Volume importado cresce 41,5% e preço sobe 1,7% até maio

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O ritmo de crescimento das importações em 2010 impressiona. De janeiro a maio, o volume importado (de todos os bens e por todos os setores) aumentou 41,5% em relação ao mesmo período de 2009. Os preços, por sua vez, subiram apenas 1,7%, abaixo da variação da inflação doméstica. A força da demanda interna e o câmbio valorizado fizeram disparar especialmente o volume de compras externas de bens intermediários (insumos como aço, plástico e produtos químicos), que registraram alta de 51,3% nos primeiros cinco meses do ano, e de bens duráveis (como veículos e eletroeletrônicos), com aumento de 77,1%.

 

As importações de bens de capital subiram 20,1% no período, mas mostraram aceleração em maio, ao crescer 46,6% sobre o mesmo mês de 2009. Os números são da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex).

 

"Esse crescimento é resultado da soma explosiva de demanda forte e dólar barato, que no Brasil bate mais forte nas importações que nas exportações", diz o economista André Sacconato, da Tendências Consultoria Integrada. Para ele, as importações de bens intermediários e bens de capital são um sinal positivo, por sinalizar aumento da produção futura das empresas. Sacconato afirma ainda que crescimento robusto da produção industrial local indica que não há um problema sério de desindustrialização na economia brasileira. Outro ponto positivo, segundo ele, é que as importações ajudam a controlar a inflação. A alta modesta dos preços dos importados no ano seria um sinal disso.

 

O consultor Júlio Gomes de Almeida, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), vê o movimento com desconforto. "O aumento de importações não é ruim. O que assusta são as taxas de crescimento", afirma ele. Almeida se preocupa especialmente com a explosão das compras de intermediários. É o miolo da indústria cedendo lugar aos produtos importados, diz ele.

 

Segundo Almeida, num momento em que a demanda interna cresce muito, o processo parece pouco danoso, pois há espaço para a produção local crescer com força, mesmo com a disparada das importações. A questão é que o cenário tende a ser menos róseo quando houver uma moderação da atividade econômica. Com um ritmo de crescimento mais modesto, as importações tendem a ocupar algum espaço da produção doméstica. "O Brasil tem problemas de competitividade sistêmica", diz ele, citando como obstáculos o câmbio valorizado e o custo alto de se produzir aqui. Além disso, ele nota que há um aumento expressivo do financiamento às importações, sinal da facilidade de obtenção de empréstimos no exterior.

 

O economista Júlio Callegari, do J.P. Morgan, diz que as importações devem perder parte do fôlego daqui para frente, já que a atividade econômica não vai avançar ao ritmo chinês dos primeiros meses do ano. Callegari projeta crescimento de 7,5% em 2010, o que embute uma desaceleração expressiva da economia. Se no primeiro trimestre houve alta de 2,7% sobre o trimestre anterior, feito o ajuste sazonal, ele espera uma alta média pouco superior a 1% nos três trimestres restantes. Ainda assim, o volume importado deve crescer a 38% no ano, segundo Callegari.

 

Números com ajuste sazonal da LCA Consultores indicam que houve em maio uma pequena queda do volume total importado, de 1% em relação a abril. As compras de intermediários caíram 7,6% nessa base de comparação, mas as importações de bens de capital subiram 13% no mesmo período.
 


Veículo: Valor Econômico


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