Déficit da balança comercial da indústria pode aumentar

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A combinação de câmbio desfavorável às exportações com a competitividade de preço dos importados poderá aprofundar ainda mais o déficit da balança comercial da indústria de transformação, que chegou a quase US$ 19 bilhões nos primeiros cinco meses do ano.

 

"O importado veio para ficar", diz Fábio Silveira, sócio diretor da RC Consultores. Para ele, os insumos originados do exterior ainda são destinados principalmente para a produção suplementar resultante do mercado doméstico aquecido. Mas, com a perspectiva de desaceleração no segundo semestre, o importado caminha para tomar lugar da matéria-prima nacional. Se a taxa de câmbio se comportar como previsto, não haverá, diz, motivo para deixar as compras externas de lado, em razão da competitividade dos importados. Para Silveira, o déficit da balança da indústria pode chegar a US$ 30 bilhões até o fim do ano.

 

Ele lembra que atualmente boa parte da produção anteriormente exportada está sendo desovada no mercado interno, o que aumenta a concorrência não só com os importados, mas também entre os fabricantes domésticos. Isso leva à procura de insumos importados que possuam preços melhores. O que chama a atenção, diz Silveira, é que a importação começa a ficar mais forte em segmentos produtores de bens intermediários, como o metalúrgico. "O setor siderúrgico brasileiro sempre teve boa competitividade", diz. De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), a importação brasileira de ferro e aço de janeiro a maio de 2010 aumentou em 51,7% em termos de valor e 146,2% em volume. O preço médio caiu de US$ 1.493,5 a tonelada nos primeiros cinco meses do ano passado para US$ 920,6 no mesmo período de 2010.

 

A recuperação lenta da demanda internacional depois dos efeitos da crise financeira e as incertezas provocadas pela zona do euro devem continuar afetando as exportações de alguns setores, acredita José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). A queda nos embarques, diz, contribuiu nos cinco primeiros meses para o déficit da balança de alguns segmentos da indústria.

 

Um exemplo é a indústria de material de transporte, cujo déficit de US$ 197 milhões de janeiro a maio de 2009 ampliou-se para US$ 1,3 bilhão no mesmo período deste ano. Para Castro, isso deve-se à pequena elevação das exportações, de 26,1%, e da forte elevação das importações, que cresceram 46,6%. "A produção de embarcações e caminhões está voltada para o mercado interno enquanto as importações crescem por conta dos investimentos em infraestrutura, como os equipamentos móveis para portos, por exemplo."

 

Para Silveira, o aumento das importações em alguns setores mostra que há necessidade de uma atuação mais efetiva do Estado para criar condições mais competitivas para a indústria doméstica, com melhoria de condições gerais, como a carga tributária.

 

Nem todos os setores, porém, estão apresentando déficit maior neste ano. O setor de celulose e papel, por exemplo, elevou os valores embarcados e, com isso, ampliou o superávit de US$ 1,4 bilhão de janeiro a maio de 2009 para US$ 2,1 bilhões no mesmo período deste ano.
 

 

Veículo: Valor Econômico


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