ao preço do produto.

 


Apesar do crédito mais caro, a alta dos custos poderá ser diluído em parcelamentos mais numerosos

 

Empresas - A influência do aumento da Selic no capital de giro das empresas também foi alvo estudo. Em um empréstimo de R$ 50 mil pelo prazo de 90 dias a taxa que antes era de 3,15% ao mês passará a ser de 3,21%, o que será equivalente a uma elevação real de R$ 95,82 nos total dos juros pagos. Cada parcela terá valor de R$ 4,971,22 mil contra R$ 4,875,40 que antes era cobrada.

 


Para o coordenador de pesquisas e desenvolvimento da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Ipead), órgão vinculado à Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Wanderlei Ramalho, o consumidor brasileiro se acostumou a trabalhar com juros altos.

 

"Com as taxas de juros no Brasil sempre inexplicavelmente altas, o consumidor não tem mais preocupação em analisar o tamanho do juro", disse. Além disso, ele considera que a demanda aquecida da forma como está, as vendas tanto do comércio quanto de bens duráveis não terão redução.

 

Com a utilização do dilatamento dos prazos de pagamento como estratégia para manter a comercialização em alta, estes setores manterão os níveis de consumo semelhantes ao de antes da elevação da Selic.

 

"Primeiro o impacto do aumento é defasado e não tem efeito imediato nos negócios. Depois, a preocupação do consumidor é se as parcelas cabem no salário, o que vai ocorrer porque o que aumentará é a quantidade de parcelas", concluiu Ramalho.

 

Como forma de conter o avanço da crise na economia nacional, a União desonerou diversos setores para impulsionar as vendas. Entre eles, a indústria automotiva e a da linha branca, que tiveram redução das alíquotas do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).

 

Esses segmentos foram responsáveis em grande parte pela retomada da economia brasileira, porém, para ambos, o benefício fiscal já terminou e, além da recomposição das alíquotas, agora as taxas de juros serão maiores.

 


Veículo: Diário do Comércio - MG


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