No Brasil, produtor perde e consumidor ganha com Doha, aponta estudo

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Os produtores brasileiros terão mais a perder do que a ganhar, enquanto os consumidores podem ter uma boa economia com mais importações baratas se a Rodada Doha de liberalização global for concluída com as propostas que estão atualmente na mesa. As conclusões são de estudos apresentados ontem na Organização Mundial do Comércio (OMC), em seminário destinado a medir ganhos que uma abertura agrícola, industrial e serviços poderiam gerar para a economia mundial.

 

Pelas estimativas do Peterson Institute, de Washington, o Brasil importaria US$ 6,2 bilhões a mais do que exportaria adicionalmente, levando em conta os compromissos de cortes tarifários e reformas (como na área de serviços) que reduziriam barreiras. O país só aumentaria em US$ 2,7 bilhões as exportações de produtos agrícolas e industriais, e poderia exportar outros US$ 6 bilhões com iniciativas de mais abertura em certos setores, venda de serviços etc. O pouco volume de exportações agrícolas reflete o tamanho das barreiras tarifárias que persistirão, além da concorrência desleal em função dos subsídios bilionários que os Estados Unidos e a União Europeia querem manter.

 

Em contrapartida, as propostas atuais permitiriam importações adicionais de US$ 14,9 bilhões, basicamente pela melhora nas alfândegas, iniciativas de abertura mais rápida e, certos setores e também com peso nas compras de serviços.

 

Economistas do Banco Mundial apresentaram resultados em termos de "bem estar econômico". Concluem que, mesmo se o Brasil mantiver altas tarifas para proteger setores industriais mais sensíveis a concorrência externa, os ganhos pelo acordo para o consumidores brasileiros seriam de US$ 4,7 bilhões, com importações mais baratas. Se o país aplicar apenas os cortes definidos por uma formula, portanto abrindo mais o mercado, o ganho para o consumidor dobraria para US$ 9,8 bilhões.

 

Globalmente, o pacote de liberalização poderia render até US$ 280 bilhões em produção adicional. Mais da metade do ganho em aumento do PIB ficaria com UE, China e Estados Unidos. Doha poderia reduzir também os custos em 9% nas transações comerciais internacionais.

 

Apresentados os números, embaixadores dos principais países debateram duas horas, mostrando que as diferenças de interesse para alcançar um acordo ainda são enormes. O embaixador brasileiro Roberto Azevedo reclamou que o Brasil não tem certeza ainda de quanto ganhará com mais exportação agrícola, mas sabe que não ganhará nada em exportações adicionais nas áreas industriais e de serviços.

 

Os EUA cobraram mais abertura por parte dos emergentes, o que o Brasil rejeitou duramente. Alem dos cortes normais, Washington quer a abertura adicional no setor químico brasileiro, onde pede forte redução sobre 1.700 linhas tarifárias para que Doha possa ser retomada. Os EUA reivindicam também amplos cortes de tarifas de importação de máquinas industriais, equipamentos elétricos e eletrônicos. Azevedo exemplificou que atender "uma fração" do que os americanos pedem em certos setores industriais implicaria quase dobrar o tamanho do corte tarifário.

 

Na cúpula do G-20, em Seul, no mês que vem, sairá um novo comunicado dos chefes de Estado dando "impulso político" para a negociação ser concluída, mensagem que já perdeu credibilidade de tanto ser repetida.

 

Veículo: Valor Econômico


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