Empresas de açúcar e álcool elevam investimentos na geração de energia

Leia em 6min

Estratégia. Grupos como Cosan, ETH e Açúcar Guarani usam cada vez mais o bagaço de cana para produzir eletricidade, uma forma de reduzir custos e aumentar a competitividade das usinas; pedidos de financiamentos para cogeração vêm aumentando no BNDES

 

Grandes empresas do setor sucroalcooleiro estão elevando seus investimentos em cogeração de energia com a queima do bagaço da cana-de-açúcar, de olho na maior competitividade que a inclusão da produção de bioeletricidade traz para toda a usina.

 

"Estamos priorizando a cogeração de energia em nossas usinas porque, ao utilizar o bagaço de cana como matéria-prima, reduzimos os custos e nos tornamos mais competitivos. Agregamos receita ao nosso negócio a partir da mesma cana que já produziu açúcar ou etanol", diz o presidente da Açúcar Guarani, Jacyr Costa Filho.

 

Para o diretor de pessoas e sustentabilidade da ETH, Luiz Pereira de Araújo Filho, a receita extra que a cogeração cria é de até 15% do faturamento da unidade, mas o impacto geral está acima de 25%. "Além de reduzir o custo, estamos diminuindo o passivo ambiental da unidade ao nos livrarmos do bagaço", disse.

 

Essa preocupação já fez aumentar a busca de linhas de financiamento para cogeração no BNDES. Diante da falta de capital suficiente para construir novas usinas, muitas empresas optaram por ampliar a capacidade de cogeração e de açúcar. A fabricante de equipamentos Dedini também registrou um aumento nas encomendas de equipamentos para cogeração.

 

O gerente de Departamento de Biocombustíveis do BNDES, Artur Yabe, informa que a maior demanda do setor tem sido feito por usinas já em operação que querem fazer o "retrofit", ou seja, buscam recursos para trocar as caldeiras existentes por outras, de maior potência, e mais eficientes na produção de energia. "A cogeração é a principal demanda existente hoje do setor no BNDES", disse.

 

Para Yabe, esta busca maior por cogeração é um reflexo do atual estado das usinas brasileiras. "Apenas 20% das usinas têm caldeiras de alta eficiência. Então, para ser competitivo neste mercado, as empresas têm de se modernizar", disse.

 

A crise financeira mundial interrompeu o crescimento da participação do setor sucroalcooleiro nos desembolsos do BNDES. Em 2004, a participação das usinas era de apenas 1,53% do total desembolsado. Essa fatia chegou a 6,85% em 2008. Com a crise, recuou para 4,61% e, em 2010, até o final de outubro, a participação mostrava recuperação para 5,2% do total.

 

Cogeração. Nos próximos dois anos, a Guarani vai elevar sua produção de 300 mil megawatt/hora (MWh) para 700 mil MWh. A expectativa é de que a receita da Guarani com a venda de energia atinja R$ 105 milhões por ano em 2013. Das sete usinas do grupo, quatro possuem investimentos em cogeração. "No último leilão realizado em agosto, vendemos energia de duas usinas, a São José e a Mandú, que representam uma oferta de 430 mil MWh por ano", disse Costa. Segundo ele, o preço médio de venda foi de R$ 150 por MWh.

 

A ETH Bioenergia também está investindo em cogeração tanto em projetos novos como na ampliação da produção já existente. "Três de nossas usinas estão ampliando sua capacidade com a colocação de uma nova caldeira de alta pressão", informa Araújo. Com a expansão, as unidades de Conquista do Pontal, Santa Luzia e Rio Claro vão praticamente dobrar sua produção. Em 2010, as usinas Eldorado e Alcídia comercializaram mais de 2,3 milhões de MWh e iniciam a entrega a partir de 2011.

 

Além disso, das quatro usinas da Brenco que foram absorvidas pela ETH, três subestações de energia já estão prontas. No geral, Araújo informa que 70% da energia produzida pelas usinas do grupo já foram comercializadas. Segundo ele, parte da energia é deixada para ser comercializada no mercado livre. "A receita esperada com a venda desta energia durante toda duração do contrato, de 15 anos, é de R$ 4 bilhões", explica. Por ano, a receita deverá ser de R$ 266 milhões.

 

O executivo explica também que algumas usinas do grupo, localizados em Mato Grosso do Sul e Goiás, já estão com seus equipamentos prontos para operar, mas não conseguem colocar o excedente no sistema porque a conexão elétrica ainda não chegou às regiões.

 

Preço baixo. O presidente da Cosan Açúcar e Álcool, Pedro Mizutani, ressalta, contudo, que o otimismo em relação à cogeração de energia a partir de biomassa pode ter vida curta se os preços pagos em leilões do governo não forem reajustados. "No último leilão, o preço ficou em R$ 135 por MW, o que torna a produção inviável. Por isso não vendemos energia neste leilão", disse. Segundo ele, o preço de R$ 165 seria suficiente para cobrir os custos do setor.

 

Mizutani afirma que, embora a cogeração de energia seja importante na estratégia da Cosan, a empresa não deverá realizar novos investimentos nesta área se os preços continuarem baixos. "Vamos completar o ciclo de investimentos nas usinas que já venderam energia nos leilões. Desta forma, hoje temos 10 usinas com cogeração, em 2011 teremos 11 e em 2012 serão 12", disse.

 

A partir de 2012, a empresa espera obter uma receita de R$ 450 milhões por ano com a energia que será colocada no mercado. Além da venda em leilões, a Cosan também comercializa energia diretamente com algumas empresas, como CPFL, AES e Grupo Rede.

 

Projetos de alcooldutos em São Paulo serão unificados

 

A Petrobrás anunciou a unificação dos três projetos de alcooldutos que existiam em São Paulo. A empresa aprovou ontem a assinatura de um termo de compromisso de associação com a Camargo Correa Óleo e Gás, Copersucar, Cosan Indústria e Comércio, Odebrecht Transport Participações (OTP) e Uniduto Logística. O projeto deve receber investimentos de até R$ 6 bilhões.

 

Segundo o comunicado da estatal, o objetivo é "estabelecer uma associação, em caráter vinculante e exclusivo, em uma única empresa, na forma de uma sociedade anônima de capital autorizado, da qual todas as empresas serão acionistas, para o desenvolvimento, construção e operação de um sistema logístico multimodal para transporte e armazenagem de líquidos, com ênfase em etanol".

 

O capital social da companhia será, inicialmente, de R$ 100 milhões, composto exclusivamente por ações ordinárias.

 

A Petrobrás terá 20%; Cosan, 20%; OTP, 20%; Copersucar, 20%; Camargo Corrêa,10%; e Uniduto, 10%.

 

Segundo fonte do mercado, dos projetos dos três dutos que serão unidos em um único alcoolduto, apenas o trecho que se estende de Ribeirão Preto até Paulínia, no interior de São Paulo, está efetivamente aprovado. O restante da malha será novamente rediscutida, buscando-se a melhor eficiência dos três projetos originais.

 


Veículo: O Estado de S.Paulo


Veja também

A ameaça da inflação

A presidente eleita, Dilma Rousseff, está arriscada a tomar posse, em 1.º de janeiro, num ambiente de infla&...

Veja mais
Câmbio ajuda varejo a registrar venda recorde

Estabilidade nos preços, aumento da renda e do emprego mantêm o comércio aquecido   As vendas...

Veja mais
Baixa renda sofre com alta nos alimentos

Se por um lado os consumidores estão confiantes na economia e existe maior facilidade para as compras, principalm...

Veja mais
Lula joga solução da "guerra" para pós-G20

Presidente diz que líderes farão debate político sobre câmbio, mas parte técnica s&oac...

Veja mais
Cresce procura por capital de giro

Cenário de vendas anima as empresas a pegarem mais financiamentos   A crença em Papai-Noel parece s...

Veja mais
Inflação começa a cair apenas em janeiro, prevê FGV

A alimentação e o setor agrícola vão ser decisivos para definir a taxa de inflaç&atil...

Veja mais
Preços de alimentos pressionam meta anual de inflação

Consumo aquecido, chuva no Brasil e seca no exterior aumentaram custos da comida   Consumo aquecido, clima desfav...

Veja mais
Classes C e D já somam um mercado de mais de R$ 800 bilhões

Com renda estimada em R$ 834 bilhões para este ano, os consumidores que fazem parte do perfil das classes C e D p...

Veja mais
Inflação dos alimentos ganha fôlego

Originada no mercado externo e amplificada pela entressafra doméstica dos grãos, a tendência de alta...

Veja mais