Tesouro colocará títulos da dívida no Fundo Soberano, que os venderá
Governo estuda afrouxar comprometimento de patrimônio dos bancos em transação com títulos de outras moedas
Preocupado com a entrada de dólares para a capitalização da Petrobras, o governo vai lançar um pacote de medidas para segurar a valorização do real. O pacote inclui o uso do Fundo Soberano para a compra de dólares.
Depois de descer até R$ 1,70, o dólar subiu ontem pela primeira vez após dez dias de baixa. A moeda americana terminou o dia a R$ 1,727, com valorização de 1,11%.
Pela proposta do ministro Guido Mantega (Fazenda), o Fundo Soberano comprará dólares por meio de seu "subfundo" cambial.
Esse instrumento, diz, não foi usado ainda e funcionaria assim: o Tesouro coloca títulos da dívida pública no Fundo, que os vende no mercado e troca os reais obtidos com a transação por dólares.
"Estamos preparados para enxugar um eventual excesso de dólares."
Segundo Mantega, a Fazenda está preparada para combater "o jogo" dos países que mantêm "artificialmente" suas moedas depreciadas para promover as exportações e ganhar mercados.
Entre as medidas, o governo estuda ainda ampliar o percentual que os bancos podem comprometer de seu patrimônio em transações com títulos em outras moedas.
A situação atual difere da ocorrida na eleição de 2002, quando o dólar chegou a R$ 4,00 por conta da desconfiança com a continuidade da política econômica.
COMÉRCIO EXTERIOR
O câmbio apreciado dilui a competitividade das exportações e retira o incentivo da indústria nacional para competir com os importados.
"Não vi nenhum candidato falar de comércio exterior. O câmbio está defasado há tempo e tem aumentado as importações", disse Roberto Segatto, presidente da Abracex (Associação Brasileira de Comércio Exterior).
Segundo Segatto, o parque industrial brasileiro possui máquinas de 17 anos atrás que, junto com o câmbio e a carga tributária alta, eleva os custos de produção.
Para Antonio Correa de Lacerda, economista da PUC, a defasagem do câmbio provoca mudança no comércio exterior (que não condiz com o mercado interno brasileiro) e afasta investimento produtivo de multinacionais, que fazem orçamentos em dólar e veem custos altos no Brasil.
"É equívoco dizer que a taxa de câmbio é só ativo financeiro e que câmbio é problema de exportador. Ele é determinante para produção."
Veículo: Folha de S.Paulo