Efeitos dos preços dos alimentos

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Há um novo recorde à vista para as exportações brasileiras do agronegócio. O valor poderá alcançar ou até ultrapassar US$ 85 bilhões, segundo o ministro da Agricultura, Wagner Rossi. Ele tem motivos para estar otimista. A receita do ano passado, US$ 76,4 bilhões, a maior da história, foi 18% maior que a de 2009. Bastará um aumento de pouco mais de 11% para a nova aposta dar certo. As projeções internacionais indicam mais um ano de oferta apertada e preços altos - boa notícia para os exportadores, mas um prenúncio de fortes pressões sobre o custo de vida, principalmente dos pobres.

 

O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos divulgou na quarta-feira suas estimativas de produção, consumo e estoques. Se estiverem certas, a temporada 2010/2011 será encerrada com estoques de trigo, milho e soja menores que os do ano-safra anterior. As cotações imediatamente subiram e as de milho e soja chegaram ao nível mais alto em 30 meses.

 

O risco para os países pobres e dependentes de importação de alimentos é de um novo choque de preços. A última experiência desse tipo é muito recente. Em 2007 e 2008 a fome se alastrou em vários países da África e do Sul da Ásia, quando as cotações internacionais dispararam, depois de quebras de safra em grandes países produtores.

 

Quando a crise financeira se agravou e se alastrou, no segundo semestre de 2008, o FMI já estava empenhado em operações de socorro aos países mais afetados pelo choque de preços de alimentos. Em vários desses países, as famílias pobres não tinham dinheiro suficiente para pagar pelo mínimo indispensável à sobrevivência.

 

A FAO vem alertando há algum tempo para o risco de um novo choque no mercado internacional. O Banco Mundial, em seu novo relatório sobre Perspectivas Econômicas Globais, divulgado na quarta, chamou a atenção para o risco de uma nova alta de preços dos produtos agrícolas. Se isso ocorrer - e os novos dados parecem confirmar essa hipótese -, as populações pobres sofrerão de novo um impacto muito forte.

 

Diante do perigo renovado, o presidente das Filipinas, Benigno Aquino, anunciou um plano de redução das tarifas de importação para reduzir o efeito da alta de preços. A notícia, divulgada na quinta-feira, foi a primeira informação sobre a reação de um governo diante da nova ameaça ao abastecimento.

 

Grandes países produtores de trigo, soja e milho enfrentaram graves problemas nos últimos meses. Seca e incêndios comprometeram lavouras de trigo na Rússia. Inundações têm devastado os campos na Austrália, enquanto a seca prejudica plantações na Argentina e em partes do Rio Grande do Sul.

 

Enquanto isso, os maiores consumidores continuam demandando volumes crescentes de alimentos. Na China, o Centro de Informações de Óleos e Grãos divulgou a nova previsão das importações de soja na temporada 2010-2011, iniciada em outubro: 54 milhões de toneladas, cerca de 7% mais que no ano anterior.

 

Mesmo com alguma desaceleração do crescimento, a economia chinesa continuará sendo a mais dinâmica do mundo e consumindo enormes volumes de matérias-primas - incluídos, naturalmente, os produtos agrícolas. A demanda de outros emergentes também deverá continuar pressionando o mercado.

 

Para o Brasil, a perspectiva de preços altos para soja, milho e outros produtos, como o café, atenua as preocupações com um balanço de pagamentos em deterioração. Em 2010, o saldo comercial do agronegócio, US$ 63 bilhões, foi o triplo do superávit geral da balança de comércio (mais que compensou, portanto, o déficit de outros setores).

 

No Brasil, a oferta geral de alimentos tem sido - e será de novo em 2011 - bem mais que suficiente para o suprimento interno e para a exportação. Mas o encarecimento da comida foi no ano passado o principal fator de elevação dos índices de custo de vida. As condições internacionais justificam, portanto, preocupação quanto ao avanço dos índices em 2011. A boa notícia, por enquanto, é o recuo dos preços do feijão e da arroba do boi.

 

Veículo: O Estado de S.Paulo


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